Ajuste efetivo precisa de coalizão de toda a sociedade, afirma ex-ministro de finanças do Canadá

Durante debate realizado pelo Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI), nesta sexta, (15/01), na Associação Comercial do Rio de Janeiro (ACRIO), O ex-ministro das finanças do Canadá, John Manley, defendeu que para medidas impopulares de ajuste econômico sejam tomadas são necessários transparência e consenso. “Todas as medidas de corte precisam ser muito transparentes. O governo precisa deixar claro o tamanho real do problema e mostrar que está trabalhando. Não pode ser um projeto só do governo ou de partidos, e sim de toda a sociedade”, completou.

 

 Manley trabalhou no gabinete do então primeiro-ministro Jean Chrétien. Foi ministro da Indústria, de Relações Internacionais e das Finanças, além de vice-primeiro-ministro. Durante a primeira metade da década de 1990, o Canadá enfrentou grave recessão econômica: A dívida pública comprometia 70% do Produto Interno Bruto e o desemprego atingiu a casa dos 12%.

O ex- ministro contou que o ajuste começou em 1993, enquanto era ministro da indústria e sofreu também com os ajustes. “Tive meu orçamento reduzido em 50% além de ter que demitir boa parte da minha equipe, alguns inclusive eram meus vizinhos”, afirmou, acrescentando a dificuldade da escolha sobre onde cortar e a “necessidade de se perguntar se o que estamos fazendo não poderia estar sendo feito pela iniciativa privada.”, citando o caso da venda da Canadian National Railroad, que segundo ele foi vendida com retorno alto. "Muitos dizem que é a ferrovia com melhor performance na América do Norte."

Questionado sobre quais critérios eram escolhidos na hora de se aplicar uma política de ajustes, explicou: “Em políticas públicas, assim como em finanças, o ótimo é inimigo do bom, mas quando se tem pouco dinheiro temos que ficar apenas com o ótimo, apenas os programas sociais que considerávamos essenciais, principalmente os que atendiam os mais pobres foram mantidos."

Como o governo conseguiu apoio da sociedade e da oposição para realizar os cortes necessários, Manley explicou: “fizemos muita propaganda. Queríamos que a população entendesse que aquelas medidas eram para que a situação não ficasse ainda pior.”  Já a oposição, segundo o canadense, obteve as respostas que queria rapidamente. "Como conseguimos já em um primeiro momento reverter o quadro que era gravíssimo, a oposição percebeu a seriedade das propostas e apoiou”, completou Manley. O economista Winston Fritsch, um dos integrantes da equipe econômica que criou o Plano Real, fez um paralelo com a situação atual do Brasil. “Aqui o governo não consegue apoio do Congresso. Temos um sistema político confuso, com muitos partidos, o que dificulta chegar a um mínimo consenso", afirmou Fritsch. Ele ressaltou, ainda, o agravante de a presidente  ter sido eleita negando que houvesse crise, o que na opinião dele afastou a população.

Tanto Manley quanto Fritsch  defenderam que a equipe econômica precisa ter autonomia para fazer cortes. “Eu tinha total autonomia para dizer não e tudo que chegava ao presidente sobre a economia era encaminhado diretamente para mim”, ilustrou Manley. “Em geral os políticos não gostam de fazer 'dietas' nas finanças. Se quem cuida da economia não tiver autonomia, ficará sem força”, complementou Fritsch.

O ex-ministro encerrou o debate afirmando que “economia brasileira é muito mais competitiva do que a canadense.” E explicou: “Nossa economia é pequena e está envelhecendo rapidamente, vejo mais competitividade no Brasil, mas é preciso deixar o terreno preparado para isso, tendo coragem para reformas”,  completou.

Rafael Benke, presidente do Conselho Curador do CEBRI, foi o mediador do evento ao lado do Sanjeev Chowdhury, cônsul geral do Canadá no Rio de Janeiro.

(Texto de Vinícius Pereira)