Seapec e Sebrae focam em trabalhos de fiscalização e conscientização do uso de agrotóxicos no Rio

Trezentas mil toneladas. Essa é a atual quantidade de agrotóxicos consumida no país. Os produtos, que vêm sendo motivo de discussão entre agricultores e especialistas, ainda geram um grande questionamento: até que ponto o uso de pesticidas é prejudicial à saúde humana?

Trezentas mil toneladas. Essa é a atual quantidade de agrotóxicos consumida no país. Os produtos, que vêm sendo motivo de discussão entre agricultores e especialistas, ainda geram um grande questionamento: até que ponto o uso de pesticidas é prejudicial à saúde humana?

Com aproximadamente 1.400 produtos disponíveis no mercado, o Brasil é considerado hoje o maior consumidor de agrotóxicos por habitante do mundo, onde, segundo o Sindicato Nacional para Produtos de Defesa Agrícola (Sindag), cada brasileiro, em média, ingere 5,2 litros de pesticidas por ano. O número exorbitante acaba aumentando ainda mais a quantidade de pesquisas e trabalhos, que buscam esclarecer os efeitos dos produtos na saúde da população.

Apesar de a quantidade diferir em todo o país, a região sudeste é a que apresenta o maior uso de agrotóxicos, chegando a atingir aproximadamente 38% do valor total. O Rio de Janeiro, por outro lado, representa menos de 1% da região, na frente apenas do Espírito Santo. De acordo com o engenheiro agrônomo e coordenador setorial de controle de agrotóxicos da Secretaria de Estado de Agricultura e Pecuária (Seapec), Leonardo Vicente da Silva, o trabalho de fiscalização, realizado pela secretaria, tem sido bastante positivo.

“Atualmente, o estado possui 80 mil propriedades agrícolas, sendo a maior parte basicamente familiar. Nós realizamos a fiscalização dos agrotóxicos utilizados na lavoura, definimos sua quantidade, auxiliamos o agricultor no Cadastro de Agrotóxicos do Estado e informamos à população de que o produto não é proibido. Existe uma lei federal que autoriza fabricantes, comerciantes e produtores a fazerem uso dos pesticidas, mas o impacto do uso tem que ser aceitável. Não é qualquer agrotóxico que pode ser utilizado, pois até o clima influencia no resultado final”, definiu Leonardo, ressaltando que não cabe ao agricultor decidir qual produto será utilizado.

“Essa decisão é tomada pelo agrônomo. É necessário ter a Receita Agronômica, que é a prescrição e orientação técnica para a utilização de agrotóxicos, por um profissional legalmente habilitado. Para se ter uma ideia, um produto que funciona muito bem na Alemanha, pode não funcionar no Rio de Janeiro ou em qualquer outro lugar do país, seja por conta do clima ou do tipo de solo encontrado no local”, explicou.

Apesar das divergências entre agricultores e especialistas, os estudos mostram que o número de intoxicações por agrotóxicos vêm crescendo a cada ano. De acordo com um estudo realizado pela USP, de 1999 a 2009, aproximadamente 1.600 foram intoxicadas no Rio de Janeiro, sendo a maior parte delas definida como tentativa de suicídio e acidentes individuais. No mesmo período, foram registradas cerca de 30 mortes. Este ano, quatro pessoas morreram em decorrência do uso de pesticidas.

Para Leonardo Vicente, a Seapec tem realizado um trabalho forte em cima do acompanhamento e da divulgação do uso correto de agrotóxicos no Rio de Janeiro. “Nossa preocupação é a qualidade do alimento que é servido à população. Trabalhamos no incentivo à devolução de embalagens vazias do produto, no uso de equipamentos de proteção e no sistema de análise de resíduos unificado do estado. Queremos separar o bom do mau agricultor, colocando, com base na legislação, um norte em cima disso. Sabemos que, se utilizado dentro das normas técnicas, o produtor está autorizado a usar e servir seu produto à população”, acrescentou.

Nadando contra a corrente, o Sebrae/RJ promove há três anos a disseminação da metodologia de Produção Agroecológica Integrada e Sustentável (Pais). “Com apoio financeiro da Fundação Banco do Brasil e BNDES, esta ação contempla, até o momento, 540 propriedades da Agricultura Familiar, distribuídas em 27 municípios das regiões Noroeste, Centro Sul e na Região de Influência do Comperj. Essa metodologia visa disseminar a Agroecologia como uma forma sustentável de produção e acompanha as famílias contempladas durante 30 meses, ensinando como fazer a transição da agricultura convencional para a orgânica, além das orientações para gestão e apoio ao acesso a mercados”, destacou o analista Marcos Gentil Carvalho, da Coordenação de Alimentos do Sebrae/RJ, ressaltando que a a produção agroecológica não é considerada orgânica, e sim um sistema de produção que não utiliza agrotóxicos.

“Nos próximos três anos, o Sebrae/RJ dará início ao projeto que visa fortalecer a cadeia de orgânicos no estado do Rio de Janeiro para estimular e apoiar os produtores certificados como orgânicos e os que estão em Transição, com ações de fortalecimento da gestão e o acesso a mercados”, anunciou Marcos.

 

Texto por Yuri Gerstner