Boas idéias em inovação: Entrevista com Renée Ben-Israel

Renée Ben-Israel é a vice-presidente de propriedade intelectual da Universidade Hebraica de Jerusalém e participou do seminário “O desafio da Gestão de Ativos de Propriedade Intelectual na era da Inovação Aberta e Móvel”, iniciativa da PUC-Rio.

Renée Ben-Israel é a vice-presidente de propriedade intelectual da Yissum TT - Universidade Hebraica de Jerusalém e participou, na PUC-Rio, do seminário “O desafio da Gestão de Ativos de Propriedade Intelectual na era da Inovação Aberta e Móvel”, iniciativa da Agência PUC-Rio de Inovação, em cooperação com o CNPq.

Fundada em 1925, a Hebraica é a mais antiga das sete universidades de pesquisa de Israel. A Yissum, departamento de propriedade intelectual, foi criada em 1964. Renée começou a trabalhar na Yissum em 1988, quando a receita anual do departamento era de US$ 8 milhões. Hoje, já chega em mais de US$ 37 milhões. O portfólio de patentes têm mais de 1.300 "famílias" de patentes — ou seja, que são registradas em no mínimo dois países. Atualmente, Renée chefia a Yissum encaregando-se de detectar projetos da universidade que têm potencial para serem patenteados, cuidar do registro e manutenção das patentes e fornecer à equipe de marketing e vendas todos os detalhes necessários para que elas sejam licenciadas.

Antes de lidar com o assunto propriedade intelectual, sobre o qual fez cursos de especialização nos Estados Unidos, Renée estudou ciências sociais e filosofia. O curso de ciências sociais ela começou na Universidade de São Paulo (USP) e terminou em Israel, para onde foi com 21 anos.

Nesta entrevista, Renée fala sobre as políticas públicas de apoio e incentivo à inovação, a importância da criação de parques tecnológicos universitários e sobre o estabelecimento de parcerias estratégicas.

Qual a função dos parques tecnológicos dentro das universidades?

Eles abrem oportunidades, criam uma situação onde a viabilidade técnica pode ser provada, já que dentro dos laboratórios universitários existe uma certa limitação. Se existe apoio e licenciamento, com os parques tecnológicos você pode dar um passo adiante e, estando dentro da universidade, manter uma proximidade com os pesquisadores, professores e estudantes, criando um estimulo à inovação e à pesquisa. Outro ponto é que é possível trazer as empresas para dentro do ambiente universitário. Com a incubadora, por exemplo, que desenvolve uma tecnologia que é vendida diretamente para o mercado. Com um parque tecnológico, você tem um duplo movimento. As empresas se instalam para aproveitar a capacidade de pesquisa das universidades e as universidades, a partir da produção de uma tecnologia, se aproximam do mercado de trabalho. Os dois lados ganham.

Em sua palestra, a senhora falou sobre a necessidade de parcerias e do fator sinergia, que deve ser maior do que a simbiose. O que isso quer dizer?

Bom, vou dar um exemplo. Imagine a possibilidade de criar um material mais leve e mais forte do que o vidro que está sendo utilizado nos carros. Eu sei fazer vidro, você é química e sabe fazer nanotecnologia no vidro. Juntos vamos criar um vidro muito melhor. Com a nanotecnologia pode ser até um material novo. Assim, não vai ser só um substituto para o vidro nos carros, mas quem sabe um material que poderá ser usado em vários outros lugares. Não vai ser só uma união ou simbiose da universidade com o mercado, vai se criar uma sinergia, um valor agregado que vai gerar mais lucros para os dois lados.

Qual o papel do poder público na formação dessas parcerias? Em investimentos?

É exatamente a função da chamada tríplice hélice: o governo dá as diretrizes, as pesquisas e as prioridades e fornece recursos, seja em forma de incentivos ou por meio de financiamento; a universidade agrega o conhecimento gerado e a empresa é a que tem os canais para levar isso ao consumidor. E o Estado nesse sentido pode ser um coordenador ativo ou pode simplesmente proporcionar os fundos e os incentivos para as outras partes agirem de maneira mais livre. Assim, ele funciona somente como um indutor.

E qual o papel das empresas privadas?

As empresas privadas vivem com uma folha de pagamento. Elas precisam de um certo incentivo para assumir o risco de se envolver numa pesquisa acadêmica. Então se o Estado proporcionar incentivos a essas empresas privadas, elas vão assumir esse risco, porque se não ela não podem deixar de pagar algum salário porque o dinheiro foi investido numa pesquisa que acabou não dando resultados lucrativos. Elas não podem gastar dinheiro à toa, têm que se justificar com seus acionistas. Agora quando o Estado proporciona fundos temáticos e regionais para as empresas privadas, elas vão querer fazer essas parceria. A empresa visa ao lucro. Se ela tem oportunidade de lucro, ela entra no negócio. Desta forma podemos perceber, que a ideia da tríplice hélice funciona, na medida em que as três partes dependem uma da outra e só funcionam e produzem resultados positivos juntas.