OsteRio: Conjuntura carioca, onde estamos e para onde vamos

Segundo encontro do evento apontou a aliança entre os três níveis de governo como resposta caminho de importante reação à estagnação política e econômica do estado

Rosa Lima 

“A foto do presidente Lula, do ministro Orlando Silva, do governador Sérgio Cabral e do prefeito Eduardo Paes, juntos, usando o mesmo terno e a mesma gravata, são o símbolo mais perfeito da nossa conjuntura política atual”, disse o cientista político Octávio Amorim Neto, durante a palestra que abriu, na noite desta segunda-feira, 4 de maio, o segundo encontro do OsteRio, na Osteria Dell´Angolo. O tema em debate era: Conjuntura carioca – onde estamos e para onde vamos?, e contou também com as participações do jornalista Merval Pereira, das Organizações Globo, e do economista Ricardo Paes e Barros, do Ipea. 

Professor e pesquisador da Fundação Getúlio Vargas, Amorim Neto se referia à fotografia publicada nos jornais do dia 1º. de maio, sobre a coletiva dada pelas autoridades brasileiras depois da sabatina com a comissão do COI, em prol da candidatura do Rio à sede dos Jogos Olímpicos de 2016. A aliança firmada entre as três esferas de governo, retratada ali, são, na visão do cientista político, a melhor resposta no momento aos problemas políticos estruturais do Estado do Rio. 

“Diante da impossibilidade de levarmos adiante uma reforma política por aqui, esse pacto de cooperação entre os governos federal, estadual e municipal são a única chance de vislumbrarmos um futuro mais promissor para o Rio, tanto a cidade quanto o estado”, disse Octávio Amorim.  

A afirmação foi embasada em sua interpretação da estrutura política fluminense, marcada, historicamente, por um altíssimo grau de competição eleitoral, por uma intensa fragmentação partidária e por uma baixa coesão entre as elites. “Falta-nos vertebração política. Isso resultou numa influência política decadente do Estado do Rio no plano nacional e numa excessiva dependência nossa do poder central. Daí a importância dessa concertação atual”. 

Com ele concordou Merval Pereira. “Nossa necessidade de aliança com o governo federal é a maior prova da nossa fragilidade política. São Paulo e Minas Gerais são governados por partidos de oposição, mas não são ignorados por causa disso, porque têm peso político e econômico. O Rio, apesar de ser uma das 20 cidades globais do planeta, tem uma política das mais provincianas do país”. 

Para o jornalista, vivemos num ciclo vicioso que nos impede de avançar em direção à modernidade. “Nossos governantes surgem como políticos modernos e acabam se aliando ao que há de mais retrógrado na política. Foi assim com Brizola, com Moreira Franco e com Garotinho. Cabral tenta fazer uma gestão mais moderna, moralizando as finanças, por exemplo. Mas tem um passado que o prende à política pequena. Seu grande desafio será não repetir o ciclo político decadente que o precedeu”. 

As reações da plateia deram a medida dos paradoxos do Rio, que precisam ser superados para que possamos progredir. Paulo Pinheiro, vereador pelo PPS, lembrou que o mesmo governador que ora comanda um importante processo de modernização da máquina pública se fez e deu sustentação à política pequena do baixo clero na Assembléia Legislativa. A socióloga Julita Lemgruber também chamou atenção para o caráter híbrido do governo, já apontado por Octávio Amorim. “Na área de segurança pública isso fica muito claro. Por um lado, ele investe numa política comunitária progressista, como se vê no Morro Santa Marta. Por outro, aposta no confronto com o crime e só é capaz de esclarecer 2% dos homicídios”.  

O economista Tito Ryff, por sua vez, acredita que a baixa qualidade dos políticos fluminenses não é uma característica exclusiva nossa: “Se não fizermos uma mudança drástica no sistema político eleitoral, terminaremos com uma enorme fragmentação partidária e uma coesão política cada vez menor”. Problemas que a vereadora Andrea Gouvêa Vieira identifica também na Câmara Municipal. “Temos 17 siglas partidárias que prejudicam muito o funcionamento da Casa. É um quadro que favorece as alianças mais espúrias”.  

Jovens sem perspectivas 

Os resultados dessa política pequena aparecem de maneira contundente nos nossos indicadores sociais. Como os apresentados por Ricardo Paes e Barros na área de educação. De acordo com ele, as perspectivas futuras para os jovens fluminenses não são nada animadoras. Se há 30 anos, éramos o estado cuja população tinha mais anos de estudo em toda federação, hoje já fomos passados para trás.  

Enquanto em São Paulo e Santa Catarina, dois terços dos jovens de 15 a 17 anos frequentam uma escola de Ensino Médio, aqui esse contingente não chega a 50%. “A diferença entre os mais pobres é ainda mais gritante. Nosso nível de desigualdade de oportunidades é absurdo. E está aumentando”, afirmou Paes e Barros.  

A situação se mostra ainda mais dramática quando se olha para o mercado de trabalho. Segundo o economista, o futuro de um jovem depende de sua capacidade de adquirir habilidades e de aproveitá-las produtivamente. “Hoje, vivemos no pior dos mundos no Rio de Janeiro: temos jovens mal educados e nos faltam postos de trabalho”. Enquanto a taxa de ocupação dos que tem 15 anos ou mais ultrapassa 70% em Santa Catarina, ela é de apenas 56% no Estado do Rio”. E a taxa de desemprego, que é de 10% no Rio, contra 5% em Santa Catarina, também atinge mais os pobres e os de pouca qualificação. 

Problemas que só fazem agravar nossas mazelas como favelização, informalidade e violência. Manuel Thedim, diretor do Iets, chamou atenção para o fato de que essas mazelas são, em grande medida, fruto de nossa omissão, como cidadãos. E Walter de Mattos Júnior, presidente do jornal esportivo Lance, falou da importância de pensarmos outras governanças para tratar as questões públicas, em que a sociedade organizada tivesse um papel mais preponderante do que o de mero eleitor.  

Fechando o encontro, o presidente da Light, José Luiz Alqueres, argumentou que essa governança será reconquistada no olho no olho, em debates como os que o Osterio está promovendo. “A ideia não é fazer crescer este grupo, mas que grupos como este se multipliquem pelo Rio. É desse Orkut presencial que sairão as soluções para o bairro e para a cidade”.

* O OsteRio é um encontro que acontece na Osteria dell'Angolo todas as segundas-feiras, às 20h, recebendo intelectuais, artistas, profissionais liberais, acadêmicos, políticos e o público em geral para discutir o futuro da cidade do Rio de Janeiro. O restaurante prepara cardápios especiais para cada um dos eventos. Para participar, basta se inscrever pelo email Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo..