Uma das incoerências da sociedade atual está na exigência de formação e informação sem que isso seja garantia de trabalho. Isso somado ao incentivo ao individualismo e ao consumismo desenfreado está provocando a falência dos modelos existentes – tanto o europeu, referência por séculos para o Brasil, quanto o americano. Há a urgência de se desenvolver um modelo de sociedade que prime pela coletividade. As tendências da vida moderna para o ano de 2020 foram o tema da conferência do sociólogo italiano Domenico de Masi no segundo dia da Conitec 2012 – II Congresso Nacional de Inovação, Trabalho e Educação Corporativa, que este ano focou na inteligência coletiva, nos grupos criativos, redes sociais, redes de inovação e de educação corporativa no cenário do mundo contemporâneo. Participaram do evento, realizado na Universidade Corporativa da Petrobras, instituições que adotaram Universidades Corporativas como meio de inovação, capacitação e sustentabilidade do trabalhador.
Em 2020, as atividades repetitivas e de fácil execução, de natureza manual e intelectual, terão quase desaparecido no primeiro mundo. Terão sido absorvidas pelas máquinas e transferidas para o terceiro mundo. Os trabalhadores criativos serão estimulados pela motivação e será cada vez mais difícil distinguir estudo, trabalho e tempo livre. A melhor definição de suas atividades será a de ócio criativo. Entretanto, será preciso e difícil, cada vez mais, redistribuir a riqueza, o trabalho, o saber e o poder.
O sociólogo destacou a longevidade e a biotecnologia como motores desta nova realidade. Segundo De Masi há a possibilidade de as pessoas viverem mais e melhor, considerando que a maioria envelhece somente nos dois últimos anos de vida, durante o qual as despesas farmacêuticas vão corresponder ao mesmo valor gasto em remédios durante toda a vida. Assim como o século XX foi marcado pela automação, o século XXI será conhecido pela biotecnologia e as maravilhas da engenharia genética, que possibilitarão a cura para diversas doenças. Poderemos, ainda, carregar toda a cultura do mundo em um chip que terá o tamanho de um neurônio humano.
Para o sociólogo, a internet poderá conter todo o amor e todo ódio do planeta. Haverá o tele estudo, o tele trabalho, tele amor e tele diversão. Corremos, assim, o risco da obesidade pela ausência de movimento e abstração pela ausência de contatos materiais com os semelhantes. Ocupar o tempo livre evitando o tédio e a violência será um desafio.
Em 2020, 60% dos estudantes universitários, pós graduados e mestrados serão mulheres e, por isso, elas estarão no centro do sistema social. Entre os estilos de vida, prevalecerá a androgenia com os homens assimilando valores naturalmente femininos como estética, subjetividade, emotividade e maleabilidade. A estética será o principal fator competitivo. O mundo estará mais rico e desigual. Na sociedade de serviços, a vantagem competitiva estará na confiabilidade no desempenho e na qualidade do trabalho. Cada um gostará de fazer aquilo que tem paixão e atuará em setores pelos quais sentir motivação intensa, sendo assim, mais eficientes. O global superará a identidade local e primar pela produção de conteúdo de muitos para muitos será a saída. “No Brasil, 65% dos trabalhadores fazem trabalho intelectual, o que abre espaço para o trabalho e a diversão. O ócio criativo não é não fazer nada, é fazer três coisas: trabalhar para gerar riquezas, aprender para gerar o saber e se divertir para criar alegria”, ressaltou Domenico, destacando que o Brasil tem muito a ensinar e contribuir para a criação deste novo modelo que está emergindo. "Como viverá por mais tempo, cada cidadão buscará a melhor qualidade de vida. Logo, é preciso viver bem hoje e em 2020", completou.