Desertificação do Noroeste fluminense: um processo a ser revertido

Para o professor Hugo Barbosa Amorim, da UFRRJ, a melhor opção para combater o fenômeno é mudar a atual legislação de plantio e promover o cultivo por empresas privadas.

Ao longo dos últmos 200 anos, a região Noroeste do estado do Rio sofreu um longo processo de desmatamento, que traz como conseqüência uma gradual e constante tendência de desertificação do solo das cidades da região. Os reflexos desse processo se fazem sentir em várias esferas: a ambiental, a econômica e a social.

A desertificação não acontece do dia para a noite: ela é lenta e compreende várias etapas. Sem a vegetação para protégé-lo, o solo é aos poucos lavado pelas águas da chuvas e perde seus nutrientes. A luz do sol incide diretamente sobre o chão e o resseca, abrindo fendas conhecidas como voçorocas. Na última etapa do processo, que ainda não se iniciou na região, a argila torna-se areia e a desertificação tem seu fim.

“No Noroeste do estado, as causas desse processo são exclusivamente humanas e se devem exclusivamente ao desmatamento”, diz o professor Hugo Barbosa Amorim, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). “Sobretudo nos últimos 50 anos, por conta das várias culturas e ciclos econômicos da região, o ciclo se acelerou.”

Um terço do território do estado é tomado por pastagens

Para o professor, o fenômeno agrava o quadro de pobreza do Noroeste fluminense.

“O resultado disso é o êxodo para as cidades grandes, a migração de populações que vão ter condições de vida precárias na capital. Mas o que temos ali é um quadro de pobreza e abandono que já vem de há muito tempo. Não é nem possível dizer que a desertificação afeta o agronegócio, porque na verdade nunca houve agronegócio ali. Só agora esse setor começa a dar sinais”, diz o acadêmico.

Amorim defende que o reflorestamento feito diretamente pelo poder público é uma solução cara e inefetiva.

“O estado do Rio tem de 30 a 35% do território tomado por pastagens, a maior parte improdutivas. Se formos reflorestar, em 20 anos teremos ocupado 10% disso. É um processo lento, caro e ineficiente. São Paulo é um bom exemplo disso: só conseguiu reflorestar 3% do seu território. É uma saía ruim.”

Reformar a legislação para incentivar plantio privado

Segundo o professor, a melhor saída seria reformar a legislação vigente e incentivar as culturas privadas e com fins lucrativos.

“Conheço bem as empresas de papel e celulose e sei que elas querem muito investir. Para o proprietário de terras da região seria excelente também, porque ele não teria risco nenhum, apenas alugaria o terreno para essas empresas. Mas o que acontece é que, por uma legislação arcaica e muito mal feita, o plantio de eucalipto é praticamente proibido.”

Perguntado então o que o poder público pode fazer para reverter o problema da desertificação da região, Amorim é categórico: reformar a lei de plantio.

“Estamos perdendo oportunidades por besteira. A Aracruz quer pôr dinheiro lá, quer investir no plantio de eucalipto, que é um reflorestamento, e na fruticultura. Mas existe um certo ambientalismo retrógrado, que inspirou a legislação atual, e que não sabe o que é desenvolver uma região, o que é gerar empregos e aquecer uma economia. Existem outras culturas interessantes para lá, como as seringueiras. Mas para isso é preciso que o governo se mexa, incentive, promova a legislação adequada”, defende o professor.