Rio já não é a cidade brasileira que mais recebe eventos internacionais

Pelo segundo ano consecutivo, São Paulo sediou mais congressos no país. Especialistas e representantes de entidades falam ao Fórum sobre o que é preciso fazer para que o Rio explore a sua vocação e volte a ser a principal anfitriã do Brasil

Uma pesquisa recentemente divulgada pelo International Congress and Convention Association (ICCA) mostra que o Brasil é o sétimo país do mundo em número de congressos internacionais recebidos em 2008. O resultado mostra uma pequena melhora em relação ao ano anterior, em que o país havia ficado na oitava posição. Um outro número, no entanto, chama a atenção: São Paulo é, pela segunda vez consecutiva, a cidade brasileira mais procurada para eventos desse tipo, e pulou da 23ª para a 12ª posição no ranking mundial. O Rio de Janeiro ficou em segundo lugar no Brasil.

Os números causaram certo impacto no setor de turismo, hotelaria e eventos no estado do Rio. O Fórum de Desenvolvimento Estratégico conversou com representantes de entidades e especialistas no assunto para saber como interpretar esses dados e o que pode ser feito para reverter o quadro de estagnação na cidade.

Para Rosana Bety, vice-presidente da Associação Brasileira de Empresas de Eventos (Abeoc), o Rio de Janeiro sofreu um processo de acomodação nos últimos anos e os frutos estão sendo colhidos agora.

- Cidades como São Paulo e Salvador se modernizaram para isso, investiram pesado em instalações, infraestrutura. Enquanto isso, nós paramos. A única saída agora é unir forças. Temos de aumentar a rede hoteleira, diminuir o preço médio de hospedagem na cidade, que ainda é muito alto. Estamos convidando pessoas influentes e com poder de decisão para conhecer o que o Rio tem a oferecer, para que formem uma imagem positiva da cidade. É preciso mostrar que estamos preparados.

Para Bety, no entanto, esse é um trabalho que só dará resultado num futuro de médio prazo.

- Os eventos são decididos com muita antecedência. A praxe é que, em um evento, os presentes decidam qual será a sede de dois congressos à frente. Como normalmente os congressos acontecem de três em três ou de quatro em quatro anos, se nós revertermos agora a imagem do Rio, isso vai ter um impacto em seis ou oito anos.

Paulo Senise, superintendente do Rio Convention & Visitors Bureau (RCVB), defende que existem pontos estratégicos para os investimentos gerarem retorno.

- Para o  turismo, tão importante quanto o investimento na oferta hoteleira é o  desenvolvimento de ações do poder público em promoção  e marketing, tanto no mercado nacional quanto no internacional. Outra urgência é a reestruturação da malha aérea da cidade. É preciso conectar os voos diretos partindo do exterior para a  cidade, com  coerência de horários e destinos. Acho fundamental a revitalização do aeroporto Tom Jobim, porta  de entrada para os eventos de repercussão mundial.

Senise está de acordo com Bety quanto à necessidade de investimento em equipamentos.

- Também é muito importante a abertura de novos espaços para shows, feiras e  congressos. Um bom exemplo, já em andamento, é a revitalização do Armazém 2 do Cais do Porto, no Píer Mauá. Mesmo mantendo a estrutura de ferro, que veio da Inglaterra  e foi montada em 1906,  a construção foi totalmente restaurada e equipada com ar-condicionado central de última geração, banheiros novíssimos, e um impecável  piso de granito. É de iniciativas assim que nós precisamos.

O economista Mauro Osório, do Sindicato de Hotéis, Bares e Restaurantes do Rio (SindRio), acha que o investimento em pesquisas qualitativas é também fundamental.

- Existem dados muito curiosos a respeito do turismo e da realização de eventos na cidade. O turista que vem ao Rio invariavelmente adora e volta pra casa falando bem. Mas eu não quero saber o que pensa o turista que veio ao Rio. Mais importante é saber o que pensa aquele que desistiu de vir. Então é preciso fazer esse dever de casa: pesquisas detalhadas, levantamentos minuciosos sobre a imagem do Rio no exterior. E isso exige investimento.

A partir disso, Osório acredita que seria possível fazer um trabalho de construção positiva da imagem da cidade.

- A reação mais comum de quem decide vir ao Rio é de surpresa. As pessoas ouvem falar muito de violência e acham que vão encontrar uma situação muito pior do que aquela que realmente encontram. Então é preciso trabalhar essa imagem, divulgar o produto que é a nossa cidade. Temos de investir em folders, propagandas, divulgar informações positivas.