Diálogo entre setores tradicionais e emergentes alavanca economia de Nova Friburgo e Região

Com mais de 182 mil habitantes, Nova Friburgo, cidade da Região Serrana Fluminense, tem na indústria a sua espinha dorsal, responsável por 40% do PIB do município. Os principais setores são os metalmecânico e têxtil. Porém, a economia friburguense vem ganhando destaque com a criação de polos em segmentos emergentes como o da cervejaria artesanal e o audiovisual. A cidade vem dinamizando suas atividades, com exemplos bem-sucedidos de arranjos produtivos locais, que beneficiam toda a região. O diálogo entre os setores tradicionais e emergentes vem proporcionando novas oportunidades. É o caso do plantio de lúpulo na região, que tem se mostrado promissor, unindo a produção agrícola e cervejeira da região. Responsável por dar corpo, aroma e sabor à bebida, o lúpulo utilizado hoje na fabricação das cervejas em todo o país é importado. São cerca de 2.500 toneladas ao ano a um custo de US$35 milhões. Os potenciais econômicos de Nova Friburgo foram debatidos nesta quarta (9/05), no Plenário da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro. O seminário “Nova Friburgo 200 anos: potencialidades e agenda para o futuro” foi realizado pelo Fórum de Desenvolvimento do Rio, órgão da Alerj, em parceria com o deputado Wanderson Nogueira (Psol). O encontro fez parte também da agenda de comemorações do bicentenário da cidade.

“A agenda é de futuro, mas precisa ser escrita no presente. Nova Friburgo é um caso de sucesso por seu empreendedorismo e pela construção da história do município, com uma das economias mais diversificadas e dinâmicas. Em um estado em decadência, Nova Friburgo vem inovando na área da economia criativa com um polo audiovisual, que além das belezas naturais locais, conta também com grande estrutura e mão de obra capacitada e a criatividade é uma questão ingovernável e ilimitada”, afirmou o deputado Wanderson Nogueira que abriu o evento.

Na ocasião, foram detalhados os dados e o histórico dos segmentos cervejeiro, têxtil, audiovisual, metalmecânico e agrícola, além do impacto dessas atividades no desenvolvimento local.

O consagrado Polo de da Moda da Região de Nova Friburgo, é um caso de sucesso de arranjo produtivo local, com cerca de 1.400 empresas responsáveis por mais de 25% da produção do mercado brasileiro (aproximadamente 114 milhões de peças por ano). A cidade é também a maior produtora de moda íntima do país e emprega cerca de 20 mil trabalhadores.

“Somos um polo maduro, com uma cadeia verticalizada, que vai do fio até a mercadoria final, já pronta e embalada e muitas delas seguem para exportação. Somos o principal setor empregador, responsáveis por alavancar os índices positivos de empregabilidade da região, enquanto todo o estado fecha postos de trabalho”, disse Marcelo Porto, presidente do Sindicato das Indústrias do Vestuário de Feira de Santana e Região (Sindvest).

O setor metalmecânico representa uma fatia importante na economia friburguense com 154 empresas instaladas na região, incluindo os principais fabricantes de cadeados e fechaduras do país. O segmento emprega 3.63 pessoas na região, o equivalente a 23,26% do total de vagas no setor da Industria de transformação de Nova Friburgo.

“A economia de Nova Friburgo é industrial, e faz parte de sua origem, desde sua fundação, mas avançou mesmo com a chegada do setor têxtil. Foi para atender a esta demanda que surgiu o setor metalmecânico na cidade. Essa vocação empreendedora, criativa e perseverante gerou uma indústria que hoje se mantém competitiva e atualizada tecnologicamente, conseguindo disputar mercados e sobreviver, mesmo em momentos de crise”, disse Claudio Tangari, Presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e do Material Elétrico de Nova Friburgo (Sindimetal).

Setores emergentes

Já as cervejas artesanais representam um mercado em expansão e sua cadeia produtiva é uma importante fonte de geração de renda na região, com capacidade de produção estimada em 120 mil litros por mês. Além disso, é também uma atividade indutora do turismo e da gastronomia locais. Em abril, a Alerj aprovou o projeto de lei estadual 3308/2017 que criou o Polo Cervejeiro Artesanal da Região de Nova Friburgo, com o objetivo de estimular políticas de incentivo ao desenvolvimento do setor, assim como convênios e consórcios intermunicipais voltados ao fomento da atividade.

“O setor das cervejas artesanais desponta como um novo vetor de desenvolvimento e recupera uma tradição que ficou esquecida. Estamos trabalhando agora na criação de uma marca coletiva, que além de promover e ressaltar as boas qualidades das cervejas da região, também estabelecerá critérios de certificação desta qualidade e o projeto de lei aprovado na Alerj contribui bastante neste sentido”, explicou Sergio Paiva, diretor executivo da Associação da Indústria Cervejeira de Nova Friburgo e Região (Beer Alliance).

A economia criativa também tem forte presença na região por meio do setor audiovisual. São aproximadamente 2.500 metros quadrados de estúdio para a produção de conteúdo para TV e publicidade; dois canais de TV aberta; seis canais de TV locais; uma Web TV; 1 distribuidora (RCA, com potencial de 80 mil espectadores por dia); seis salas de exibição; e um cineclube. Nova Friburgo conta também com profissionais capacitados na área de produção, recursos acadêmicos e cenários naturais onde podem ser rodados filmes inteiros e baixo custo de produção.

“No último trimestre de 2017 recebemos o primeiro longa-metragem filmado parcialmente na cidade de Nova Friburgo, o que trouxe um investimento em torno de R$ 1 milhão para a cidade. No momento estamos com outras produções e mais um longa-metragem sendo produzidos com a chancela do SerraAção e em menos de um mês, já alcançamos a casa de R$1 milhão”, afirmou Rosana Barroso, diretora-presidente do SerraAção - Polo Audiovisual de Nova Friburgo e região.

Com uma população rural de 12.553 habitantes, a produção agrícola também é destaque. A principal atividade é o cultivo de verdura e legumes, estimada em 62 mil toneladas ao ano com mais de 2.100 produtores envolvidos. As culturas de tomate e couve-flor juntas, representam em torno de 70% do total produzido no município. Nova Friburgo também é o maior produtor de morangos, flores de corte e trutas do estado.

"O município tem forte participação na área de agronegócios. Já foram planejados, implantados, supervisionados e divulgados mais de 7.000 subprojetos, beneficiando quase 2 mil produtores rurais, com um aporte de recursos não reembolsáveis da ordem de R$ 20 milhões. Atualmente, a cerveja artesanal e o cultivo de lúpulo vêm se destacando como uma atividade promissora em termos de produção em larga escala”, contou Paulo Cordeiro, vice-presidente de Agronegócios da Associação Comercial Industrial e Agrícola de Nova Friburgo (Acianf).

Desafios

Segundo o coordenador da Divisão de Estudos Econômicos do Rio de Janeiro da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), William Figueiredo, que apresentou um panorama da economia de Nova Friburgo, a cidade e a região tiveram seu potencial alavancado principalmente pelos incentivos fiscais. O estudo Retratos Regionais da Firjan apontou também os principais desafios e oportunidades para que o município continue se desenvolvendo nos próximos anos. Dentre eles estão a conclusão da atualização Plano Diretor Municipal, o atual é de 2002, e a conclusão do Plano Municipal de Mobilidade Urbana que precisa ser finalizado até janeiro de 2019 para ter acesso aos recursos orçamentários federais. A convalidação e a adesão aos incentivos dos estados vizinhos, como Espírito Santo e São Paulo, também foram citadas.

O cônsul-geral da Suíça no Rio de Janeiro, Rudolf Wyss, fechou o evento lembrando da antiga relação entre o seu país e o município e destacando as parcerias realizadas esse ano em homenagem ao bicentenário. Reconhecida oficialmente como a Suíça brasileira, Nova Friburgo foi a primeira cidade do país colonizada por suíços. Em 1818, 261 famílias desembarcaram por lá após autorização dada pelo rei Dom João VI. O nome é uma homenagem à cidade de Fribourg, local de onde veio a maioria dos colonizadores.

Após o seminário, o Salão Nobre da Alerj recebeu uma programação cultural com a exibição de curtas-metragens rodados em Friburgo, uma amostra de moda íntima, além da degustação de produtos da região.

Os deputados Comte Bittencourt (PPS) e Nivaldo Mulim (PR) e a primeira-dama de Nova Friburgo e coordenadora do Comitê 200 anos, Cristina Bravo, também estiverem presentes ao evento.

Confira a programação das festividades do bicentenário de Nova Friburgo:

2 a 17 de maio - Exposição “Nova Friburgo 200 anos” com fotografias de Regina Lo Bianco, alameda dos trovadores, bonecos em papel Marche de figuras históricas de Nova Friburgo confeccionados pelo artista plástico Zeppe.

9 de maio, 10h - Audiência Pública do Fórum de Desenvolvimento Estratégico do Estado do Rio de Janeiro sobre a agenda econômica de Nova Friburgo. Colaboração de representantes do Estado, dos polos cervejeiro, audiovisual, moda íntima, agrícola e metal mecânico.

16 de maio – Bicentenário de Nova Friburgo.

17 de maio, 17h - Lançamento da campanha "O Melhor Frio do Rio", pré-lançamento do Festival Sesc de Inverno e anúncio dos agraciados com a Medalhas Tiradentes pelos 200 anos do município.

Confira aqui as apresentações do seminário “Nova Friburgo 200 anos: potencialidades e agenda para o futuro”.

Acompanhe aqui a repercussão do evento na imprensa.