Futuro do emprego está na tecnologia e educação

Para retomar o crescimento econômico do estado, e a consequente geração de emprego e renda, é preciso investir em pesquisa e em educação. A afirmação foi feita no último evento da série sobre os desafios do emprego no estado, realizado pelo Fórum de Desenvolvimento do Rio em parceria com a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Emprego e Relações Internacionais. “A saída para a crise está no aproveitamento do potencial intelectual do estado, que reúne em seu território 43 instituições científicas e tecnológicas, dez universidades estaduais, sete universidades federais, e 147 cursos de graduação nas áreas relacionadas ao setor de saúde, que são vistos como uma vantagem competitiva em relação aos outros estados”, ressaltou a pesquisadora Fernanda Steiner.


“A gente tem que ter mais cientistas e engenheiros para poder pelo menos ser, senão um líder, um seguidor rápido dessa revolução tecnológica que está posta na mesa. O Rio de Janeiro tem posição privilegiada, temos muitas universidades e um bom capital intelectual agregado para liderar essa revolução. Ao longo dos próximos 40 anos, o petróleo vai perder a importância, e vamos ter que criar novas indústrias”, afirmou Paulo Vicente Alves, professor da Fundação Dom Cabral, que apresentou as 12 principais tecnologias que devem dominar o mundo no futuro: nanotecnologia, biotecnologia, medicina avançada, neuroergonomia, guerra de informação, inteligência artificial, geração de energia, materiais e manufatura, energia dirigida, tecnologia espacial, robótica e sensores.

Os investimentos em pesquisa e desenvolvimentos para lidar com as novas tecnologias e os novos empregos que vão surgir com a indústria 4.0, além da capacitação de mão-de-obra para esses novos mercados, foram classificados como essenciais para o desenvolvimento do estado.

“Lidar com gente, resolver problemas e ter criatividade são as competências do futuro. É nisso que temos de concentrar nossa educação para a próxima geração ter emprego. Senão, vamos ser substituídos por um computador ou por um robô. Isso implica uma revolução da educação”, explicou Paulo Vicente.


Clusters potencializam desenvolvimento

O fortalecimento de arranjos produtivos locais (APL), com base nas vocações regionais, foi destacado como outra medida a ser perseguida para o crescimento da economia do estado e na redução do desemprego que já bate a casa dos 15,3%, segundo os últimos dados do IBGE.

“Quando se instala um APL, toda uma cadeia gigantesca é formada a sua volta. A gente tem que lembrar que, quando se gera um emprego direto em uma determinada atividade, aquele trabalhador vai ao supermercado, ao açougue, enfim, há uma cadeia muito grande que depende disso”, afirmou o subsecretário de Indústrias, Comércio, Serviços e Ambiente de Negócios, Celso Marcon, da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Emprego e Relações Internacionais, que citou exemplos de APLs já consolidados no estado como o polo metalmecânico, em Volta Redonda; o cluster automotivo na região de Resende, Porto Real, Quatis, Itatiaia e o APL da moda praia, em Cabo Frio.

Segundo o subsecretário, em Cabo Frio, a moda praia gera de 12 mil a 15 mil empregos diretos e indiretos. Já em Nova Friburgo, na Região Serrana, são 20 mil empregos diretos e indiretos com a produção de moda íntima. “Vinte e cinco por cento de toda a produção de moda íntima do Brasil vem de Friburgo”, afirmou ele, observando ainda que o setor metalmecânico gera 19 mil empregos diretos e indiretos na região de Volta Redonda, enquanto que o automotivo reúne 168 empresas com impacto positivo na geração de vagas de trabalho.

“O interior tem grande potencial de emprego e precisa de investimentos do governo para a construção de estradas, rodovias, energia eólica. Para que gere emprego, o estado precisa estar presente no interior”, concluiu Marcon.

Para o economista da Fecomércio Rafael Zanderer, o que houve nos últimos anos no estado foi uma destruição de emprego formal com a perda de mais de 35 mil postos de trabalho no setor de comércio entre 2015 e 2018. Apenas as atividades essenciais apresentaram saldo positivo. Entre elas os setores de supermercado/hipermercado, artigos farmacêuticos e combustível, enquanto as que mais caíram foram calçados e vestuário. “O problema da economia do estado é de demanda. Os empresários não estão investindo e consumidores não estão consumindo, porque eles não confiam no futuro da economia. A condição necessária para recuperação é fazer uma reforma fiscal e diminuir a taxa de crescimento das despesas primárias dos governos, seja local ou federal, para abrir espaço para o consumo privado”, afirmou.

Também estiveram presentes no seminário o presidente do cluster automotivo Sul Fluminense, João Batista Mattosinho Filho; o diretor-presidente da EMGEPRON, vice almirante Edesio Teixeira Lima Junior, que falou sobre o Cluster Maritimo do Rio de Janeiro; o secretário-executivo do Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP), Antônio Guimarães; e o gerente de relações institucionais, imprensa e responsabilidade social corporativa do Porto do Açu, Caio Cunha, que apresentaram as perspectivas e visão de futuro desses setores.
O deputado Luiz Paulo (PSDB), que presidiu o evento, lembrou que o papel da Assembleia Legislativa é cobrar do Executivo que seja feito um planejamento estratégico de desenvolvimento econômico e social. “É necessária uma visão setorial integrando todos os Arranjos Produtivos Locais (APL) para maior sinergia com objetivo de mais postos de trabalho e mais renda”, afirmou o parlamentar. Segundo ele, o Fórum trouxe novas informações para o Parlamento que vão além dos incentivos fiscais:

“O debate foi importante, porque algumas questões novas foram trazidas e não apenas a repetição de incentivo fiscal e incentivo creditício. Se vamos sair dessa crise, não é por esses dois caminhos. O estado do Rio de Janeiro dá, hoje, R$10,1 bilhões em incentivos fiscais. Temos a carga tributária mais alta do Brasil e uma sonegação de ICMS na ordem de R$11 bilhões. O Rio de Janeiro necessita quebrar esse círculo perverso. Quanto mais incentivo se dá a poucos, maior é a sonegação de muitos”, concluiu Luiz Paulo.

Construção de agenda

Os debates sobre a geração de emprego no estado continuam nas próximas semanas. De acordo com a subdiretora-geral do Fórum, Geiza Rocha, em parceria com a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (FIRJAN) realiza nos dias 31 de maio e 3 de junho, na Casa Firjan, duas tardes de workshop com convidados que estiveram na Alerj durante o seminário.

"Nosso objetivo é construir uma agenda conjunta de ações para vencer o desemprego”, destacou. Os resultados do workshop serão divulgados, posteriormente, na Alerj, em novo evento aberto ao público.

 

Para acessar a transcrição completa do evento clique aqui.

Assista à reportagem da TV Alerj clicando aqui.

Para ler as apresentações do painel de hoje, clique no nome do palestrante abaixo:

Celso Marcon - O papel da Secretaria de Desenvolvimento Econômico no fomento aos arranjos produtivos locais

Rafael Zanderer - Distribuição regional do emprego nos segmentos intensivos em mão de obra dos setores de comércio, bens, serviços e turismo

Caio Cunha - Projetos de expansão industrial do Porto do Açu e o cenário de geração de emprego e renda 

João Batista Mattosinho Filho - A estrutura do cluster automotivo da região Sul Fluminense, as carências de infraestrutura e o trabalho de fortalecimento da cadeia de fornecedores

Antônio Guimarães - Perspectivas do setor de óleo e gás no estado do Rio de Janeiro: dimensão e desafios

Fernanda Steiner Perin - As oportunidades do setor da Saúde para o estado do Rio de Janeiro: desafios e potenciais para avançar 

Vice-Almirante Edesio Teixeira Lima Júnior - A proposta do  "cluster marítimo do Rio de Janeiro" como instrumento de Desenvolvimento Regional

Paulo Vicente Alves - Cenários possíveis para o Rio e o impacto das tecnologias na oferta de trabalho e na criação de novas vagas 

 

Se quiser ler sobre os debates que foram realizados durante o Forum "Desafios do Emprego no Estado do Rio de Janeiro", clique no nome do painel abaixo:

29/04/2019 - Panorama e Perspectivas do Emprego no Estado do Rio de Janeiro

03/05/2019 - Políticas Públicas de Emprego e Renda

10/05/2019 - Contribuição do Sistema S na geração de emprego e renda e boas práticas das universidades e da sociedade civil