Boas ideias em turismo: entrevista com João Baptista

Unir passeio turístico e aulas de história e geografia é a ideia do projeto Roteiros Geográficos do Rio, projeto idealizado pelo professor de Geografia da UERJ, João Baptista Ferreira de Mello. Nesta entrevista, ele fala sobre como funcionam os passeios, quais os roteiros e o perfil das pessoas que os frequentam.

Um passeio ao ar livre que é também uma aula de história e de geografia sobre a nossa cidade. Assim o projeto Roteiros Geográficos do Rio é definido por seu idealizador, o professor de geografia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), João Baptista Ferreira de Mello. As caminhadas, sempre gratuitas, que acontecem há oito anos, ganharam espaço na imprensa e têm tido boa resposta por parte do público.

Uma iniciativa do Departamento de Geografia da UERJ, o projeto é aberto a todos os interessados, e as inscrições devem ser feitas pelo email Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo..

Conversamos com o prof. João Baptista sobre os roteiros, os tesouros históricos do Rio de Janeiro, o espaço urbano do Centro Colonial etc.

Como surgiu a idéia de fazer roteiros históricos e turísticos a pé?

Surgiu a partir daquilo que, em geografia, chamamos de trabalhos de campo. Eu fazia esses trabalhos de campo com alunos do Instituto de Geografia da UERJ quando me veio a ideia de fazer esses roteiros a pé.

Como acontecem as caminhadas?

Trata-se na verdade de uma aula aberta. Os roteiros elucidam aspectos relevantes da geografia, da arquitetura, da história, da religiosidade, das artes, da cultura desta nossa "Sebastianópolis". As pessoas nos acompanham e descobrem coisas fascinantes sobre essa cidade maravilhosa que é São Sebastião do Rio de Janeiro.

E vocês oferecem mais de um roteiro?

Atualmente nós temos cinco roteiros na Área Central: o "(Re)conhecendo o Centro do Rio a Pé", que acontece aos domingos; o "(Re)conhecendo a Periferia do Centro do Rio a Pé", oferecido nos dias de semana; o "Ecos da Cultura na Cidade Nova e na Praça Onze dos Bambas", também durante a semana; o "Caminhando por Negras Geografias no Centro do Rio"; o "Roteiro Noturno no Centro do Rio a Pé". For a da Área Central, temos ainda o "Descortinando as Geografias do Catete, Flamengo e Glória". O roteiro noturno é atualmente aquele com maior demanda. Ocorre, geralmente, às quintas-feiras, iniciando o seu percurso sob as luzes da Catedral Presbiteriana e finalizando por volta da meia-noite em meio à efervescência da velha Lapa da boêmia.

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O Rio de Janeiro é uma cidade interessante para se conhecer em caminhadas? Ela é amigável para o transeunte?

Trata-se da mais bela, exuberante e dadivosa cidade do mundo. As diversas temporalidades cristalizadas nos lugares do Rio convidam a todos para caminhadas de (re)descobertas na urbe carioca, em que pode ser vislumbrado o diálogo do Rio Colonial com a Cidade Maravilhosa. São geografias sedutoras que carregam simbologias, centralidades e acúmulo de experiências da Colônia, passando pelo Reino, a República até a atualidade.

Qual o perfil das pessoas que aparecem nos roteiros geográficos?

Temos cariocas, turistas brasileiros e estrangeiros. São pessoas de todas as idades, profissões e assim por diante.

É preciso ter algum tipo de preparo físico pra fazer essas caminhadas? As pessoas terminam fisicamente cansadas?

O homem é um animal bípede, e portanto precisa caminhar. Além disso, com as aulas, histórias, contos e "causos" que nós contamos, as pessoas nem sentem caminhada, os roteiros acontecem sem maiores reclamações. As pessoas já vão avisadas do tempo que passarão tendo a aula aberta e quais espaços vão percorrer.

Os cariocas conhecem bem a cidade em que vivem, sua importância histórica etc.? É curioso que muitas vezes as pessoas trabalham no Centro, passam diariamente por locais de imensa importância histórica e nem se dão conta...

Há aspectos da cidade de total desconhecimento da maioria das pessoas. Metamorfoses como o arrasamento do morro do Senado ou o aterro da enseada da Gamboa ou da Cidade Nova costumam surpreender a todos. Os mistérios dos meandros do Rio são desvendados e repassados. Chamam atenção alguns endereços pretéritos, como os da irmãs Cármen e Aurora Miranda. Becos estreitos, largas avenidas, torres antigas e modernas towers também são destaque durante os percursos.

Em algumas cidades históricas, como Tiradentes ou Parati, não é permitida a circulação de carros pelos centros de preservação. Alguns especialistas defendem que pelo menos a circulação de veículos pesados seja desviada de avenidas como a Rio Branco. O que o senhor acha disso?

A avenida Rio Branco tem alguns testemunhos geográficos. São eles: o Theatro Municipal, o Museu Nacional de Belas Artes, a Biblioteca Nacional, entre outros. Ainda assim, penso que a avenida Rio Branco pode, perfeitamente, suportar a carga do trânsito diário, na medida em que não temos ali edificações de alguns séculos.

Você pode citar alguns exemplos de tesouros históricos incrustados no coração da cidade e desconhecidos do público?

As preciosidades geográficas são de toda ordem. O Real Gabinete Português de Leitura é uma relíquia escondida na periferia da Área Central. Muitos pensam ser uma igreja e até fazem sinal da cruz em frente ao prédio. No plano religioso, o templo do Mosteiro de São Bento, no alto de uma elevação, nunca foi visitado pela maioria dos participantes dos roteiros. Um éden, em pleno centro da cidade, como o Campo de Santana ou o bondinho de Santa Teresa, despertam atenção, tendo em vista que poucos percorrem estes aprazíveis pontos da cidade. Na calada da noite, o Quarteirão Cultural dos sobrados de iluminação mutante da rua do Lavradio ou os delírios do território da DASPU ou da escadaria Selaron deslumbram a todos. Nestas condições, vale dizer, o projeto objetiva, entre outras metas, traduzir a geografia de uma cidade esplendorosa e elevar a autoestima do carioca em relação ao seu próprio lar, o lugar em que vive. Ou seja, a grife Rio é transmitida naquilo que pode ser objeto de orgulho de seus moradores e turistas que, igualmente, prestigiam as iniciativas do projeto Roteiros Geográficos do Rio.

Vocês têm recebido bastante espaço na imprensa...

Sim, de fato. Entre os jornais, fomos matéria com chamada na capa do Globo, do Jornal do Brasil e também do Diário Oficial do Estado do Rio. Também tivermos nots ou matérias em O Povo do Rio, O Dia, o Extra e o Jornal do Commércio. Na televisão, fomos pauta no RJTV, no Bom Dia Rio, no Jornal da Globo e no Notícias do Rio, da TV Brasil. Temos uma mala direta com cinco mil inscrições. Quando o Jornal da Globo e o G1 noticiaram, recebemos quase 500 emails. Isso tem sido importante para a boa receptividade por parte do público.