Mais valem os frutos na mão do que as palmeiras no chão

A palmeira Juçara é mais uma espécie original da Mata Atlântica que corre risco de extinção. A devastação vem ocorrendo devido à extração clandestina do seu palmito . A Frente-Pró Juçara quer tirá-la do risco de extinção demonstrando que colher seus frutos gera mais renda do que extrair o palmito.

A palmeira Juçara é mais uma espécie original da Mata Atlântica que corre risco de extinção. Sua devastação vem ocorrendo devido à extração clandestina do palmito guardado entre o final do seu caule e o início das folhas. A Frente-Pró Juçara quer tirar a palmeira do risco de extinção demonstrando que colher seus frutos gera mais renda para as comunidades rurais do que derrubá-la ilegalmente para extrair o palmito. O fruto é quase idêntico ao açaí da Amazônia em sabor, coloração e textura. Possui a vantagem de ter de três a quatro vezes mais o antioxidante antocianina, além de ter 70 % mais ferro e 63% mais potássio do que o açaí. Para estimular o consumo do fruto da Juçara, a Frente desenvolveu um sorvete chamado Juçaí, ele também leva mel, banana e inhame na receita. Segundo George Braile, idealizador do projeto, o sorvete de juçara é um “super-alimento”, suas substâncias contribuem para o bem-estar físico e para a saúde, como suplementação energética e calórica, aprimoramento da memória, redução do risco de doenças coronárias e prevenção da hipoglicemia.  

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A atividade de extração de palmitos é clandestina e provoca um cenário devastador. Ao avançar sobre a floresta, os chamados palmiteiros seguem derrubando as árvores, se distanciando cada vez mais do lugar onde moram. Em vez de reprimir a atividade ilegal, a Frente-Pró Juçara vem atraindo essa mão de obra para trabalhar na coleta do fruto da Juçara. “Economicamente, é mais vantajoso colher o fruto do que derrubar as árvores em uma atividade clandestina, na calada da noite. A coleta de frutos gera mais recursos do que exercer uma atividade criminosa que é a extração de palmito. É mais lucrativo, sobretudo porque é uma atividade duradoura, em contrapartida, ao cortar o palmito a atividade se encerra com a extração”, afirmou o professor de direito ambiental da PUC e cofundador da Frente-Pró Juçara, Oscar Graça Couto.

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Para conseguir engajar a comunidade na produção da polpa do fruto da Juçara, a Frente conseguiu incluir o sorvete na merenda escolar de duas escolas municipais. “Fazemos o trabalho de educação ambiental junto às escolas públicas. Além disso, conseguimos que as escolas municipais de Resende e Itatiaia adicionassem o sorvete de juçara à sua merenda escolar”, explica Oscar. A inclusão da polpa e do suco de Juçara na merenda é um dos objetivos da Frente. “É uma conquista importante porque ocupa os agricultores locais. O Estado, por força de lei, fica obrigado a comprar alimentação orgânica e contribuir para a biodiversidade. É uma espécie de compra garantida pelo governo”, afirma.

 

Para o professor de direito ambiental Oscar Graça Couto, os benefícios do aproveitamento do fruto da Juçara contemplam o meio ambiente, a economia e o social. “Os pilares ambiental, social e econômico são fundamentais para o projeto, eles operam juntos, de modo absolutamente harmônico e necessário. Sem qualquer um deles o projeto não seria o que é”. Isso porque gera renda e trabalho para os produtores familiares ao mesmo tempo em que oferece acesso a uma alimentação nutritiva, propiciando uma vida saudável. “As crianças de populações desfavorecidas seriam beneficiárias diretas desse programa. Uma das maiores tragédias é a questão da insegurança alimentar, porque ela compromete as pessoas pelo resto da vida delas. Se a pessoa não ingere uma quantidade mínima de calorias, vitaminas e minerais durante uma fase da infância, ela tem o cérebro comprometido para o resto da vida”. Segundo Oscar, problemas nutricionais como a anemia, derivada da falta de ferro na dieta, podem ser evitados com o consumo do Juçaí. “Esse é um dos alimentos mais ricos em ferro do mundo inteiro. O Juçaí é feito de juçara, inhame, banana e mel, ingredientes que qualquer agricultor pode ter dentro da sua propriedade, por menor que seja, com isso você faz uma superalimentação”, afirma Oscar.

A produção do sorvete Juçaí é feita na Serrinha do Alambari, em Resende, na fazenda de Braile. A empresa garante a compra do fruto de todos os coletores da região. Segundo o economista George Braile, a compra do fruto de Juçara está sendo feita à R$1,50 por quilo. A ideia, no entanto é expandir o projeto. “A gente pretende expandir esse trabalho, por isso se chama Frente-Pró Juçara, queremos envolver tantas pessoas ou partes interessadas quanto possível, sem protagonismos. Pelo fato de estarmos mais avançados nos estudos, o nosso trabalho é dividir informações e engajar pessoas nessa frente, nesse movimento”, explica o professor de direito ambiental Oscar Graça Couto.

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A próxima fase do projeto, segundo Oscar, é capacitar os agricultores e coletores do fruto da Juçara, para que possam desenvolver toda cadeia produtiva do sorvete Juçaí de forma independente. “Se em vez de colher e vender o fruto, eles venderem a polpa, eles agregam valor a essa cadeia do produto. Dessa forma, as pessoas vão gerar renda e trabalho para si próprio”.

O Núcleo Interdisciplinar de Meio Ambiente (Nima) da PUC-Rio está engajado na Frente-Pró-Juçara. Segundo o Coordenador do Projeto de Educação Ambiental, Roosevelt Fideles, os alunos das escolas municipais de Acari e de Nova Iguaçu plantam dez mudas da espécie de palmeira Juçara em cada visita ao Campus Rural da PUC, no Tinguá. “Os alunos que tiverem quintal em casa, também podem levar exemplares para plantar” afirma Roosevelt.

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O Campus da Gávea da PUC também recebe alunos das escolas municipais do Rio de Janeiro. “Aqui no Campus nós fazemos o trabalho de capacitação de professores para a educação ambiental e trazemos alunos para aulas ecológicas e ambientais” afirma o coordenador de educação ambiental do Nima.

Uma em cada quatro árvores de muitas regiões desta floresta era da espécie Juçara, por isso os índios chamavam o Brasil de Pindorama, que em tupi-guarani significa terra das palmeiras. O fruto da Juçara serve de alimento a mais de 60 espécies animais, como tucanos, jacus, antas, morcegos, saíras, lagartos e ao próprio homem. Em contrapartida, os animais disseminam a semente da Juçara pela floresta da Mata Atlântica. Trata-se de uma espécie de planta muito eficaz na disseminação das suas sementes. “Ela atrai os pássaros e dispersam sementes, por isso ela é muito abundante, desde mamíferos até lagartas fazem isso. Mas esse equilíbrio foi corrompido pela devastação das palmeiras para a obtenção do palmito” afirma Oscar.

A Frente se comprometeu a plantar milhões de sementes da palmeira. A PUC já plantou, só no seu campus da Gávea, 500 mudas. “As doações são feitas pelo programa Amável - A Mata Atlântica Sustentável, do qual faz parte a Frente-Pró Juçara”, afirmou Oscar. Existem mais de 10 milhões de sementes a disposição para serem doadas por ano. “Doamos para quem se apresentar com o compromisso de plantar. A condição é plantio”. Para adquirir sementes, basta manifestar interesse pelo site www.projetoamavel.com.br. 

A universidade Puc-Rio também disponibiliza sementes e mudas, por meio do Núcleo Interdisciplinar de Meio Ambiente (NIMA). Para o plantio das sementes, o professor Oscar Graça Couto indica que se deixe a semente imersa em água por dois dias antes de enterrá-la e que se escolha uma área de sombra para plantá-la, de preferência em época de chuva.

 

Por Beatriz Perez