Felipe Dias: Perspectivas para a Indústria de Petróleo e Gás no Brasil

Neste artigo, o economista do Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis fala sobre as consequências da crise econômica mundial sobre o mercado petrolífero e seus reflexos no Brasil

Felipe A. Dias*

A crise econômica mundial vem mostrando seus reflexos sobre o mercado mundial de petróleo. Os principais analistas internacionais e as mais consultadas fontes de projeções reviram suas expectativas de demanda para baixo e o preço recuou cerca de US$ 100 por barril desde o seu pico, em julho do ano passado, até o piso atingido no início deste ano.

Na realidade, a demanda mundial por petróleo já vinha caindo mesmo antes do agravamento da crise financeira, em setembro, em consequência da própria elevação do preço do barril. A trajetória de queda iniciada em julho seguiu de forma praticamente linear até o fim do ano e veio, até recentemente, oscilando em torno dos US$ 40. Mesmo com a leve recuperação das últimas semanas, ainda estamos em um patamar de preços de cerca de 40% do preço de meados do ano passado.

Os efeitos da crise são evidentes, e podemos observar duas diferentes interpretações para explicar o contágio.

Os mercados financeiros se utilizaram do ciclo de alta de preços das commodities, como o petróleo, para lastrear novos produtos financeiros e recuperar perdas em outros segmentos, como o imobiliário. O pânico financeiro induzido pela crise mundial reduziu bruscamente o valor desses papéis e derrubou os preços do petróleo. E na economia real, como efeito da crise, a diminuição da atividade econômica e a eminência de um longo ciclo recessivo reduziram a demanda esperada por petróleo, derrubando o preço.

A brusca redução dos preços, independente dos fatores que a motivou, somou-se às projeções de retração ainda maior da demanda, resultando em reversão de expectativas e mudança de comportamento por parte de quase todas as principais empresas petrolíferas no mundo, privadas ou estatais. As dificuldades na geração de caixa e a redução da oferta de crédito, em especial para as empresas de menor porte, agravam ainda mais o quadro e sugerem estratégias mais conservadoras.

Independente das suas causas, o resultado deste processo foi uma boa safra de anúncios de redução de investimentos e adiamento de projetos nas atividades de exploração e produção de petróleo e gás em diversas partes do mundo. Devido à demanda em desaceleração, aos elevados custos herdados do ciclo de alta dos preços e à dificuldade na financiabilidade dos projetos, estão caindo os investimentos globais das empresas petroleiras.

Em sentido contrário, o setor petrolífero brasileiro tem dado sinais de que está acelerando o ritmo, motivado, especialmente, pelo elevado potencial dos novos prospectos do Pré-sal. Após o anúncio da Petrobras de um incremento significativo dos investimentos previstos para os próximos cinco anos, grandes empresas internacionais que atuam no Brasil também divulgaram sua intenção de acelerar seu ritmo de investimentos no país, se distanciando nitidamente de suas estratégias em outras partes do mundo. Este é o caso, por exemplo, da britânica BG, da espanhola Repsol e da americana Hess.

O novo plano da Petrobras para os anos 2009-2013 prevê uma média anual de investimentos de quase US$ 35 bilhões, dos quais 90% no Brasil. Um aumento de 55% com relação ao plano anterior. São cerca de US$ 157 bilhões de investimentos no país ao longo dos próximos cinco anos. E os investimentos da Petrobras vêm acompanhados dos investimentos das demais companhias, em especial dos seus parceiros nos principais projetos no E&P. São esperados investimentos totais em petróleo e gás no Brasil da ordem de US$ 195 bilhões até 2013. Serão US$ 116 bilhões somente nos projetos do segmento de E&P, dos quais US$ 91 bilhões pela Petrobras e US$ 25 bilhões pelas demais companhias. Destes 116 bilhões, cerca de US$ 40 bilhões serão destinados aos primeiros projetos do Pré-sal.

Com o novo Plano Estratégico, a Petrobras pretende aumentar a sua produção de petróleo e gás no Brasil dos atuais 2,17 milhões de barris equivalentes por dia para 5,1 milhões em 2020. Desse total, segundo o plano, 1,81 milhões de barris diários serão produzidos no Pré-sal. A concretização dessas metas permitirá que o Brasil exporte volumes importantes de petróleo e derivados, com impactos significativos sobre a balança comercial e sobre o crescimento do país.

Em tempos de crise, o setor petróleo deverá assumir um importante papel no Brasil nos próximos anos pelo efeito anti-cíclico que seus expressivos investimentos e sua demanda por bens e serviços irão causar. Associados a uma política inteligente de desenvolvimento e capacitação dos setores industriais fornecedores, e de estímulo a novos investimentos, os projetos em petróleo e gás podem repercutir fortemente sobre a atividade econômica e a geração de empregos em diversas regiões do país. Além disso, o aumento da produção permitirá uma substancial elevação das participações governamentais, com efeitos positivos sobre as contas públicas e sobre a capacidade de investimento do Estado.

* Felipe Dias é economista do Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP).