Dados da Mata Atlântica são reunidos em plataforma online

O Instituto Bioatlântica acaba de lançar o Geoatlântica, uma plataforma que cruza dados que estavam espalhados em mais de 50 bases de entidades públicas e privadas e informações cartográficas. O objetivo é facilitar simultaneamente o planejamento econômico, a conservação ambiental e a promoção de políticas públicas.

Um bando de dados pode ser transformado em um banco de dados, se a informação for organizada da forma correta. É o que provou o Instituto Bioatlântica (IBio), que acaba de lançar o Geoatlântica, uma plataforma online que organiza uma série de dados ambientais — grande parte deles públicos -—que estavam espalhados em mais de 50 bases, entre entidades públicas e privadas. O objetivo do projeto é facilitar a conservação ambiental, o desenvolvimento econômico e a promoção de políticas públicas — simultaneamente, de preferência.

A novidade da plataforma é que ela torna acessível ao público as chamadas informações georreferenciadas, que cruzam informações com dados cartográficos, antes reservadas a quem podia pagar por softwares específicos. "É importante democratizar o acesso a esse tipo de informação e Geoatlântica é favorável a isso, já que o sistema é leve e pode ser usado mesmo em conexões mais lentas", garante o gerente de Comunicação do IBio, Thadeu Melo.

O fato de os dados serem georreferenciados permite o planejamento de unidades de conservação seja mais eficiente, uma vez que os recursos naturais podem ser localizados facilmente, ponto importante na hora de demarcar essas unidades. Buscar formas de conservação ambiental também contribui para o desenvolvimento econômico, que depende da conservação dos recursos naturais para sustentá-lo a longo prazo. Nesse sentido, o Geoatlântica é uma boa ferramenta para garantir que a alocação de dutos, linhas de transmissão, além de plataformas petrolíferas e plantas industriais leve em conta as questões ambientais. "Ter a informação é o primeiro passo para tomar decisões", defende Edson Santiami, gerente de Geoprocessamento do IBIO.

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Outra aplicação interessante da plataforma é que ela serve de base para a promoção de políticas públicas. O poder público fluminense foi especialmente beneficiado nesse sentido. A área chamada de Corredor Serra do Mar, cuja maior parte está no estado do Rio, conta com dados sobre o índice de governança dos municípios, que vai de zero a dez. O índice é calculado levando em conta fatores como a existência nos municípios de conselhos de meio ambiente, comitês de bacias hidrográficas, dentre outros. "Com os dados sobre governança, é possível identificar os locais onde o desenvolvimento deve ser fomentado pelo Estado e onde as condições são favoráveis para isso", explica Santiami.

De acordo com ele o projeto inicial não era tão abrangente: a idéia era reunir dados apenas dos estados da Bahia e do Espírito Santo. "Quando vimos a quantidade e o potencial dos nossos parceiros, percebemos que o projeto podia crescer", conta Santiami. Entre as entidades que colaboraram com dados, ele destaca a colaboração de empresas de papel e celulose, como a Aracruz Celulose, que forneceram informações sobre suas plantações de eucalipto, resquícios de Mata Atlântica em suas terras, dentre outras. O Geoatlântica reúne dados sobre biomas, recursos hídricos, infra-estrutura e silvicultura, além de índices de governança, qualidade de água, ações socioambientais e implantação de unidades de conservação nos municípios.

Geoatlântica pode fomentar corredores ecológicos

Exemplo concreto do que uma boa base de dados pode ajudar a construir, o Corredor do Muriqui - outro projeto do IBio - visa a conectar fragmentos de Mata Atlântica, que formam uma verdadeira colcha de retalhos, com restos aqui e ali ao longo da sua área original. O objetivo é trazer benefícios para as cidades por onde passa, aumentando a freqüência de espécies ameaçadas de extinção.

O Corredor do Muriqui vai unir os parques estaduais do Desengano e dos Três Picos, abrangendo cerca de 240 mil hectares. Segundo a coordenadora do projeto, Gabriela Viana, o planejamento do corredor usou os dados do Geoatlântica antes que eles tivessem sido organizados. "Nosso trabalho teria sido muito mais fácil se já existisse a plataforma. Nós usávamos um software que cruza bancos de dados e mapas, mas cuja licença é muito cara", conta Viana, afirmando que espera que projetos semelhantes sejam estimulados pela plataforma.

De acordo com ela, como a maior parte da Mata Atlântica remanescente está em áreas privadas, o projeto enfrenta o desafio de convencer os proprietários da importância econômica da conservação ambiental. "Buscamos um diálogo com os proprietários rurais. Não podemos tomar medidas que agradem somente aos ambientalistas", observa Viana. Um argumento a favor desse tipo de projeto é que ele também é interessante economicamente, uma vez que conservar áreas de floresta é uma forma de combater a existência de pragas em plantações, além de fomentar o ecoturismo nas regiões por onde passa. Outro ponto interessante é a conservação das matas ciliares, que impede o assoreamento dos rios e garante ao proprietário rural uma fonte de água.

Para acessar o Geoatlântica, clique aqui.