Protasio: Rio como Centro Mundial da Mudança Climática

Neste artigo, o presidente da Associação Nacional dos Usuários do Transporte de Carga (ANUT) fala sobre reuniões ocorridas no mundo inteiro para discutir o aquecimento global e as medidas necessárias para detê-lo

Paulo Manoel Lenz Cesar Protasio* 

Ao final das reuniões realizadas nos principais continentes em todo o mundo no mês de maio e a mais recente discussão oficial na Alemanha, ficou muito claro que o jogo vai mudar e que no momento estamos todos vivendo uma contagem regressiva que terá inicio em Copenhagen em forma mais acelerada. Como estar preparado como país e cidade, em seus respectivos mercados, é que será considerado definitivo para partilhar da nova geografia de investimentos no setor.

Como primeira conclusão, das duas reuniões que participei, poderia afirmar que o mundo acordou – e eu acredito que grande parte da sociedade brasileira também – para o desafio que representa o processo de mudança climática para nossas vidas. Diante de uma necessidade de manter o crescimento e reduzir emissões a produtividade de redução de emissões precisa crescer cerca de quinze vezes. 

Até agora o melhor exemplo da sociedade brasileira foi sua resposta ao eleger o automóvel flex seu preferido, representando hoje 87% do consumo porque melhor atende sua perspectiva. O crescimento com baixa emissão já se provou viável – e tornou o México um bom exemplo – e a produtividade em relação ao carbono, que pode ser dramática, consagrou a Califórnia como outro exemplo. Estudos provam que investimentos em tecnologias de baixa emissão estimulam o resto da economia, e que seu impacto em geração de novos empregos será de mais de meio milhão de novos postos até 2030. Outro fato do qual se pode tirar proveito é o da busca da eficiência energética e que representa uma oportunidade para melhoramentos através de um grande número de setores.

O exemplo prático colhido na reunião em Barcelona foi trazido pelo Diretor da ANTAQ, Fernando Fialho, que acabou por deflagrar uma oportunidade entre empresas especializadas de projetos de redução de emissões para realizar um estudo de transferências de modais, elevando a importância da contribuição do transporte no Brasil que passaria a utilizar mais os rios e a cabotagem como elementos de maior produtividade, aportando para o setor as vantagens dos recursos provenientes dos certificados a serem produzidos pelos referidos projetos, além da possibilidade de serem criadas novas metodologias para adoção por outros países emergentes. A essa proposta se juntou no evento a CAF (Corporação Andina de Fomento).

O mesmo aconteceu em relação às cidades. Aproveitando a CarbonExpo em Barcelona, onde se organizou de forma especial o encontro que anualmente se realiza na cidade de Colônia, na Alemanha, o Governo da Espanha e a Prefeitura de Barcelona, em comum acordo com o Banco Mundial, realizaram um Simpósio sobre Cidades, Mudança Climática e Finanças. Lá, ficou claro que o movimento ganhará velocidade com uma ação desenhada, de baixo para cima, cada vez maior. Em Copenhagen as cidades vão se encontrar novamente para definir suas vantagens como importantes personagens dessa mudança. A palestra de Ruud Lubbers, ex - Primeiro Ministro da Holanda e Presidente do Conselho da Iniciativa Climática de Roterdam, foi contundente: "Precisamos de um mercado global para fazer com que a mudança climática funcione! Se quisermos usar o mercado nós teremos que combinar comércio com regulação!" 

Em seguida ele afirmou que a partir das cidades seria mais fácil proporcionar uma dimensão ética aos instrumentos da mudança climática, pois ela funciona quando setor privado e governo se somam na busca de benefícios para a sociedade local. "Não se pode admitir que o mundo para os meus netos seja pior do que foi para mim. E a minha cidade – embora seja o maior centro portuário do mundo – não tenha os desafios dos grandes centros urbanos mundiais. O desafio é de como encontrar um caminho para a prosperidade dentro de uma economia de emissões baixas. O que irá facilitar essa mudança é a nova mídia proporcionada pela internet. Para ela – e principalmente nos países emergentes – a sociedade civil é mais importante do que os governos."

A maior alavanca da mudança, todavia, será representada pela entrada dos Estados Unidos. A contagem regressiva de Copenhagen, já iniciada, tem seus ponteiros nessa direção. Expertos de todo o mundo que estão esta semana em Bonn, dando continuidade às discussões prévias, estão focados nas várias dimensões do novo acordo, destacando-se: vulnerabilidade e adaptação; floresta e redução das emissões; tecnologia e transferência de tecnologia; desenvolvimento das ações dos países e finanças. É impossível alguém duvidar de que esta pauta dispensa a participação da sociedade. O clima não tem mais sua importância limitada a previsões, mas como instrumento de equilíbrio nas contas do desenvolvimento sustentável, constituindo-se assim em nova contabilidade de valores. O mundo tem um novo desenho e a cidade e o Estado do Rio de Janeiro têm tudo para mostrar o que pode ser feito – não como em um laboratório longe das realidades e dos desafios do dia-a-dia, mas de forma aberta como uma resposta, marcada pela responsabilidade do governo e pela adesão de sua cidadania. Somos um dos poucos centros do mundo que pode ter esse papel.

* Paulo Manoel Lenz César Protasio é presidente da Associação Nacional dos Usuários do Transporte de Carga (ANUT).