Cidades precisam buscar identidade e serem autênticas, afirmam palestrantes do Seminário Serrano de Economia Criativa

Os holandeses Evert Verhagen e Sander Troost, e a brasileira Marta Reis mostraram como a autenticidade transforma não só o produto, mas o espaço e a economia. As três palestras lotaram o Teatro de Nova Friburgo de otimismo e boas ideias durante o 3° Seminário Serrano de Economia Criativa.

Moda, arquitetura, redesenho de estruturas abandonadas. Tudo isso dialoga e pode contribuir para criar identidades, tornar uma cidade um local de encontro dos talentos, abrindo oportunidades de mercado. A importância de empreender de acordo com a cultura, o capital humano e o ambiente em que se está inserido foi ressaltada pelos três palestrantes que abriram nessa manhã o 3° Seminário Serrano de Economia Criativa. Os holandeses Evert Verhagen e Sander Troost, e a brasileira Marta Reis mostraram como a autenticidade transforma não só o produto, mas o espaço e a economia. As três palestras lotaram o Teatro Municipal de Nova Friburgo de otimismo e boas ideias. O seminário começa hoje (30.05) e segue apresentando soluções criativas para as cidades até às 18 horas de sábado (31.05).

Evert Verhagen, idealizador do projeto "Cidades Criativas", afirmou em sua palestra que os produtos são mais valorizados à medida que tocam o coração e a emoção de seu consumidor. Esta identidade não é dada pela indústria ou pela técnica, mas pelo designer, pelo criativo. De acordo com Verhagen, o foco deve ser na criação de espaços de encontro. Apesar dos grandes centros urbanos serem muito atrativos, alguns lugares se destacam. "Nova Friburgo tem uma possibilidade de cluster. Basta conectar três ou quatro investimentos com a faculdade para ser mais atraente. A cidade fica perto do aeroporto (do Rio), está conectada pela internet, então parem de exportar talentos", ressaltou. Quanto à necessidade de sensibilizar os políticos, Verhagen chamou a plateia à ação. "Não devemos ficar pensando em grandes montantes de dinheiro. Precisamos começar, apresentar o projeto e convencer os políticos de ele é viável", afirmou. 

Para o arquiteto Sander Troost - responsável pelo projeto da Arena da Amazônia, do Estádio Mané Garrincha, em Brasília, e pelo Mineirão -, é importante em qualquer projeto se integrar ao ambiente, ressaltando suas características. Ele apresentou uma série de projetos do escritório alemão GMP, em que trabalha, de grandes estádios pensados para serem úteis a sociedade, dialogando com a cultura, tradição e ecologia locais. Ele morou dois anos em Manaus e voltou recentemente para ver a Arena da Amazônia pronta. Segundo Troost, foi uma felicidade ver que o governo já reconheceu o potencial de atração do turismo e integrou arena e outras tradições locais em sua publicidade. "Para Manaus, a Copa é uma oportunidade de ganhar visibilidade, e já há projetos para depois da Copa, principalmente de grandes shows, o que dá novas funções a esta instalação", explica Troost. Ele ressaltou a importância de as arenas esportivas serem cada vez mais multifuncionais, já que é preciso dar uso aos espaços de forma a torná-la rentável. 

A busca das características locais, da identidade, que esteve presente nas duas primeiras palestras também foi ressaltada pela designer e consultora de moda Marta Reis. Para ela, o sucesso da marca está ligado a formação de sua identidade. "A autenticidade das peças, preocupação com a campanha e com a exposição dos produtos têm que ser pensados para atrair o consumidor e firmar a marca. A moda do Brasil é muito bem vista. Se você conseguir trabalhar com autenticidade, ela vende facilmente."

A cultura local, assim como as artes e o movimento da sociedade, são matérias-primas para a criação no design. Além de ter trabalhado com moda de praia, Marta fez figurino para shows, teatro, balé e musicais e enfatiza a valorização de produtos que dialogam com o meio artístico. "Eu recomendo muito que se invista em cultura. O cinema, as artes plásticas e a arte em geral indicam o que vai acontecer no mercado da moda", aconselhou Marta Reis, que encerrou a manhã sublinhando a importância de fugir da cópia. "Hoje me parece que as marcas estão muito preocupadas umas com as outras. Está tudo igual. Se você quer ser respeitado, não copie". 


Texto de Beatriz Perez