Especialistas sugerem ações para fortalecer setor agrícola e de logística durante pandemia

O isolamento social como medida de prevenção não afetou diretamente o campo, onde as propriedades já são distantes umas das outras. Isso de certa forma tem ajudado a manter a produção e a população abastecida nesse momento. Porém, a médio prazo, o setor também será duramente afetado pela recessão, que implicará diretamente na rentabilidade do produtor rural. “A cadeia mais impactada até o momento na comercialização é a de floricultura com perdas consideráveis com a não realização de eventos, como casamentos, festas e até funerais”, explicou  o coordenador de programas especiais do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) e vice-presidente da Federação de Agricultura do Estado do Rio de Janeiro Maurício Salles, um dos convidados do quarto painel de Impacto do Novo Coronavírus na Economia Fluminense, realizado pelo Fórum de Desenvolvimento do Rio, órgão da ALERJ, na manhã dessa quinta-feira (09/04). Acesse a integra do seminário aqui

Salles também citou algumas medidas já adotadas pelo governo do estado que ajudaram a conter a crise, como a promoção da ponte entre os produtores rurais e supermercados ou diretamente com o consumidor final (contatos podem ser feitos pelo WhastApp da Emater (21) 98596-6956; a manutenção das compras destinadas à merenda escolar pelo PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar), com a doação de alimentos aos pais dos alunos, assim como a liberação pelo governo federal da comercialização em todo país da produção de laticínios de estabelecimentos que possuam o selo de inspeção estadual e municipal. Entre as sugestões para ações para beneficiar a cadeia agrícola como um todo, Salles citou a prorrogação das parcelas do Agrofundo, a manutenção e ampliação de linhas de crédito para programas como Rio Leite, Rio Genética, Frutificar e Prosperar.

                                                               

“Outro ponto em que a ALERJ pode contribuir é na alteração da tributação de lácteos como o leite UHT e a muçarela, o que beneficiaria a competitividade desses produtos”, afirmou. De acordo com o Censo Agro de 2017 do IBGE, as principais atividades agrícolas no estado em número de pessoas ocupadas são a pecuária de leite e os hortigranjeiros. Nada menos do que 25% da produção de lácteos do estado vêm do leite de caixinha (UHT), enquanto que outros 25% estão concentrados na produção de queijos, e a outra metade diluída com a produção de diversos outros produtos.

“O leite UHT tem chegado normalmente ao mercado mantendo o volume de venda, já que pela perecibilidade menor tem boa saída. O problema são os outros laticínios, vendidos em pequenos comércios e restaurantes, que correspondem a 50% da produção do estado”, explicou o produtor rural e membro da diretoria técnica da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA) Alberto Figueiredo. Ele reforçou a preocupação com os médios e pequenos produtores de hortigranjeiros que enfrentam dificuldade de comercialização dos produtos com a diminuição ou proibição de feiras, o fechamento de pequenos estabelecimentos e restaurantes e a dependência do CEASA.

                                                                

“A agricultura familiar é a que mais sofre porque não consegue escoar a produção. Já temos relatos aqui na região de Barra Mansa em que os produtores passaram o trator em cima da lavoura, desestimulados por não terem para quem vender”, ressaltou. O transporte de cargas, tão necessário ao escoamento da produção, também foi abordado no painel. O assessor da presidência da Fetranscarga, Sergio Vianna, apresentou a pesquisa realizada pela Confederação Nacional do Transporte que retrata a situação crítica do setor. Atingido pela queda drástica de demanda e de receita, o transporte de cargas também vem enfrentando restrições à sua movimentação e outras dificuldades operacionais em todo país.

Dados da pesquisa apontam que 71,1% das transportadoras já estão enfrentando problemas de caixa e severo comprometimento da capacidade de realizar os pagamentos correntes como, por exemplo, a folha de pessoal e fornecedores, sendo que 28,2% não suportam 30 dias sem apoio financeiro adicional. Para agravar o quadro, 69,6% creem que os efeitos da crise serão percebidos por mais de quatro meses.“Fica clara a imediata necessidade de implementação de ações governamentais de apoio imediato às transportadoras. Essa ajuda é de fundamental importância para que não haja interrupções na prestação dos serviços e garantir o abastecimento das cidades”, disse Vianna.

                                                               

Câmara Setorial de Agronegócios

Ao final do encontro, os membros da Câmara de Agronegócios se reuniram para fazer uma avaliação do painel e definir os próximos passos. Foi levantada a necessidade de uma escuta da população rural que vive em assentamentos e comunidades quilombolas, pescadores e indígenas, bem como a análise do processo de redução das áreas de plantio, que vem ocorrendo ao longo dos últimos 20 anos. "O objetivo do Fórum de Desenvolvimento do Rio é reunir representantes de todos os grupos e nosso trabalho como grupo será identificar as representações para mergulharmos juntos nessa análise", afirmou a secretaria-geral do Fórum de Desenvolvimento do Rio, Geiza Rocha. 

Acesse as apresentações:

Maurício Salles - Coordenador de programas especiais do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar)

Alberto Figueiredo - Produtor rural e membro da diretoria técnica da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA)