Boas idéias em sustentabilidade: Entrevista com Fernando Almeida

É possível conciliar sustentabilidade e desenvolvimento econômico. É o que defende Fernando Almeida, presidente executivo do CEBDS, em seu novo livro "Experiências empresariais em sustentabilidade - avanços, dificuldades e motivação dos gestores e empresas". Nesta entrevista ele fala, dentre outros assuntos, como o Rio pode sobreviver a uma economia pós-carbono.

Ao contrário do argumento fácil de que o desenvolvimento é prejudicado pelas iniciativas verdes, a sustentabilidade é rentável para empresas. Quem afirma é Fernando Almeida, presidente executivo do Conselho Empresarial Brasileiro de Desenvolvimento Sustentável (CEBDS). Em seu novo livro, "Experiências empresariais em sustentabilidade - avanços, dificuldades e motivação dos gestores e empresas", cujo prefácio foi escrito pelo diretor-executivo do Programa das Nações Unidas para Meio Ambiente (PNUMA), Achim Steiner, ele apresenta a experiência de 14 empresas que estão investindo em iniciativas sustentáveis e lucrando com isso. Nesta entrevista, ele fala sobre como o estado, maior produtor brasileiro de petróleo, pode sobreviver em uma economia pós-carbono e como conciliar o combate à crise econômica internacional e o desenvolvimento sustentável.

É possível conciliar o combate à crise econômica mundial e iniciativas sustentáveis?

O livro prova que sim. Nele, mostro empresas que já estão seguindo o caminho da sustentabilidade. Isso inclui o conceito de ecoeficiência, que significa fazer mais com menos. Significa buscar, por exemplo, formas de produzirmos a camisa que vestimos usando menos matéria-prima e energia. Isso prova que, antes de tudo, sustentabilidade é um investimento.

Como surgiu a idéia do livro?

Bem, o livro faz parte de uma trilogia. O primeiro deles, "O Bom Negócio da Sustentabilidade", foi lançado em 2002 durante as discussões da Rio + 10, realizada em Johannesburgo, na África do Sul. O segundo, chamado "Os Desafios da Sustentabilidade", foi lançado em 2007 e ganhou o Prêmio Jabuti. A novidade do último livro é que desta vez eu me dirijo aos operadores, às empresas, falo sobre a transição para a economia verde e dou exemplos. È importante lembrar que ainda não existe uma única empresa totalmente sustentável. Esses exemplos são de empresas que estão no caminho para isso. 

O que as empresas brasileiras já estão fazendo nesse sentido? O senhor destacaria um exemplo?

O interessante do livro é que ele não fala só de casos de sucesso, mas dos obstáculos, dos entraves. Temos o caso do acidente da Petrobras na Baía de Guanabara, que foi um marco e mudou a postura da empresa. Temos também o caso do enxofre no diesel, amplamente discutido pela sociedade por meio da mídia. Há ainda o caso da Alcoa, que investiu um bilhão na cidade de Juruti, interior do Pará. Vários casos provam como os investimentos em sustentabilidade são benéficos.

Como o estado do Rio, maior produtor brasileiro de petróleo, pode sobreviver em uma economia pós-carbono?

Uma coisa já mudou: todas as empresas do setor de petróleo já se autodenominam empresas de energia e trabalham levando em conta o longo-prazo. Pensar no futuro é importante, quando o petróleo ou não existirá ou será inviável por conta da mudança climática. È importante para o estado do Rio pensar também no futuro. È preciso aproveitar o benefício gerado pelos royalties para investir em bens duráveis para a sociedade - cultura e educação, por exemplo -, para que ela continue a prosperar em uma era pós-petróleo.

É justo que economias emergentes como o Brasil arquem com um problema ambiental causado principalmente pelos países desenvolvidos?

Não acho que o Brasil investir em sustentabilidade seja prejudicial. Apesar de haver argumentos plausíveis de que historicamente os países em desenvolvimento não tenham contribuído para o problema da mudança climática, hoje o Brasil é um dos maiores emissores de CO2. É importante que o país aproveite o papel de liderança que ele desempenha na região para investir na causa. Além disso, as metas de corte nas emissões serão importantes para que os produtos brasileiros tenham acesso a mercados estrangeiros. Os países que investirem em tecnologias mais limpas não vão querer a concorrência desleal de produtos de países que não investem nesse tipo de iniciativa. São as chamadas barreiras não-tarifárias.

As economias emergentes dependem do crescimento para lidar com uma série de problemas sociais. Investir em iniciativas sustentáveis não é prejudicar o próprio desenvolvimento e, portanto, a resolução desses problemas?

Muito pelo contrário. O conceito de sustentabilidade envolve três elementos. Um é a preservação dos recursos naturais, outro o desenvolvimento econômico - o terceiro deles é a inclusão social, que passa pela realização de políticas públicas para resolver esses problemas. Ainda sobre desenvolvimento, é importante alertar que sustentabilidade não é um "ganha-ganha". No caminho até ela, há setores da economia que vão sobreviver e se adaptar e setores que não.