Disque Denúncia: 14 anos, um milhão e meio de denúncias

Surgido no auge da onda de sequestros que assolou o Rio de Janeiro nos anos 1990, o Disque Denúncia acaba de completar 14 anos. Fundado no princípio de que sociedade civil, imprensa e Estado precisam trabalhar juntos para combater o crime, o serviço é encarado como um parceiro importante pelo secretário de segurança do estado, José Beltrame.

O Rio de Janeiro descobriu da pior forma os efeitos concretos da violência sobre a economia de centros urbanos. No auge da onda de sequestros que assolou a cidade nos anos 1990, o Rio chegou a testemunhar cem sequestros de empresários em um só ano. José Antônio Borges Fortes, o Zeca Borges, lembra que a causa direta dos sequestros era a fuga de capitais do estado. "O Rio perdia centros de decisão. Empresas estavam indo para outros estados. A cidade estava sendo colocada fora dos roteiros de negócios", analisa. Diante do problema, Zeca e mais 24 empresários - responsáveis por uma parte significativa do PIB do estado - se reuniram em 1995 para descobrir uma forma de combater o problema. Desta reunião, nasceu o Disque Denúncia, sistema de denúncias anônimas pelo telefone que completou 14 anos este mês e que tem apresentado resultados importantes no combate à violência.

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A idéia não era novidade. "Na época, eu já conhecia o sistema americano dos Crime Stoppers", lembra Zeca. O Crime Stoppers é o sistema de denúncias anônimas pelo telefone criado depois do assassinato de um estudante universitário em um posto de gasolina do Novo México (Estados Unidos), em 1976. Inspirado diretamente no serviço americano está o tripé que sustenta e garante, segundo Zeca, o sucesso do Disque Denúncia: polícia, imprensa e sociedade civil. "Não queríamos incrementar medidas de força e sim agir no campo da inteligência. O Disque Denúncia é uma central comunitária de inteligência", explica Zeca. Prova da eficiência do tripé é o caso da prisão do traficante Evanílson Marques da Silva, o Dão, do Morro da Providência. Na ocasião, o Fantástico exibiu uma matéria de dez minutos sobre o caso. A denúncia foi recebida ao meio-dia de segunda-feira e repassada às autoridades. Às 12h40 do mesmo dia Dão estava preso. Outro caso mais recente é o de João Hélio, em que a denúncia foi recebida no dia seguinte ao crime. "Além da divulgação, a vantagem de ter o apoio da imprensa é que isso força o criminoso a ficar escondido, em vez de se deslocar", constata Adriana Nunes, coordenadora do Disque Denúncia.

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Entretanto, nem tudo são flores. De acordo com Zeca e Adriana, o caso Priscila Belfort é a maior frustração deles. Ao todo, o serviço recebeu 500 denúncias sobre mulheres mortas ou sequestradas - nenhuma delas era Priscila. "Ajudamos a resolver crimes no país inteiro. Diziam: ‘Tem uma cabeça boiando no rio tal'. Não era ela. ‘Tem uma mulher em um cativeiro não sei onde'. Também não", declara Zeca. Apesar da frustração em não encontrar Priscila, o caso prova outro fator positivo do Disque Denúncia: não há trotes. Nenhuma das 500 denúncias sobre o paradeiro de Priscila era falsa, apenas as mulheres vítimas de violência não eram ela. De acordo com Zeca, é fácil entender o motivo de não haver trotes: "O denunciante é o nosso primeiro analista de inteligência", afirma. "Isso acontece porque ele não tem nosso telefone na cabeça. Usamos um número de oito dígitos que não é difícil de lembrar, mas que também não é fácil. Por isso, quando você vê o crime e julga se é importante ligar faz a primeira análise de inteligência", explica Zeca. Ele acrescenta que a ligação é paga, o que funciona como uma contrapartida ao anonimato.

Ao receber a denúncia, um dos 43 atendentes faz perguntas ao denunciante - sem identificá-lo - a fim de classificar a denúncia, que passa a ser identificada por um número. A classificação é essencial para organizar a quantidade de informação no banco de dados do serviço, que já chega a um milhão e meio de denúncias. Organização também é crucial para os relatórios de análise estratégica realizados pelo Disque Denúncia. No primeiro semestre, por exemplo, o tráfico de drogas foi o crime mais denunciado, com mais de 14 mil denúncias, seguido pela posse ilícita de armas de fogo, violência doméstica, roubo ou furto de automóveis, barulho, dentre outros. O bairro com mais denúncias é Campo Grande, seguido por Centro e Copacabana.

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Fazendo um balanço do que mudou no serviço do início até agora, Zeca destaca o relacionamento com a polícia. "Hoje, a polícia nos procura em busca de informações", conta Zeca, destacando que a área de análise do Disque Denúncia, responsável pelos relatórios, interage constantemente com a polícia. Na cidade, o que mudou foram as formas de violência: "Não temos mais seqüestros ou assaltos a banco da forma como aconteciam nos anos 1990", explica Zeca. Segundo ele, um dos novos desafios é a delinqüência de rua, que só pode ser combatida com o auxílio das pessoas. "A população precisa ajudar a polícia a combater esse tipo de crime", defende.

Os custos do Disque Denúncia são integralmente financiados por uma parceria entre a Secretaria de Segurança do estado e pela ONG Movimento Rio de Combate ao Crime. O serviço não recebe recursos públicos ou privados diretamente: as duas entidades são responsáveis pelo pagamento de fornecedores e prestadores de serviço. Hoje, também há centrais do Disque Denúncia em Pernambuco, Espírito Santo, São Paulo, Bahia e Goiás. Para divulgação do telefone, o Disque Denúncia conta com merchandising em programação televisiva, propaganda em sacolas de supermercado, dentre outros.

O telefone do Disque Denúncia é 2253 1177.

Secretário de segurança, José Beltrame, fala sobre o Disque Denúncia

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De que forma o Disque Denúncia se encaixa na estratégia da Secretaria de Segurança no combate ao crime organizado?

O Disque-Denúncia é um importante parceiro da secretaria de Segurança. O órgão fornece informações à subsecretaria de Inteligência, que avalia o grau de confiabilidade da denúncia. Todas as informações são checadas. Principalmente às ligadas ao crime organizado, como tráfico de drogas e milícia.

Qual a importância de serviços como o Disque Denúncia, baseados basicamente no anonimato ou em recompensas, no combate à violência?

A garantia da confidência da identidade de quem faz a denúncia permite que a sociedade atue junto com o Estado e com a polícia na solução de crimes e na prisão de criminosos foragidos da Justiça. Se o serviço não garantisse essa proteção seria praticamente impossível a participação das pessoas, que temem sofrer represálias por parte dos criminosos.

Quem quiser acompanhar o trabalho realizado pela equipe do Disque Denúncia pode visitar os seguintes sites:

http://evidenciasibcc.blogspot.com

http://disquedenuncia.blogspot.com

http://aquieagoranews.blogspot.com

http://www.procurados.org.br

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