"Desafios do emprego": Rio tem 1,3 milhão de desempregados

A taxa de desemprego no estado do Rio de Janeiro é a maior do Brasil, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e atingiu 11,8% da população, em 2018. O número ultrapassa a taxa nacional que é de 11,6%. Esses números foram apresentados na abertura do seminário “Desafios do Emprego no Estado do Rio de Janeiro, Organizado pelo Fórum de Desenvolvimento do Rio, órgão da Alerj, em parceria com a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Emprego e Relações Internacionais. O encontro foi realizado nesta segunda-feira (29/04), no Plenário da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, e terá apresentações nas três próximas sextas-feiras (dias 3, 10 e 17 de maio), sempre das 10h às 13h. Segundo o coordenador de trabalho e rendimento do IBGE, Cimar Azeredo, o universo de pessoas subutilizadas chama atenção. No Rio de Janeiro 1,7 milhão de pessoas estão desempregadas ou na informalidade. 

De acordo com o secretário de Estado de Desenvolvimento Econômico, Emprego e Relações Internacionais, Lucas Tristão, o Rio de Janeiro é o estado que mais perdeu postos de trabalho e continua estagnado com a economia decrescendo. “ Espero que os encontros do seminário ofereçam atos efetivos para que os cidadãos tenham condições necessárias para gerar emprego e renda”.

Para o presidente da Alerj e do Fórum de Desenvolvimento Estratégico, deputado André Ceciliano (PT), o desemprego se deve a vários outros fatores além da crise econômica. “ As novas tecnologias têm feito o número de empregos diminuir, o trabalhador pode ganhar melhor mas em compensação nós perdemos vagas de emprego. Além disso, o país pode crescer 4% ao ano se investirmos em habitação e saneamento. Precisamos sair desse ciclo pernicioso que se tornou o Rio de Janeiro nos últimos dez anos”, destacou Ceciliano.

Outro ponto abordado pelo parlamentar foi a importância do investimento na área do turismo que sofreu um impacto negativo por conta do aumento da criminalidade. “A violência faz com que empresários que estão aqui possam ir para outros estados e nós não conseguimos atrair novos investimentos”, salientou Ceciliano, observando que o objetivo do seminário é aproximar setores que possam auxiliar o parlamento estadual na definição de políticas públicas visando à geração de emprego, renda, salário e qualificação profissional.

Subutilização da mão de obra é um dos problemas mais graves do estado

“A ideia aqui, hoje, é falar sobre aspectos do desemprego, do desalento, da subutilização da força de trabalho, porque o nosso problema vai além”, explicou o coordenador de trabalho e rendimento do IBGE, Cimar Azeredo. Segundo ele, a PNAD Contínua consegue mostrar que os números de desemprego são até pequenos perto do problema mais grave que o estado enfrenta, que é o da subutilização da força de trabalho.

Segundo Cimar, a subutilização que registrava 642 mil pessoas em 2014, saltou para 1,7 milhão no quarto trimestre de 2018. “O que significa isso? São pessoas que trabalham menos que 40 horas e querem trabalhar mais. São pessoas que perderam o emprego, muitas vezes, ou que tiveram a sua jornada de trabalho reduzida. Então, essas pessoas estão no mercado sim, mas devem ser feitas políticas para atende-las, porque elas estão com menos horas, uma jornada melhor e, consequentemente, a renda dessas pessoas também está mais baixa”, afirmou.

Como parte da subutilização da mão de obra no estado, Cimar citou ainda  a população desalentada. Segundo a definição do IBGE, desalentados são aqueles que, por diferentes razões, desistiram de procurar emprego e saem das estatísticas do desemprego. O desalento que era 12 mil em 2014 chegou agora a 85 mil pessoas no Estado.

Desemprego atinge mais os jovens e as mulheres negras

Com base na apresentação sobre o mercado de trabalho da Fecomércio-RJ, mulheres negras e jovens com idades entre 14 e 17 anos são os que mais sofrem as consequências do desemprego no estado. Entre 2012 e 2018, o número de menores de idade sem emprego cresceu de forma acelerada, alcançando a taxa de 60% _ uma diferença de 20 pontos percentuais acima da média nacional. Entre os jovens de 18 a 24 anos, o desemprego atingiu 32,2% em 2018. Para o presidente da Fecomércio, Antônio Queiroz, o abandono escolar é um fator alarmante entre os jovens e adolescentes. “Isso assusta bastante porque é o futuro e precisamos de uma solução através da educação”, comentou.

Já as mulheres negras apresentam taxa de desemprego de 20,7%. O número representa mais que o dobro da taxa dos homens brancos, de 10,1%. De acordo com o estudo apresentado pelo economista-chefe da Fecomércio, João Gomes, nos últimos anos as trajetórias dos índices de desemprego foram semelhantes entre homens e mulheres, mas sobre elas a perda do trabalho recaiu mais fortemente. No último trimestre de 2018, a taxa de desemprego foi de 17,8% para as mulheres e 12,4% para os homens.

"Além do aumento no desemprego entre as mulheres, outro dado preocupante é a renda das mulheres que chefiam lares", apontou João Gomes. Mais de 40% dos lares do estado são chefiados hoje por mulheres e, dessas, quase 60% estão vivendo entre a pobreza e a pobreza extrema, com rendimentos familiares entre R$ 100 e R$ 350.

Firjan aponta que o Rio foi estado mais afetado pela crise econômica

Segundo o gerente de estudos econômicos da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), Jonathas Goulart, existem dois fatores que precisam ser solucionados para haver maior geração de emprego e renda no estado: o alto custo do trabalho e a política tributária. “O piso regional do Rio está acima do normal em relação a outros estados do país, com crescimento de quase 50% nos últimos cinco anos, além disso há a questão do ICMS. Estamos passando por um período de convalidação de incentivos fiscais e o Rio de Janeiro precisa participar desse processo para conseguirmos uma política tributária que seja mais competitiva para as indústrias e para o setor produtivo do estado”, explicou Jonathas.

Uma consequência direta do alto custo do trabalho, apontou Jonathas, foi o aumento da informalidade no estado. "Estamos falando que o Rio de Janeiro aumentou a sua informalidade nesse período em quase 20%, enquanto no Brasil, nesse período de crise, a informalidade cresceu 7%", pontuou. 

Outro ponto relevante da apresentação de Jonathas foi o impacto da política tributária na geração de empregos. “A primeira coisa que precisamos falar é a diferença entre incentivo fiscal e renúncia. Esse é um tema que muitas vezes parece polêmico, mas precisamos entender o que aconteceu com a economia do Estado do Rio, nos últimos anos”, disse Jonathas. “O incentivo procura atrair indústria, gerar novos empregos e aumentar a arrecadação do ICMS. Estamos falando diretamente de atração de empresas, atração de arrecadação e geração de emprego e renda”.

De acordo com os estudos da Firjan, nas cidades que receberam incentivos fiscais, houve a geração de mais de 88 mil postos de trabalho; uma renda média que cresceu quase o dobro da renda média do restante do Estado e, no geral, um aumento de 82 % na arrecadação de ICMS, com crescimento de mais de R$ 580 milhões de arrecadação. “Por outro lado, quando falamos em renúncia fiscal, falamos em manter as indústrias no Estado. Ou seja, manter os empregos que já estão aqui e manter também a arrecadação de ICMS”, explicou Jonathas.

Descolamento entre emprego nas regiões e a oferta de cursos no estado

A professora Renata La Rovere, do Instituto de Economia da UFRJ, apresentou um estudo sobre oferta e demanda de capacitação no Estado com base em dados do Ministério do Trabalho e Emprego. De acordo com a pesquisa, há um descolamento entre emprego nas regiões e a oferta de cursos no estado, ou seja, as regiões apresentam demandas específicas por empregos de capacitação de atividades industriais e os cursos de educação superior nas regiões não conseguem atender a essa demanda.

No setor Metalmecânico, por exemplo, que inclui as indústrias do polo automotivo do Centro Sul Fluminense, observou-se uma demanda por capacitação expressiva nessa região, com a oferta concentrada no Rio de Janeiro e Região Metropolitana. ”Assim como no setor de metalurgia, que inclui produtos de aço, também por conta das siderúrgicas temos uma concentração de empregos no Centro Sul Fluminense, mas, de novo, a oferta principal, Cursos de Engenharia e Metalurgia concentrada na Região Metropolitana”, disse Renata.

Segundo a pesquisadora, é importante também pensar em mais mecanismos de geração de empreendimentos inovadores para a Região Metropolitana e para a Capital. "É necessário que as políticas que já vêm sendo feitas na Região Metropolitana e na Capital sejam replicadas em outras regiões do Estado. Para todos os setores é necessário sempre pensar nessa questão das necessidades regionais e reforçar os ambientes de inovação no interior do Rio de Janeiro", afirmou.

Também estiveram presentes na abertura do seminário o deputado Jorge Felippe Neto (PSD), além de representantes da Superintendência Regional do Trabalho no Estado do Rio de Janeiro.

Para acessar a íntegra do primeiro dia do seminário basta clicar aqui.

Assista à reportagem da TV Alerj sobre o primeiro dia do seminário clicando aqui.

Para assistir na íntegra o primeiro dia do seminário, basta clicar aqui.

Para acessar as apresentações, clique no nome do palestrante abaixo:

Cimar Pereira - "Desemprego, desalento, subutilização da força de trabalho, informalidade e Renda dos Trabalhadores no Rio de Janeiro sob o aspecto da PNAD contínua"

João Gomes - "Mercado de trabalho a partir dos Indicadores Sociais do Rio de Janeiro"

Renata La Rovere - "Oferta e demanda de Capacitação no Estado do Rio de Janeiro"

Jonathas Goulart - "Agenda para geração de emprego e renda - Mapa do Desenvolvimento do Estado do Rio de Janeiro"

 

Se quiser ler sobre os debates que foram realizados no Forum "Desafios do Emprego no Estado do Rio de Janeiro", clique no nome do painel abaixo:

 

03/05/2019 - Políticas Públicas de Emprego e Renda

10/05/2019 - Contribuição do Sistema S na geração de emprego e renda e boas práticas das universidades e da sociedade civil

17/05/2019 - Papel do Desenvolvimento Regional na construção de estratégias de emprego e renda

 

Texto e fotos - Comunicação Social - Alerj