Boas ideias em energia renovável: Entrevista com Craig Smith

Craig Smith, é um dos principais executivos do Sandia National Laboratories, que fica no coração do Vale do Silício e é o maior laboratório de pesquisa operado pelo Departamento de Energia dos Estados Unidos. Smith visitou o Brasil nos dias 10 e 11 de setembro para ministrar um workshop no 12° REPICT, quando falou de inovação no setor de energias renováveis.

Craig Smith é o diretor comercial de licenciamento das tecnologias emergentes do Sandia National Laboratories — o maior laboratório de pesquisa no setor de energia operado pelo Departamento de Energia dos Estados Unidos -—, que fica no coração do Vale do Silício, região americana que reúne empresas de tecnologia de ponta e universidades tida como referência mundial em inovação tecnológica. Smith é especialista em energias renováveis, desenvolvimento de biocombustíveis e célula de hidrogênio. Para ele, a inovação tecnológica no setor de energias renováveis precisa de apoio, já que é um investimento de risco e pode não gerar lucros em curto prazo. De acordo com ele, fazer as mesmas exigências que se faz a empresas comuns por desestimular pesquisas de inovação. "Os pesquisadores da área precisam de tempo e flexibilidade", defende.

As fontes renováveis de energia são as mais vulneráveis aos impactos da mudança climática, que elas tentam combater. Se há mais secas, fica fácil perceber a energia hidroelétrica deixa de ser uma opção. Como resolver esse problema?

Você tem razão, várias das energias alternativas seriam afetadas pela mudança climática: a mudança dos ciclos de vento do planeta afetaria a geração de energia eólica, o aumento do efeito estufa afetaria a energia solar. Entretanto, isso não muda o fato de que continuar a usar combustíveis fósseis não melhora a situação em nada. Não está provado que as energias alternativas não seriam viáveis em um mundo com o dobro de emissões de carbono do que temos hoje. Isto não impediria, por exemplo, a produção de biocombustíveis ou o uso de hidrogênio (se conseguirmos deixá-lo menos volátil, podemos usá-lo na produção de baterias, o que só produziria água como dejeto).

O que o Estado pode fazer para combater as emissões de carbono?

O Governo americano não usou sua autoridade para determinar o controle da poluição, deixando a tarefa para os estados. Alguns deles resolveram não fazer nada, outros ter uma atitude agressiva de combate: a Califórnia, por exemplo, resolveu reduzir as emissões a nível estadual, de modo que, carros, fábricas e casas reduzissem seu nível de poluição. Entretanto, os meios para se fazer isso ainda não são previstos em lei. Uma opção seria a criação de um imposto: a indústria seria forçada a reduzir a poluição porque teria que pagar mais. Também podem ser feitos incentivos: se você reduz seu nível de poluição, receberia abatimentos fiscais. Mas tudo isso já está em curso, diretrizes e padrões para reduzir a poluição já foram determinados.

Você cita o problema da urbanização e a migração para as grandes cidades como gerador de problemas ambientais. Sabemos que a favelização tem um custo ambiental grande. Como resolver esse problema?

Os Estados Unidos também têm favelas em quase todas as grandes cidades. Em minha cidade, San Francisco, que é conhecida por seu belo céu, temos várias. Mesmo na capital, Washington, existem muitas. Também temos problemas em lidar com essa questão. Há um grande debate sobre socializar ou nacionalizar serviços sociais básicos, como saúde e educação - mas isso tem um custo para as pessoas que trabalham e pagam seus impostos. É um dilema enfrentado por países como Brasil, Estados Unidos ou Canadá: ajudar toda a população tem um custo que é pago por quem trabalha, mas, do contrário, corre-se o risco de ver uma nação dividida, onde os ricos são muito ricos e os pobres muito pobres. Infelizmente, não tenho uma resposta definitiva para essa pergunta.

As energias renováveis, como todos os processos de inovação tecnológica, são um investimento de risco e não trazem lucro a curto prazo. Como é possível fomentar a inovação levando em conta esse problema?

As energias renováveis não vão gerar uma grande receita, por isso precisamos de investimentos a longo prazo. Estes investimentos devem sair dos lucros das empresas de petróleo, do dinheiro que países como o meu arrecadam dos impostos dessas empresas. È preciso criar um fundo de investimentos com retornos a longo prazo. A necessidade de se tornar lucrável e cobrir os custos de implantação em um período curto de tempo - menos de cinco anos, por exemplo - pode desencorajar investidores, inovadores e inventores, porque é uma tarefa muito difícil. A comunidade de pesquisadores precisa de tempo e flexibilidade.

Como fomentar a inovação tecnológica na área de energias alternativas?

È necessário investir no básico. Quando pensamos em biocombustíveis, por exemplo, precisamos entender a composição molecular e atômica de um grão de arroz. Um pequeno grão de arroz, entendeu? É preciso saber o que na estrutura da lignocelulose mantém o grão firme. Sem compreender isso, fracassaríamos. A lignocelulose é uma molécula tão magnífica que é praticamente impossível quebrá-la. Uma das nossas pesquisas em curso busca descobrir uma forma de quebrar essa estrutura usando enzimas e transformar a molécula em açúcar. Não é impossível, mas é extremamente difícil. Veja que ainda não estamos falando em como transformar arroz em combustível, mas sim do básico, que é a estrutura molecular. Se conseguirmos quebrar essa estrutura e transformá-la em açúcar e transformar esse açúcar em combustível, teremos uma fonte viável de biocombustíveis. Mas, estamos na pesquisa inicial. Não podemos pular esse passo e já contratar uma empresa para distribuir biocombustíveis à base de arroz. É preciso voltar ao básico.

E quanto ao reflorestamento? Ele pode ser rentável?

Reflorestamento pode ser rentável, já que florestas são um recurso renovável. Porém, é importante levar em conta que não adianta encerrar atividades agrícolas e substituir todas as áreas de plantação por florestas replantadas. Precisamos encontrar um equilíbrio. A conservação do que resta das florestas tropicais precisa ser uma preocupação central do Brasil na luta contra a mudança climática.