Boas ideias em sustentabilidade no esporte: Entrevista com Carla Araújo

Carla Araújo é fundadora da Associação Brasileira para o Esporte Sustentável (ABES) que através de uma gestão participativa e da criação de parcerias, pretende melhorar o mundo através do esporte. Nesta entrevista Carla Araújo fala sobre a ABES e sobre sustentabilidade no esporte.

Carla Araújo é uma das fundadoras da Associação Brasileira para o Esporte Sustentável (ABES) que através de uma gestão participativa e da criação de parcerias, pretende melhorar o mundo através do esporte. Além disso, Carla Araújo participa do grupo de pesquisa do CNPq de gestão de esporte e é mestre pela Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, FADEUP. Nesta entrevista Carla Araújo fala sobre a ABES e sobre sustentabilidade no esporte.

A senhora é uma das fundadoras Associação Brasileira para o Esporte Sustentável (ABES). Como foi criar essa associação? Que função ela vai ter?

A ABES surgiu a partir de um desafio lançado pelo professor Lamartine Da Costa no Simpósio Rio Londres. Depois disso tivemos várias reuniões na Alerj patrocinadas pelo Fórum Permanente. Já temos o apoio de outras instituições como Beyond Sports World, Barclays Bank, Time, além de outras entidades representando os esportes como a Confederação Pernambucana de Remo e a presidente da Confederação de Golfe. Essas parcerias não são somente para apoio financeiro, mas para nos dar credibilidade. Assim, criamos essa associação que tem como papel principal discutir o poder do esporte como transformador de uma sociedade. Já temos uma página no Twitter e no Facebook e tivemos um pré-lançamento na Ted-X. Estamos ainda procurando várias parcerias, academias, comitês olímpicos, universidades e outros que estejam interessados em promover um mundo melhor através do esporte.

Como funciona a gestão da Associação Brasileira para o Esporte Sustentável?

Nós trabalhamos através de uma gestão participativa. Não existe uma presidente ou uma gestora principal. Desta forma, nós nos obrigamos a trabalhar mais para chegar a um consenso. Temos que pensar fora da caixa. Isso para mim, é sustentabilidade. É escutar todas as opiniões, estudar profundamente o assunto, arranjar estratégias para criar um ambiente de gestão participativa, dar o direito a opinião e respeitar a democracia.

Quais são os planos para o futuro?

Depois que criarmos parcerias suficientes e nos estabelecermos como uma associação sólida, queremos, em 2013, realizar um simpósio para discutir ações concretas de sustentabilidade para os nossos membros e para quem possa interessar.

A senhora diz não gostar do termo “legado”. Porque?

Gosto de um conceito de uma tribo indígena norte-americana que afirma que qualquer atitude que tomamos, temos que pensar nas consequências até a nossa sétima geração. O termo legado, seja o tangível ou o intangível, é mensurável, trabalha com quantidades e não com esse tempo de sete gerações. Está na moda falar em legado ambiental e legado social. Não acredito que existe essa separação cartesiana. Um precisa do outro para existir. Por isso prefiro falar em desenvolvimento sustentável que engloba isso tudo. Com esse termo se pode falar também de valores subjetivos como satisfação da população, autoestima, felicidade e hábitos.

Qual a relação do esporte com a sustentabilidade?

Atualmente, existe a cultura de que o esporte é somente um hobbie. Esquecemos que esporte significa saúde e a possibilidade de mudanças sociais. Por exemplo, através do basquete, uma pessoa que vive em uma comunidade carente, pode entender o que significa trabalhar em conjunto. Depois disso, ela pode perceber a importância dela dentro do time. Você faz a pessoa ter autoestima e com isso ela entende que tem direitos assim como qualquer outra pessoa. Correndo atrás desses direitos, ela vai ter acesso à educação de qualidade. Com isso começa um ciclo. O esporte muda a vida dessa pessoa que vai mudar a vida dos outros. Isso é sustentabilidade.

Então, qual vai ser o desenvolvimento sustentável dos megaeventos?

A sustentabilidade não pode excluir o homem. Muitos ecologistas acham que para o homem conviver com a natureza de forma positiva, é necessário regredir. O homem deveria praticamente viver nas cavernas. Isso não faz sentido. Temos que continuar a nos desenvolver para encontrar novas formas de lidar com o meio ambiente de forma positiva e sustentável. Gosto de usar um ditado americano, "think globally and act locally", em português, pense globalmente e aja localmente. Ou seja, temos que querer mudar, isso sim é uma mudança de hábito, é desenvolvimento sustentável.