Pérsio Jordani: Energia nuclear e meio ambiente

A energia nuclear, junto à hidrelétrica, é a melhor escolha para atender à demanda mundial crescente por energia sem emitir gases estufa. É o que defende Pérsio Jordani, diretor de Planejamento, Gestão e Meio Ambiente da Eletronuclear, que neste artigo traça um panorama sobre o setor e fala sobre como os riscos de acidente diminuíram com a modernização das usinas.

Pérsio Jordani*

A redução das emissões de gases do efeito estufa (GEE), principais causadores da mudança global do clima, é um dos desafios mais importantes do século XXI. Em termos globais, a próxima reunião para discussão das ações de mitigação a serem tomadas é a 15ª Conferência das Partes na Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP-15), a realizar-se em Copenhague, Dinamarca, entre 7 e 18 de dezembro próximo.

Para subsidiar o posicionamento do governo brasileiro nas negociações da COP-15, diversas federações e associações setoriais da indústria nacional se pronunciaram. Dentre estas, o Fórum de Meio Ambiente do Setor Elétrico que, em relação à complementação termelétrica, indispensável para a segurança energética, sublinhou o uso da fonte nuclear, não emissora, como alternativa para minimizar as emissões.

A expectativa de expressivo aumento do consumo mundial de energia, especialmente de energia elétrica, as preocupações crescentes com a segurança energética e as pressões relativas às emissões de gases do efeito estufa, vem recolocando a opção nuclear na agenda dos fóruns mundiais de energia e de vários países, desenvolvidos e em desenvolvimento. Segundo dados recentes da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), atualmente 14 países estão construindo 45 novos reatores, com uma capacidade total de 40 GW.

No Brasil, estudos de planejamento setorial, o Plano Nacional de Energia (PNE 2030) e o Plano Decenal de Energia (PDE 2016), indicam um crescimento da expansão termelétrica, decorrente da impossibilidade de atender ao crescimento da demanda somente com o potencial hidrelétrico remanescente. Nesse cenário, a energia nuclear estabelece importante papel, com uma indicação de crescimento do parque nuclear, inicialmente com a conclusão de Angra 3, prevista para final de 2014, com 1,4 GW e a previsão de construção de novas centrais nucleares, aportando de 4 a 6 GW até 2030.

A percepção de que, à exceção da hidroeletricidade, a energia nuclear é a única fonte capaz de gerar energia elétrica em grandes blocos, praticamente sem emitir gases do efeito estufa, fez com que a tecnologia nuclear, durante muito tempo vista como questionável, estivesse novamente em expansão. Cientistas e ambientalistas como o canadense Patrick Moore, um dos fundadores do Greenpeace, e o inglês James Lovelock, autor da "Hipótese Gaia", hoje defendem incondicionalmente a sua utilização. A opinião pública também está mudando. Como exemplo, podemos citar países como Suécia e Alemanha, que estão gradualmente abandonando os planos de desativação das suas usinas nucleares e a Itália - onde um plebiscito na década de 80 havia banido a operação de usinas - que está voltando a planejar sua construção.

Apesar de a energia nuclear ser uma fonte "limpa" sob o ponto de vista das emissões, seus opositores apontam os acidentes e o armazenamento dos rejeitos radioativos como "calcanhar de Aquiles". Para minimizar o risco de acidentes, a indústria nuclear mundial investiu fortemente na modernização dos reatores mais antigos, inclusive desligando algumas usinas, principalmente no leste europeu. A maior parte dos reatores hoje em construção pertence a uma nova geração, intrinsecamente mais segura.

Nas duas últimas décadas, amplos progressos foram feitos também no desenvolvimento tecnológico de soluções para o armazenamento seguro e a disposição final dos rejeitos radioativos. Os procedimentos para armazenamento temporário em locais próximos às instalações, tanto dos rejeitos de baixa ou média atividade, quanto do combustível irradiado, de alta atividade, encontram-se satisfatoriamente equacionados e a disposição final, em repositórios geológicos profundos, parece ser a melhor solução disponível no momento para o armazenamento a longo prazo.

Hoje muitos universitários, políticos e vários grupos interessados têm visitado as Centrais nucleares em Angra dos Reis, formando novo conceito sobre esse tipo de geração de energia. Estados brasileiros que outrora não queriam falar sobre o assunto hoje disputam entre si a condição de abrigar uma planta nuclear.

As mudanças climáticas deixaram de ser um assunto para ambientalistas e se tornaram uma questão política e econômica. Um mundo cada vez mais rico está, paradoxalmente, diante do desafio da escassez. Governos, empresas e sociedade - juntos - terão de lidar com ele. Já.

*Pérsio Jordani é Diretor de Planejamento, Gestão, Meio Ambiente e Informática da Eletronuclear