Aprendizados da pandemia: especialistas consideram ensino híbrido nas escolas

O ensino on-line se consolidou durante a pandemia. A necessidade de isolamento social obrigou as instituições de ensino a se adaptarem ao modelo de educação a distância (EAD) de forma brusca. A mudança foi sentida principalmente nas escolas, ainda pouco familiarizadas com o modelo de aulas remotas. Sem muito tempo para se preparar para esse processo de transição, alunos, responsáveis e toda a comunidade acadêmica enfrentaram muitos desafios neste percurso. O Fórum realizou nesta segunda (21/06), um painel virtual para debater a temática e o futuro do ensino online. Para os especialistas, a imprevisibilidade da situação assim como a falta de noção da duração do que estava sendo vivido foi o principal gargalo que afetava diretamente o planejamento e as ações de longo prazo.

De acordo com a professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e diretora do Departamento de Desenvolvimento Acadêmico e Projetos de Inovação da instituição, Márcia Taborda, o momento foi de muito sofrimento, mas também de oportunidade.

“A gente foi obrigada a pensar as ferramentas de tecnologia junto à educação, o que não foi possível nos últimos 15 anos. Na UERJ buscamos fazer isso com coerência nas intencionalidades das ações que precisam ser aplicadas em grande escala. Costumo dizer que trabalhamos como em um game, a cada etapa uma nova missão de encontrar respostas no meio ao imprevisível, um grande desafio para a gestão”, frisou.

Para a professora do CEFET-RJ e chefe do Departamento de Ensino Médio Técnico da Unidade Maracanã, Irene Alves, a primeira preocupação foi reordenar as prioridades. “Costumo dizer que a gente trocou o pneu com o carro andando, numa era de muitas incertezas e reconfigurações. A utilização de plataformas digitais, a capacitação do corpo docente para utilizar essas ferramentas, além de muito alunos em situação de vulnerabilidade social”, contou.

A necessidade de se ter um diagnóstico sobre a situação dos alunos, e as dificuldades do ensino online levou a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro a fazer um mapeamento de seus alunos por meio de questionários.

“Houve uma preocupação muito grande com a exclusão digital, que não se restringe apenas à falta de acesso, mas também a todo um contexto. Não bastava apenas criar dispositivos que poderiam aumentar essa exclusão. Cerca de 1500 alunos moram no campus da universidade e dependiam de políticas assistenciais estudantis, dessas moradias e alimentação. Criamos então bolsas de acesso à internet e a disponibilização de dispositivos móveis para esses alunos mapeados”, explicou.

Criação de Redes

Segundo o professor titular sênior do CEFET-RJ, Alvaro Chrispino, que foi secretário de Educação do município de Teresópolis durante a pandemia, a solução encontrada para dar uma resposta mais rápida para a rede de ensino da cidade se deu com a criação de redes colaborativas.

“Nossa primeira estratégia foi construir essas redes por meio das mídias sociais reunindo atores como alunos, responsáveis, colaboradores e professores. Enfrentamos algumas dificuldades de identificação desses alunos no início, mas logo no primeiro mês conseguimos articular para fazer a entrega de cestas básicas e cartões de compras para os estudantes. Também demos suporte aos professores com base no que eles disseram que seria possível fazer. No final, com todo o esforço feito, só não atendemos 1% de toda essa rede, que inclui só de alunos, 20 mil estudantes”, salientou.

Já o professor associado da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, lotado no Instituto de Aplicação (CAp-UERJ), Esequiel Rodrigues Oliveira, contou que já havia um interesse no ensino híbrido dentro da instituição antes da pandemia.

“Criamos um instituto virtual para atender diferentes níveis de escolaridade e isso era objeto de pesquisa. Quando fomos atingidos por essa crise, precisamos redesenhar esse ambiente de com grandes salas virtuais e criamos um laboratório de ensino para os professores, com um espaço de compartilhamento. Um ambiente colaborativo para troca de informações entre todos, o que incluía aqueles que nunca tinham lidado com o ambiente virtual e tinham dificuldades com as ferramentas. Em maio de 2020 os alunos começaram a ser atendidos num primeiro momento de acolhimento e em setembro já foi possível iniciar o semestre on-line”, detalhou.

O vice-diretor adjunto administrativo do Sindicato dos Estabelecimentos de Educação Básica do Município do Rio de Janeiro e sócio-diretor do Grupo Mopi Moderna Organização Pedagógica, Vinicius Canedo, pontuou que apesar de não ter sido fácil implementar o ensino online nas escolas particulares, o processo foi menos conturbado do que nas escolas públicas por conta das questões sociais e econômicas.

“A grande questão aqui foi a mudança cultural e não de infraestrutura. Também implementamos um trabalho socioemocional forte dentro da própria grade curricular para dar conta desse momento. Então o primeiro mantra foi cuidar dos alunos e focar na manutenção desses alunos e preservação de caixa com redução de custos por meio de negociação com os fornecedores”, concluiu.

O painel pode ser assistido na íntegra clicando aqui.