Rio pode ser vitrine de energia solar: entrevista com Andreas Nieters

O Brasil tem vantagens em relação a outros países em termos de potencial para produzir energia solar. É o que defende Andreas Nieters, da Agência Alemã de Cooperação Técnica, que falou sobre o assunto no encerramento do 11° Seminário de Eficiência Energética, promovido pelo Sebrae-RJ.

O Brasil tem amplo potencial para desenvolver a energia solar e pode a Copa do Mundo como motivo para investir no setor. Quem diz isso é Andreas Nieters, coordenador do Programa de Eficiência Energética da Agência de Cooperação Técnica Alemã (GTZ, na sigla em alemão), organização dedicada a fomentar a cooperação bilateral entre os dois países.

Por que a energia solar é uma alternativa interessante para o Brasil?

Mesmo que haja algum nível de nebulosidade, o Brasil é um país muito favorecido em termos de radiação solar. O índice de radiação solar é vantajoso para programas que incluem tanto uso industrial como domiciliar.

Quais seriam os custos?

Hoje, podemos considerar a energia solar até cara demais para ser difundida amplamente. Mas é preciso começar a incentivar novas tecnologias em algum momento, como fez a Alemanha com sua lei de incentivo. O estímulo à produção nacional ajuda a baixar os custos da tecnologia. A Alemanha conseguiu uma redução de custos de 40% entre 1990 e 2008 na produção de células fotovoltaicas. Este é um indicador que prova as vantagens de investir na indústria nacional, que também ajuda a aumentar a qualidade do produto. A idéia é aumentar a oferta para diminuir o preço.

É uma boa opção para pequenos e médios empresários também? Por quê?

Sim. No caso da energia solar, temos varias formas de utilizá-la. Você pode gerar eletricidade, mas ela também pode ser usada na produção de vapor ou água quente (o que é interessante para lavanderias e fabricas de tecido). Temos ampla possibilidade de uso em termos industriais. Só é preciso criar sistemas entre a placa solar e o sistema interno da indústria, mas essa tecnologia já existe e está disponível.

Como isso pode ajudar a fomentar inovação tecnológica?

A Alemanha fez essa experiência na indústria automobilista depois de perceber que outros países conseguiam produzir carros mais baratos, o que tinha uma relação com o desemprego na indústria alemã de carros. O Governo teve que reagir e por isso criou o Programa de Incentivo a Novas Energias. O sucesso da iniciativa foi tão grande que o setor de energia solar já é um dos principais na Alemanha, gerando emprego e renda, compensando a perda em outros segmentos. Houve uma renovação do parque fabril em termos de inovação tecnológica, o que criou novos postos de trabalho.

Como funciona a parceria da GTZ junto à Caixa Econômica?

Por encargo do MInistério do Meio Ambiente da Alemanha, temos uma verba para apoiar a disseminação de aquecedores solares em várias áreas do Brasil. Como parte dessa iniciativa, temos um projeto junto a Caixa no programa "Minha Casa, Minha Vida". Nesse aspecto, a Caixa oferece os recursos para financiar aquecedores solares e nós entramos com a capacitação e treinamento de técnicos do banco e de setores de construção civil. Nossa assessoria técnica ajuda a aumentar a disseminação desses sistemas e a Caixa é um dos nossos principais parceiros.

Quais são os projetos que estão em andamento no Rio?

Temos três linhas de ação no Rio. Há um projeto-piloto na Mangueira, atrás do Maracanã, onde temos um conjunto habitacional em que instalamos aquecedores solares para chamar atenção para a tecnologia. Outra linha é a parceria com o Governo do Estado. Temos uma solicitação de apoiar a construção de delegacias legais com aquecimento solar, projeto em que nós entraríamos com a capacitação dos técnicos. A terceira linha de ação é com a Secretaria Municipal de Habitação, com outro programa de treinamento e capacitação.

Dá tempo de agir até a Copa do Mundo?

Dá tempo. Pelo que sei, a fase de planejamento dos novos estádios está começando agora. Inserir conceitos de eficiência energética nessa fase é possível, o que pode criar visibilidade para a Copa. É possível criar usinas de geração de energia junto aos estádios, o que é fácil de fazer. Basta colocar células fotovoltaicas nos telhados dos estádios - só é preciso criar um sistema de financiamento para isso. Estamos em parceria com a Secretaria do Esporte, para mostrar que é possível ter sistemas de energia renováveis até a Copa.