Capacitação e sustentabilidade no turismo rural fecham Seminário Estadual de Paisagens Rurais

O terceiro e último dia do 1º Seminário Estadual de Paisagens Rurais, promovido pelo Departamento de Geografia da Uerj e com parceira do Fórum da Alerj de Desenvolvimento Estratégico, foi marcado pelo debate sobre o papel das instituições no fortalecimento do turismo rural e também abordou a ligação entre o turismo rural e a sustentabilidade.

As oportunidades de capacitação para o desenvolvimento da atividade turística rural foram apresentadas durante o evento pela coordenadora Pedagógica do Senar Rio/ Faerj, Raquel Lima; pela assessora de Turismo da Presidência da Fecomércio RJ, Adriana Homem de Carvalho e pelo presidente do Conselho de Turismo da Região Costa do Sol (Condetur), Marco Antonio Navega.

Entre as ofertas educativas do Senar está o Programa Turismo Rural, que tem como intuito habilitar o produtor rural na atividade do turismo sem alterar o seu ambiente social e cultural, ampliando o olhar sobre as possibilidades a serem desenvolvidas nas propriedades.

“Todos os nossos cursos são gratuitos e destinados ao produtor e trabalhador rural. Esse programa está disponível na versão de ensino a distância e presencial para o desenvolvimento da comunidade rural por meio da diversificação das atividades produtivas que possam se integrar ao importante e promissor mercado do turismo”, explica Raquel.

As propostas de operação do programa incluem oportunidade de negócios, acolhida do meio rural, planejamento e implementação de pousadas e restaurantes, a culinária rural, roteiros, trilhas e caminhadas rurais, além de artesanato como recurso turístico. Para participar, basta acessar a plataforma EAD do Senar (www.ead.senar-rio.com.br) ou procurar o sindicato rural mais próximo da propriedade.

Para Marco Navega, do Condetur da Costa do Sol, o principal gargalo está na falta de compreensão do produtor rural sobre o que engloba o turismo rural.

“O Rio de Janeiro é um estado pequeno, mas essencialmente rural. Verificamos a necessidade de entendimento sobre o que é o turismo rural por parte dos produtores, que precisa ser trabalhado. Elaboramos um documento solicitando uma atenção maior da Secretaria de Estado de Turismo e da TurisRio para subsidiar a qualificação da mão de obra de atores locais ofertando consultoria de técnicos e profissionais na promoção de destinos que sejam atrativos”, ressaltou.

Já Adriana Homem de Carvalho acredita que os produtores rurais estão começando a se dar conta de que podem ter um segundo negócio dentro da sua atividade rural.

“Temos de trabalhar melhor as propriedades e proprietários para que eles saibam otimizar as suas atividades, tanto rural quanto de turismo”, observou ela que destacou o papel fundamental da Fecomércio que tem um conselho de turismo formado por 18 entidades empresariais que se reúnem bimestralmente para pensar o que pode melhorar no turismo do estado participando das ações que ocorrem no Rio.

“Ninguém hoje pensa em turismo sem pensar no Senai, Sesc e Senac, que é um braço da Fecomércio, e tem um papel fundamental na formação e capacitação de pessoas para o mercado de trabalho. Podemos pensar em cursos complementares aos oferecidos pelo Senar, ficando no atendimento dos empreendimentos rurais. Vamos sair daqui com uma cartilha, cada um com suas responsabilidades, para desenvolver o turismo rural no Rio de Janeiro”, completou.

Turismo rural e sustentabilidade

A mobilidade sustentável para o desenvolvimento do turismo rural foi outro fator abordado é tido como essencial para o crescimento do setor. Segundo o turismólogo e doutorando em Engenharia de Transportes, Luiz Emerson da Cruz Saldanha, a mobilidade e conectividade turística, os deslocamentos inter-regionais e as rotas de trânsito secundárias precisam ser pensadas integrando todas as visões.

“ A dificuldade de chegar aos locais virou oportunidade. Dela você criar um roteiro de bicicleta, aproveitar que o Rio é um estado pequeno com os centros urbanos próximos e conectar com a demanda local. Minas Gerais é o local que as pessoas mais viajam dentro do estado e temos de pensar como fazer isso no Rio de Janeiro”, frisa.

De acordo com a pesquisadora do Núcleo de Pesquisa em Turismo da Unigranrio, Paola Lhomann, a pandemia mudou o consumo do turismo, exigindo dos diferentes destinos renovação, reinvenção e está intrinsecamente ligada à sustentabilidade.

“A inovação no turismo se dá na maior parte das vezes de forma incremental, na melhoria dos processos, produtos, infraestrutura e marketing e não de forma disruptiva. É preciso trabalhar a experiência do visitante cada vez mais de forma integrada, com atividades ao ar livre, que permitam co-criação, troca de culturas, vivências e um novo olhar”, enumera ela, que pontua a parte gastronômica do campo e sua cadeia produtiva como uma das mais propícias à inclusão social da população rural.

Para o professor e pesquisador da Faculdade de Turismo e Hotelaria da Universidade Federal Fluminense (UFF), Osiris Marques, a questão social no campo é muito forte, e vai além da ambiental porque muitas vezes não há ofertas e oportunidades para fixar essa gente no campo, preservando a cultura e os valores.

Durante o seminário, ele apresentou o projeto Experiências do Brasil Rural – desenvolvimento e resultados – uma parceria da UFF com o Ministério da Agricultura com objetivo de qualificar, incentivar e capacitar empresários, empreendedores e produtores rurais integrados a roteiros turísticos para aprimoramento e criação de experiências turísticas memoráveis.

O projeto contemplou roteiros da agricultura familiar na cadeia da cerveja, frutos amazônicos, queijos e vinhos.

“Tivemos 52 roteiros inscritos, 17 foram habilitados e 8 foram selecionados, culminando no apoio à comercialização desses roteiros. Tivemos seis estados contemplados, o Rio de Janeiro não foi um deles e 33 municípios. Foram criadas e validadas 71 experiências, sendo 54 envolvendo a gastronomia”, conta.

Os roteiros selecionados foram a Rota Amazônia Atlântica, do Pará; a Terra Mãe do Brasil, Seus Caminhos, Segredos e Sabores, da Bahia; o Agroturismo do Espírito Santo; a Rota do Queijo Terroir Vertentes e a Rota Gourmet das Terras Altas da Mantiqueira, em Minas Gerais; o Caminhos do Campo, em Santa Catarina; e Ferradura dos Vinhedos e Roteiro Farroupilha Colonial, no Rio Grande do Sul.

O evento pode ser assistido na íntegra pelo canal do Fórum da Alerj de Desenvolvimento Estratégico no YouTube.