Uma visão equivocada

Neste artigo o presidente da Assespro-RJ, Ilan Goldman, critica a iniciativa do Ministério de Ciência e Tecnologia de focar o pacote de estímulo a TI na exportação de serviços. Para Goldman, as empresas devem ter sucesso primeiro no Brasil e o Governo pode ajudar através das compras governamentais.

Foi com surpresa que a Assespro recebeu a notícia de que o governo fará pacote para estimular a Tecnologia da Informação (TI), baseado na exportação de serviços. Esta foi a interpretação do setor que veiculou nota no Jornal do Comércio da semana passada.

Já ficou comprovado em ações anteriores que, para se tornar um participante significativo no mercado internacional, uma empresa deve ter sucesso primeiro no Brasil. E neste aspecto, o governo pode contribuir como grande comprador que é.

A Assespro Nacional preparou uma lista de 12 ações que entendemos importantes para o setor, mas a proposta do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) parece levar em conta tão somente o interesse das grandes empresas, principalmente de serviços, que querem recursos do governo para terceirizar o desenvolvimento ao redor do mundo, ainda perseguindo o modelo indiano. Parecem esquecer que o setor carece de mão de obra qualificada para atender as nossas demandas internas.

Não é novidade que a terceirização de mão de obra é a antítese do conhecimento e, sem conhecimento, os países perdem competitividade em seus mercados. Como exemplo, podemos citar o mercado de Óleo & Gás, onde países como a Noruega e o Reino Unido investiram na indústria do conhecimento em TI para O&G junto aos seus mercados internos, e hoje são referência no mundo inteiro.  Ou podemos optar em agir como a Arábia Saudita, onde quase tudo é contratado de empresas estrangeiras. Escolher o caminho da retenção do conhecimento é do que o Brasil precisa.

A Assespro vem tentando sensibilizar o MCTI com as reais demandas da TI nacional, mas parece que a conversa de que o Brasil pode ser a Índia da próxima década tem mais sonoridade. Quando é que o MCTI vai de fato ouvir o setor?

Ilan Goldman é presidente da Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação, Software e Internet (Assespro-RJ)