Mudanças climáticas: entrevista com Suzana Kahn

O fato de o Brasil apresentar metas concretas na COP-15 permite que o país exija uma contrapartida dos países ricos. É o que afirma Suzana Kahn, secretária de mudança climática e qualidade ambiental do Ministério do Meio Ambiente. Nesta entrevista, ela fala sobre as expectativas para a COP-15, inovação tecnológica e o que o Rio pode fazer para diminuir suas emissões, dentre outros.

O Brasil quebrou o círculo vicioso de países desenvolvidos e emergentes empurrando uns para os outros a responsabilidade de combater a mudança climática. Quem diz é Suzana Kahn, secretária de mudança climática e qualidade ambiental do Ministério do Meio Ambiente. Para ela, o fato de o Brasil apresentar metas concretas na COP-15 permite que o país exija uma contrapartida dos países ricos. Nesta entrevista, ela fala das expectativas para a COP-15, os planos para combater o desmatamento e a importância da inovação tecnológica no combate às emissões de carbono.

Quais são as expectativas pra Copenhague?

Nossa expectativa é que o acordo seja possível, até porque o Brasil tomou um passo muito importante ao apresentar uma oferta substancial. O que havia até o momento era um círculo vicioso em que os países desenvolvidos usavam o argumento de que os emergentes não estavam se engajando, usando isso para se eximir de fornecer financiamentos. Quando nós apresentamos uma proposta concreta - e nós fomos o únicos a fazê-lo em detalhes, tanto no setor agrícola como no de energia - fazemos que eles fiquem constrangidos, o que nos coloca numa posição de poder apresentar exigências. Esperamos que, mesmo que o acordo não tenha números e detalhes, haja um arcabouço definido e uma estrutura legal.

O fato de os Estados Unidos terem anunciado que não vão apresentar medidas concretas afeta a possibilidade de um acordo?

Sem dúvida afeta. A presença dos EUA é fundamental, já que a cada ação tomada por eles tem uma contrapartida chinesa, e os dois são os grandes emissores mundiais de gases estufa. Entretanto, é como eu estava falando antes: mesmo sem o número preciso, eles podem apresentar as metas e dizer qual estrutura será usada para alcançá-as. A questão da arquitetura financeira, por exemplo, qual será? Qual é o ambiente em que nós iremos registrar as nossas ações? De que formas as metas americanas estariam vinculadas a tudo isso?

O que o Brasil pretende apresentar em termos de desmatamento?

Nossas metas são até bastante ousadas, tanto pra Amazônia como para o cerrado. É bom lembrar que não há nenhum comprometimento da economia, porque as metas prevêem que haja uma alternativa de desenvolvimento para aquelas regiões. Não é necessário que haja desmatamento para haver desenvolvimento. Precisamos é ter uma economia da floresta, em que as pessoas tenham alternativas de trabalho e a floresta seja rentável, o que inclui o pagamento por serviços ambientais. No caso do cerrado, que é onde está a produção agrícola nacional, verificamos que a agricultura brasileira ainda tem o que crescer, mas precisa melhorar em termos de produtividade, diminuindo o desmatamento.

Como o Brasil e outros países emergentes podem garantir seu desenvolvimento, resolvendo seus problemas sociais, sem repetir o padrão de crescimento dos desenvolvidos?

É verdade, os países emergentes precisam crescer. Para não repetir o padrão poluidor, podemos agir em várias frentes. Uma delas é o fomento a tecnologias mais modernas, de forma a termos indústrias produzindo mais e gerando menos emissões. Outra forma de descolar o crescimento das emissões de carbono é a tão falada contrapartida financeira, recursos investidos pelos países desenvolvidos nos em desenvolvimento para garantir a diminuição das emissões. Precisamos buscar as melhores práticas.

Como os interesses econômicos do Rio, maior produtor brasileiro de petróleo, podem se alinhar com as metas de sustentabilidade?

Quando falamos desses acordos internacionais, quem participa é o Estado brasileiro. O Rio de Janeiro não entra nas negociações, mas vai poder buscar as práticas mais adequadas às suas características. Nesse sentido, as estratégias adotadas pelo Rio não podem ser as mesmas adotadas por outros estados, que tem outras características. Cada um contribui de acordo com suas particularidades. Aqui, faz sentido fomentar transportes mais eficientes, já que o estado do Rio é extremamente urbanizado e o setor tem um nível elevado de emissões de carbono. Podemos buscar transportes mais eficientes, pq ´[e um estado extremamente urbanizado, um nível de emissão elevado.

É possível combater a recessão econômica levando em conta metas de sustentabilidade?

Acho que sim, porque a crise econômica nos dá tempo para mudar o rumo da coisa. Você tem tempo de ser organizar para crescer de forma diferente. È como se tivéssemos dado uma desacelerada para pensar e mudar de rumo.

Como assumir metas pode contribuir pra imagem brasileira no exterior?

Essa questão de meta é curiosa, porque a meta de que falamos é diferente da assumida pelos desenvolvidos, que têm metas absolutas. As nossas seriam objetivos voluntários, de forma que o Brasil não seria penalizado caso não as cumprisse. O Brasil vai mudar seu padrão de emissões. Com isso, o Brasil fica bem no cenário internacional, por tem quebrado o círculo vicioso, tem acabado com aquele debate sobre o ovo ou a galinha.

Qual o papel da tecnologia no combate à mudança climática?

A inovação tecnológica é fundamental nos manter competitivos não só na produção industrial, mas também no setor agrícola. Para produzirmos mais sem precisar de mais área, a tecnologia é crucial. Cabe ao poder publico criar um ambiente favorável ao surgimento da inovação, permitindo o crescimento e a renda gerada com propriedade intelectual.