Boas ideias metropolitanas: entrevista com Lamartine DaCosta

Nesta entrevista, o professor Lamartine Da Costa defende a importância de se institucionalizar a SAM Rio, uma megalópole formada por parte do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais. "Seria a apoteose da Olimpíada", diz o professor.

Nesta entrevista, o professor Lamartine Da Costa defende a importância de se institucionalizar a SAM Rio, uma megalópole formada por parte do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais. "Seria a apoteose da Olimpíada", diz o professor.

O senhor afirma que o legado dos Jogos Olímpicos de 2016 será o SAM Rio. O que é o SAM Rio?

A SAM Rio é uma denominação dada por professores da USP para a megalópole formada por São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. É uma proposta de entender a ligação econômica social e cultural do Rio com São Paulo. Na verdade, isso já acontece, mas não é institucionalizado. Por ser uma proposta, precisa de providências institucionais e legais, mas é inevitável. É a capital econômica do Brasil, da América do Sul e do hemisfério sul. Percebe-se então, que é uma região muito importante. Os Jogos de 2016 buscam a sua legitimidade através de legados. Um deles pode ser a SAM Rio que pode se aproveitar dos Jogos Olímpicos para buscar sua legitimidade porque isso vai ter que acontecer em algum momento. Fazer isso seria a apoteose das Olimpíadas.

E qual seria a vantagem de se institucionalizar a SAM Rio?

A vantagem é a seguinte: é tudo dividido em municípios. A SAM Rio, por exemplo, tem mais de duzentos municípios, é muita coisa. E um dos problemas na preservação ambiental é a separação de regiões por administrações públicas diferentes. Assim, um município toma alguma medida, o outro toma outra e muitas vezes não são coisas compatíveis. E a visão tem que ser de região, porque um depende do outro. É curioso que aqui no Vale do Paraíba, já tem acontecido essa integração dos municípios na questão do lixo. Poucas pessoas conhecem, mas é uma iniciativa de municípios que resolveram se unir para poder resolver a questão do lixo. Em São Paulo, fora da região do SAM Rio, nós temos a Associação dos Municípios do Alto Tietê (Amat) que são trinta e poucos municípios que se reuniram para administrar o rio que é uma coisa única, é uma estrada. Se um município joga o lixo em um ponto, vai afetar outro município em outro lugar do Tietê. Da mesma forma tem que ser nessa megalópole. Nas outras cidades grandes do mundo também é assim, se cria uma gestão pública integrada visando ao progresso. Mas é importante lembrar que precisamos institucionalizar essa SAM Rio sem conflitar com a nossa Constituição que define muito bem o que é município, o que é estado. Mas legalmente podem-se criar conjuntos de municípios por associação.

A SAM Rio tem algum paralelo com alguma megalópole do mundo?

Ela não se assemelha, é um caso único. Primeiro porque não foi planejada. Segundo porque ela tem sido descoberta. Fizemos um geoprocessamento, fotos de cima tiradas por satélites, e aí você vê claramente essa conglomeração e você conclui que é uma cidade só. Agora, quem é de Rio e de São Paulo não vê. Você só consegue ver de cima! É um contínuo urbano. Isso tem um efeito que pode ser positivo ou negativo. Negativo se tem muita gente concentrada sem infraestrutura. A Índia é um exemplo disso. Mas aqui, curiosamente, eu apelido de a “mão de Deus” porque não existiu planejamento. Temos três corredores ecológicos que é a parte da Mata Atlântica que foi preservada. Esse corredores percorrem a região desde Macaé até Sorocaba, é uma coisa só, garantindo um equilíbrio ecológico. Além disso, tem quatro parques ecológicos, um no Rio de Janeiro e três em Minas Gerais. Institucionalizando a SAM Rio seria mais fácil gerir e preservar todo esse espaço verde. Se institucionalizada também seria a única cidade do mundo entre duas enormes produções de energia. De um lado o pré-sal, a chamada amazônia azul e do outro lado a infindável região de plantação de cana que possibilita o etanol. A riqueza do Brasil hoje e no futuro, é a energia.

E na opinião do senhor, até quando a “mão de Deus” vai continuar ajudando?

Eu não sei até quando. Esse é o maior exemplo de que Deus é brasileiro. Uma prova disso é que Paris foi planejada de forma semelhante ao que é o SAM Rio. Corredores ecológicos, corredores tecnológicos, trem de alta velocidade para uma maior integração de um extremo ao outro... Tudo isso já existe aqui e o trem de alta velocidade já está sendo planejado, não com o objetivo da megalópole, mas com outro objetivo. Mais uma vez, a “mão de Deus” funcionou. Então tudo converge e está montado para um grande destino mas é preciso administrar esse destino. Não sabemos até onde vai a paciência de Deus. A coisa é muito mais séria do que aparenta.