Regazzi: Oportunidades para MPEs no setor de petróleo e gás

Renato Dias Regazzi, gerente de desenvolvimento industrial do Sebrae-RJ, avalia como financiamentos podem tornar o Brasil mais competitivo no setor de petróleo e gás, e com isso alavancar o desenvolvimento econômico e social sustentável

Devido aos grandes investimentos que estão sendo sinalizados para a indústria brasileira de petróleo e gás — somente da Petrobras vêm em torno de U$$ 157,3 bilhões para os próximos cinco anos —, empresas de várias localidades do mundo, principalmente de países com tradição na cadeia produtiva de petróleo e gás, colocam o Brasil como país estratégico para seus negócios. Recentemente, com as descobertas dos megacampos na camada pré-sal, esse interesse ficou ainda maior. Nesse sentido, podemos afirmar que o Brasil começa a despontar como futura potência energética mundial.
 
Apesar do potencial brasileiro no segmento de petróleo e gás, é necessário analisar quais decisões e ações devem ser tomadas, para que sejam aproveitadas ao máximo as oportunidades de investimentos programados, com o objetivo de contribuir para o efetivo desenvolvimento econômico e social brasileiro, de forma sustentável. É importante refletir sobre o que queremos ser no futuro: um mero exportador de “commodities”, por meio da exportação de petróleo bruto; agregar valor através do refino e exportação de derivados que também são “commodities”; ou desenvolver um grande parque industrial e de serviços de excelência mundial.
 
É claro que os maiores ganhos econômicos e sociais para o país se darão por meio do desenvolvimento da cadeia produtiva de petróleo e gás brasileira, sobretudo com a dinamização do nosso parque industrial e tecnológico e através da inserção competitiva das micro e pequenas empresas, bem como dos respectivos arranjos produtivos locais onde estão inseridas. Como consequência, um maior número de empresas será capaz de aproveitar os investimentos e gerar novos postos de trabalho, riqueza e renda. Cabe destacar que as vantagens competitivas a serem alcançadas pelas empresas brasileiras se darão com investimentos em gestão, tecnologia e através das interrelações empresarias com seus elos da cadeia produtiva.
 
Com o objetivo de fomentar a cadeia produtiva de petróleo e gás, com destaque para as micro e pequenas empresas, o Sebrae e a Petrobras estão desenvolvendo um importante programa nacional de inserção competitiva das micro e pequenas empresas brasileiras. O foco central desse programa de política industrial é dinamizar os arranjos produtivos locais, em estados e regiões onde exista uma base de exploração, produção e refino operada pela Petrobras. Esse projeto também contemplará outros arranjos produtivos complementares, como os da indústria naval/offshore e metal-mecânica. O objetivo do programa é preparar as empresas de forma coletiva para atender aos requisitos de qualidade, SMS, prazos, custos, tecnológicos e estratégicos para o setor. 
 
Esse projeto de inserção competitiva já apresentou excelentes resultados em sua fase piloto, realizada nos últimos dois anos, e contou com o investimento de R$15 milhões, sendo 50% provenientes do Sebrae e 50% da Petrobras. Foram trabalhadas 6.365 empresas por meio de palestras, cursos, rodadas de negócio e programas de capacitação de fornecedores em 12 estados. Foram mobilizadas 21 unidades da Petrobras, 11 unidades do Sistema Sebrae e mais 188 grandes empresas que operam neste setor. Atualmente o Sebrae, a Petrobras e o Prominp  sistematizaram o aprendizado adquirido na fase piloto e desenvolveram uma metodologia inédita no Brasil, a ser aplicada na nova fase do projeto. Para ampliar o novo projeto, serão investidos R$ 32 milhões, 50% do Sebrae e 50% da Petrobras, e serão contemplados 14 estados que desenvolvem operações com a Petrobras.
 
Neste contexto, o Estado do Rio de Janeiro se coloca estrategicamente por contar com 84% das reservas de petróleo, 40% do gás e apresentar todos os elos da cadeia produtiva, que está subdividida em exploração, produção, refino, petroquímico e grandes equipamentos de navipeças, além da pesquisa tecnológica, com a presença do Cenpes na região metropolitana do estado. No Rio de Janeiro, o projeto de inserção competitiva das micro e pequenas empresas fluminenses na cadeia produtiva de petróleo e gás está organizado em quatro arranjos produtivos complementares: o APL da Bacia de Campos (E&P), o APL de Duque de Caxias (Refino e Petroquímico), APL de conteúdo tecnológico (Cenpes – região metropolitana) e o Naval/offshore, em Niterói. Essa organização está sendo referenciada como modelo de desenvolvimento para os demais estados brasileiros participantes do projeto.
 
Pode-se concluir que, por meio de parcerias entre governos, setor privado, universidades, centros tecnológicos e entidades de fomento — criando uma rede de governança nacional, rebatida nos estados e chegando aos territórios produtivos, a fim de desenvolver projetos de inserção competitiva da indústria nacional na cadeia produtiva de petróleo e gás — o Brasil dá um grande passo para aproveitar as oportunidades que estão sendo propostas e para criar as vantagens comparativas e competitivas que proporcionarão o efetivo desenvolvimento econômico e social sustentável.
 
 
Renato Dias Regazzi, Mestre em Gestão Tecnológica (CEFET) e Engenheiro Mecânico (UFRJ) e de Produção (UFRJ e INT), é atualmente gerente de desenvolvimento industrial do Sebrae RJ e representa a instituição na Câmara Setorial de Desenvolvimento Industrial do Fórum Permanente de Desenvolvimento Estratégico.