Livro retrata economia do carnaval: leia entrevista com autor

O trabalho das bordadeiras de Barra Mansa, que fazem bordados para o carnaval, responde por 4,2% do PIB do município. Este e outros dados estão na pesquisa Cadeia Produtiva do Carnaval, do professor Luiz Carlos Prestes Filho. Nesta entrevista, Prestes fala sobre a pesquisa e o que deve ser feito para aproveitar os benefícios do evento.

O carnaval carioca movimenta um bilhão de dólares por ano, o que equivale à venda anual da rede de lojas Renner. Foi para analisar os impactos econômicos do evento que o Núcleo de Estudos de Economia da Cultura, sob orientação do professor Luiz Carlos Prestes Filho, realizou a pesquisa Cadeia Produtiva da Economia do Carnaval. O livro com os resultados do estudo será lançado nesta quinta-feira (05/11), no Centro de Referência do Artesanato Brasileiro, que fica na Praça Tiradentes, na cidade do Rio, às 19h. O livro conta com 272 páginas coloridas, ilustradas com gráficos, mapas fluxogramas e tabelas. Nesta entrevista, Prestes fala de como a pesquisa foi conduzida e o que precisa ser melhorado para que o Rio possa se beneficiar dessa cadeia produtiva.


Como surgiu a ideia do livro?

È importante lembrar que, no Núcleo de Estudos de Economia da Cultura, nós já realizamos trabalhos sobre economia da cultura há dez anos. Temos um estudo entre os anos de 1999 e 2002 sobre a contribuição da cultura para a formação do PIB do rio, por exemplo. Sobre de 2002 a 2005, temos outro sobre a cadeia produtiva da música. Foi natural fazer um trabalho sobre um dos maiores produtos culturais do estado, que é genuinamente brasileiro. Quando analisamos o cenário de grandes eventos em todo o mundo, o Rio se insere com grande destaque, já que poucos países têm eventos com impacto econômico tão grande. Pensar em uma vocação econômica é pensar sobre nosso desenvolvimento.

Como foi feita a pesquisa?

Como coordenador-geral da pesquisa, tive a honra de coordenar um grupo multidisciplinar, que incluiu economistas, tributaristas, sociólogos e estudiosos de mídia, dentre outros profissionais. Com isso, conseguimos olhar o carnaval de vários ângulos. Tínhamos um fio condutor que era observar o fluxo econômico do evento, ou seja: saber como ele é produzido, distribuído, comercializado e consumido - os quatro macro-elos de qualquer cadeia produtiva. Olhamos esse fluxo através de uma visão de política tributaria, de desempenho econômico, gestão de direitos autorais, de gestão de marcas e patentes, dentre outros. Conseguimos mostrar como esse fluxo funciona, provando que, antes de mais nada, não é possível ter uma leitura empresarial das escolas de samba. As escolas não são empresas e sim prestadoras de serviço de entretenimento. A cadeia do carnaval, que já movimenta um bilhão de dólares, é uma cadeia de serviços. Temos poucos estudos sobre esse tipo de cadeia.

Que dados interessantes o senhor apontaria?

Bem, nós levantamos dados específicos do Ministério do Trabalho, da RioTur e de outros bancos de dado. Mas alguns dados foram levantados por nós. Fizemos, por exemplo, pesquisas específicas com as mais de 50 escolas do grupo de acesso e com as bordadeiras de Barra Mansa. Elas produzem 39 milhões de peças de bordado por ano, injetando R$ 53 milhões na economia do estado e respondendo 4,2% do PIB do município.

Por que é importante estudar o assunto?

O Rio é sempre lembrado por conta do pré-sal. O petróleo é importante? É. Mas é importante pensar o estado em termos de vocações econômicas, e a economia da cultura é uma vocação da cidade do Rio, por exemplo. Não podemos deixar essa economia de lado. Esta cidade é o berço do samba. Este produto tem que se valorizado. Estudar a economia da cultura tem a ver com o processo de valorização desses bens. Esta cadeia movimenta setores como o de espetáculos, a do setor audiovisual, a rede hoteleira, o setor de alimentos, dentre outros.

O senhor considera que o Rio é a capital cultural do país ou a cidade já perdeu o status para São Paulo, como muitos afirmam?

O Rio de Janeiro ainda é o maior centro cientifico e tecnológico do Brasil. A maior concentração de universidades. Isso demonstra a nossa vocação nesse ramo. Quando falamos de economia da cultura, concordo que São Paulo é um estado rico nesse sentido, mas onde está a fábrica de imagens do Brasil? Está aqui, onde, para começar, temos o Projac. Agora teremos a nova fábrica de imagens da TV Record, que tinha tudo para ir para São Paulo. Para completar, temos também o pólo de cine e vídeo. Estas três estruturas formam a maior plataforma de produção de imagens da America latina. Temos ainda as principais empresas da indústria fonográfica: Sony MBG. Warner, EMI, Biscoito Fino. Temos ainda as maiores editoras de livros, caso da Record, da Rocco, da Nova Fronteira e da Ediouro. Em qualquer lugar do Brasil em que você consumir cultura, vai ter uma empresa do Rio de Janeiro vendendo seus produtos culturais.

O que pode ser feito para movimentar essa cadeia mais ainda?

Um dos principais pontos é trabalhar o desfile das escolas de samba do grupo de acesso, que tem potencial para se tornar um grande carnaval popular. Imagina se ali na Estrada Intendente Magalhães, onde acontece o desfile, são construídos 40 barracões.

Penso que é muito importante destacar a importância das ações dos governos municipal e estadual, que já fazem um trabalho importante. Se o carnaval carioca é da forma como o conhecemos, é porque governo e prefeitura o reconhecem como principal evento da cidade. Na época do evento, tudo funciona de um jeito diferente. As polícias, os hospitais, a secretaria de transportes - estas entidades ficam em prontidão, quase como se estivéssemos em guerra. Como a cidade poderia ter um carnaval sem a Comlurb?

O que falta é articular os agentes econômicos que mais se beneficiam do carnaval - o que envolve os setores hoteleiro, musical, alimentício e musical, dentre outros - para que eles atendam o evento de forma mais generosa. Eles não fazem nada, eles não têm articulação entre si, cada um realiza sua atividade empresarial de forma isolada. É importante que a Firjan, a Fecomercio e a ACRJ implantem uma agenda de ações relativas ao carnaval. O desfile das escolas do grupo de acesso, por exemplo, tem tudo para ser um grande carnaval popular, um carnaval à moda antiga, espontâneo, apesar de não receber atenção da mídia. Imagina se constroem 40 barracões ali na Estrada Intendente de Magalhães. Valorizar esse desfila faria com que o carnaval não fosse mais refém da zona sul. É importante urbanizar a área, que a Light ilumine melhor a região. É importante ter políticas de turismo, levar os turistas para lá também.


Serviço:

Lançamento do livro Cadeia Produtiva da Economia do Carnaval
Data: 5 de novembro
Horário: 19h
Local: Centro de Referência do Artesanato Brasileiro - Praça Tiradentes, 71, Centro, Rio de Janeiro/RJ