Simpósio busca aprofundar discussões sobre história pública no Brasil

Dos dias 10 a 12 de setembro, a Universidade Federal Fluminense irá sediar o 2º Simpósio Internacional de História Pública, que neste ano terá como tema as “Perspectivas da História Pública no Brasil”. O evento, realizado pela Rede Brasileira de História Pública, ocorrerá no Campus de Gragoatá em Niterói.

Dos dias 10 a 12 de setembro, a Universidade Federal Fluminense irá sediar o 2º Simpósio Internacional de História Pública, que neste ano terá como tema as “Perspectivas da História Pública no Brasil”. O evento, realizado pela Rede Brasileira de História Pública, em parceria com o Laboratório de História Oral e Imagem, ocorrerá no Campus de Gragoatá, anfiteatro do Bloco O, São Domingos, Niterói.

Com diversas conferências, mesas-redondas com debatedores convidados, oficinas, apresentações orais em painéis temáticos e lançamentos de livros, o evento tem como característica a interface da História com o cinema, o jornalismo, o turismo, a música, o teatro, dentre outras áreas. O objetivo principal do seminário é realização de bienais e simpósios sobre história pública no Brasil.

Apesar de já estar presente há algum tempo em países como Estados Unidos e Canadá, o debate sobre história pública ainda está sendo iniciado no Brasil. Na entrevista a seguir, a professora de História da UFF, Juniele Rabelo, esclarece ao nosso portal algumas questões sobre a história pública no Brasil e o seminário, que acontecerá no início de setembro.

QDME: O debate desse tema é recente no Brasil, mas pouca gente sabe sobre o que realmente se trata.O que é história pública?

Juniele Rabelo: A expressão “história pública” ultrapassa a ideia de acesso e publicização de concepções em vigor na academia. É necessário o estabelecimento de pontes entre o saber acadêmico construído e o trabalho não-científico, promovendo a difusão e o desenvolvimento de uma “história” que estimule a participação e colaboração das diversas “comunidades” fora e/ou dentro do espaço universitário. Considera-se, assim, o desejo de diálogo com as práticas e reflexões não acadêmicas compromissadas com a cultura histórica.

QDME: Diante deste cenário, é possível dizer que não há uma função de “historiador público”?

JR: Penso que a História Pública não é feita apenas por historiadores. No Brasil, buscam-se, diante da elasticidade da expressão “história pública”, oportunidades para abordar temas como: a relação entre o saber histórico e a diversidade de seus públicos; o impacto social da produção acadêmica brasileira na área de história; o papel dos intelectuais no espaço público; a função da história pública na divulgação e no gerenciamento do patrimônio material e imaterial; o impacto das novas mídias sobre as estratégias de produção e publicização da história; os diálogos entre a história e outras áreas de conhecimento aplicado, como o jornalismo, o cinema, a gestão de organizações, o turismo; a relação entre história e literatura, em múltiplos âmbitos da narrativa histórica: as biografias, os testemunhos, a ficção histórica. Nesse campo se estabelecem os pressupostos para a coprodução do saber problematizado sobre o passado, em um exercício no qual diferentes linguagens e metodologias se complementam e ajudam na percepção histórica para além dos espaços acadêmicos e escolares. A diversidade de leituras e procedimentos da história pública incide sobre o conhecimento histórico, não apenas preocupada em atingir um público maior, mas aprender com ele, com suas mudanças e demandas. A história pública deve levar em conta as necessidades, os movimentos e os imaginários das comunidades nas quais está inserido, e pode contribuir na organização e divulgação de interesses múltiplos.

QDME: Como a relação com a comunidade influencia e incentiva historiadores na resolução de problemas sociais?

JR: A história pública sugere práticas de responsabilidade político-social com a memória coletiva. Nesse sentido, a narrativa fílmica, a história oral e as inúmeras articulações visuais, verbais, sonoras e textuais podem contribuir para a elaboração e socialização da produção do conhecimento histórico. As necessidades e os interesses de uma comunidade podem inspirar projetos em história pública envolvendo os membros dessa coletividade, pesquisadores acadêmicos e não acadêmicos em colaboração.

QDME: Como dessas pesquisas incita a consideração de projetos de histórica aplicada, tanto em âmbito público, quanto no privado?

JR: O conceito de história pública não é novo, mas a reflexão sobre sua especificidade no Brasil se expandiu nos últimos anos. Para além da divulgação de um conhecimento organizado e sistematizado pela ciência, a história pública revela a possibilidade de construção e difusão do conhecimento histórico – de maneira dialógica, integrada e responsável – por meio de centros de memória, museus, arquivos, televisões, rádios, cinemas, teatros, editoras, jornais, revistas, organizações governamentais e não governamentais, consultoria, entre outros espaços. O debate sobre história pública no Brasil estimula reflexões sobre a atuação dos diferentes profissionais que lidam diretamente com as chamadas representações históricas. Vislumbra-se, ao integrar múltiplos campos e recursos, a história e seus diversos públicos em um caminho de conhecimento e prática. Experiências diversas dão mostra de como o debate sobre história pública continua a render frutos e pode ser ampliado e enriquecido, dentro e fora da academia.

QDME: O que é a Rede Brasileira de História Pública e qual a sua função?

JR: Os pilares da Rede Brasileira de História Pública foram construídos durante o “Curso de Introdução à História Pública”, ocorrido na Universidade de São Paulo (USP) em fevereiro de 2011, promovido pelo Núcleo de Estudos em História da Cultura Intelectual. O curso resultou no lançamento do livro “Introdução à História Pública” que reuniu autores brasileiros e estrangeiros; abrindo caminho para realização do “I Simpósio Internacional de História Pública: a história e seus públicos” realizado pelo Departamento de História da USP em julho de 2012. Tais iniciativas demonstraram a fertilidade do tema e a disposição de um número expressivo de pessoas em constituir um foro que acolhesse os diversos trabalhos em curso. Em janeiro de 2013 foi lançada, na rede mundial de computadores, a página da “Rede Brasileira de História Pública” (RBHP): www.historiapublica.com. No intuito de divulgar a RBHP, em julho de 2013, se realizou o Simpósio Temático “A História Pública e os Públicos da História” durante o XXVII Simpósio Nacional de História – UFRN. E, em setembro de 2013, se reuniu o Grupo de Trabalho “História Pública e Oralidades” no X Encontro da Regional Sudeste da Associação Brasileira de História Oral – UNICAMP. No dia 14 de novembro de 2013 ocorreu o encontro “História: vários públicos, várias narrativas” no Museu Histórico Abílio Barreto de Belo Horizonte, promovido pelos programas de pós-graduação em História das Universidades Federais de Minas Gerais (UFMG), Fluminense (UFF) e do Rio Grande do Sul (UFRGS). Tratou-se de um evento de sensibilização para o evento aqui proposto: o “II Simpósio Internacional em História Pública”, a ser realizado em agosto de 2014 na UFF.

QDME: Qual a importância da realização do 2º Simpósio Internacional de História Pública?

JR: O segundo encontro internacional da Rede Brasileira de História Pública busca consolidar uma sistemática de realizações bienais de simpósios de história pública no Brasil. Nesta ocasião, em face da rápida proliferação de iniciativas em torno da história pública em vários estados brasileiros, consideramos extremamente propício problematizar o próprio desenvolvimento desta prática, levantando questões como: Qual o lugar da história pública no panorama internacional? O que a história pública brasileira pretende ser e o que se espera dela? Quais são suas especificidades? Quais as raízes, os caminhos e as marcas da história pública feita no Brasil?

QDME: O tema "Perspectivas das História Pública no Brasil" sugere a interação entre diversos historiadores e pesquisadores do país. Como esse "intercâmbio intelectual" contribui para a continuidade da Rede Brasileira de História Pública?

JR: Acreditamos que o tema aglutinador escolhido para este Seminário Internacional – “Perspectivas da História Pública no Brasil – abre-se para um elenco de tópicos bastante instigante e variado, propiciando o cruzamento de fronteiras entre diversas áreas de conhecimento e atuação, acadêmicas e não acadêmicas. Tal intercâmbio intelectual, empreendido entre pesquisadores e profissionais de várias áreas, contribuirá enormemente para a continuidade da Rede Brasileira de História Pública. Para tanto, este encontro terá um perfil nitidamente inter-institucional, interdisciplinar e transnacional. O II Simpósio Internacional de História Pública terá dentre suas atividades conferências, mesas redondas com debatedores convidados, oficinas, apresentações orais em Grupos de Trabalhos e Painéis temáticos, sessões de comunicação de Iniciação Científica e Iniciação à Docência, apresentações lançamentos de livros e outros trabalhos.

Outras informações em http://simposio2014.historiapublica.com.br, no site da Rede Brasileira de História Pública,emwww.historiapublica.com, ou pelo e-mail Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo..