14/10/2025

Câmara Setorial de Energia conhece projeto de datacenters da prefeitura do Rio

A Câmara de Energia recebeu nesta terça-feira (14/10), a Secretária Municipal de Ciência, Tecnologia e Inovação do Rio de Janeiro, Tatiana Roque, para conversar sobre o projeto Rio AI City, o maior complexo de datacenters da América Latina e um dos dez maiores do mundo, que está sendo construído no Centro Metropolitano, na Barra da Tijuca. Outra frente trabalhada pela prefeitura inclui a aquisição de um supercomputador, no Porto Maravalley, que vai receber também o programa Rio IA, hub carioca de inteligência artificial.

“O projeto envolve duas linhas, que a gente pode separar em hardware e software, digamos assim. Uma é o plano de desenvolvimento em infraestrutura, com datacenter e um supercomputador. A outra é um plano para que a gente tenha ferramentas de IA aplicadas à cidade e alguns setores da prefeitura, além do desenvolvimento econômico, fomentando ainda mais a área de inovação”, resumiu Tatiana.

A secretária defende que o investimento em datacenters e supercomputadores é uma questão de soberania nacional, permitindo que o Brasil desenvolva ferramentas de IA buscando a melhora dos serviços públicos, principalmente nas áreas de saúde, cidades inteligentes, com soluções inovadoras, sem depender de grandes corporações estrangeiras, principalmente no que diz respeito ao armazenamento de dados.

“A prefeitura também está se candidatando a receber o supercomputador pelo do Plano Brasileiro de Inteligência Artificial, que vai ser um dos top 10 ou cinco do mundo, mas isso não está decidido ainda, está nas mãos do governo federal. E, além disso, a prefeitura vai adquirir um supercomputador, menor no caso, para a utilização própria para desenvolver ferramentas para a cidade, em parceria com as universidades e centros de pesquisas. Para isso, estamos desenvolvendo um centro de excelência em inteligência artificial aplicado à cidade”, detalhou.

A ideia, segundo ela, é conseguir, por meio dessa infraestrutura, impulsionar o desenvolvimento de inteligência artificial e tornar o Rio um centro atrativo para as novas tecnologias numa articulação entre a prefeitura, universidades e centros de pesquisa e o setor produtivo.

Impactos dos datacenters

Uma das preocupações trazidas pelos membros da câmara de energia foi sobre os impactos ambientais significativos dos datacenters devido ao alto consumo de energia elétrica e ao uso massivo de água para resfriamento, que pode esgotar recursos hídricos locais.

“Inicialmente, o projeto começará com um datacenter de 300 megawatts e a proposta é que esta capacidade aumente, podendo chegar a 1,8 gigawatts. Para isso, será utilizada uma fonte de energia renovável fornecida pela Eletrobras, por meio de uma parceria”, explicou Tatiana.

O professor da UERJ, Rodrigo Reis, afirmou que a IA pode trazer muitos ganhos para o desenvolvimento do estado, com a geração de emprego e renda e soluções para os problemas das cidades, mas é preciso pensar também nos riscos envolvidos. Ele mencionou que muitos países da América do Sul e alguns estados norte-americanos já estão desmobilizando datacenters devido ao alto consumo de água como medida estratégica para mitigar o impacto ambiental.

“A gente tem outro problema sério que é a refrigeração dessas grandes unidades. E elas envolvem volumes imensos de água, deslocados para esses datacenters, que normalmente sai contaminada com óleos. Então, talvez tão grande quanto as fontes de energia renovável, a gente tem um desafio enorme de evitar o que está acontecendo em outras partes do mundo nessa temática, e pensar em quanto que isso pode encarecer a água dentro do município do Rio de Janeiro”, frisou Rodrigo.

Tatiana afirmou que essa é uma preocupação de fato e que soluções estão sendo pensadas.

“Esse é um problema complexo, uma externalidade negativa realmente do projeto, mas estamos fomentando o desenvolvimento do resfriamento líquido, que é uma solução utilizada no resfriamento do supercomputador do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), que não é feito por água, é reaproveitado e bem mais sustentável”, disse.

De acordo com ela, as externalidades negativas ambientais existem, mas a possibilidade de ter o controle e autonomia sobre os dados gerados, processados e armazenados no território, deixando de depender de países estrangeiros, compensam os riscos. Como exemplo, ela citou leis como a Cloud Act, dos Estados Unidos, que permite que autoridades estrangeiras acessem dados de cidadãos brasileiros armazenados em servidores de empresas americanas, mesmo que estejam fora dos EUA.

“Acho que a questão para o que vamos usar. Se for só o datacenter puro para gastar nossa energia renovável e nossa água, não vale a pena, realmente, mas não é isso. A ideia é ter o data center para um projeto de desenvolvimento e de soberania, que é igualmente importante nesse momento, ainda mais no mundo com a situação geopolítica em que a gente vive. O Cloud Act dos Estados Unidos diz que sistemas de nuvem de qualquer país, administrados por empresas americanas, podem ser acessados por a pedido do governo americano. Todos os dados brasileiros são administrados por sistemas de nuvem de empresas americanas. Então, eu acho bem urgente que a gente comece a desenvolver ferramentas soberanas para acessar nossos dados. Como se diz por aí, dados são o novo petróleo e 60% dos dados brasileiros estão em datacenters na Virgínia”, pontuou.

Regulamentação e o papel da Alerj no Rio AI City

Durante o encontro, os participantes perguntaram como a Alerj e o grupo poderiam contribuir para a questão e ressaltaram a necessidade de valorizar e fomentar o conhecimento e a pesquisa gerados pelo estado do Rio de Janeiro.

“A gestão do supercomputador da prefeitura vai ser feito por um consórcio que reúne UFRJ, CBPF, IMPA, PUC, mas ainda não temos representantes da UERJ e vocês podem indicar grupos de lá que trabalham com inteligência artificial porque queremos envolver todas as universidades e centros de pesquisas que trabalhem com o tema. Então, estamos fornecendo uma capacidade computacional de graça, paga pela prefeitura, para as universidades. Então, isso já é uma maneira bem interessante de fomento para o desenvolvimento das ferramentas de inteligência artificial, esse é o papel da prefeitura. Agora, claro que sou uma defensora da do fomento, do apoio às atividades científicas pelas agências de fomento, que são mais do estado e do governo federal. Aí tem a Faperj, Capes, CNPq.”, respondeu Tatiana.

Ao final da reunião, o subdiretor-geral do Fórum Permanente, Frederico Lima, sugeriu ao grupo uma nova reunião para aprofundar a parte técnica do Rio AI City. A proposta é convidar e um representante da Elea Data Centers, empresa responsável pela execução do projeto, para conhecer os detalhes da parte operacional na próxima reunião do grupo, no dia 13 de novembro, chamando também as Câmaras de Tecnologia e Desenvolvimento Sustentável.

A partir deste encontro, os membros pretendem criar um documento - que será encaminhado para a deputada Tia Ju – propondo a criação de uma linha de fomento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ) para grupos de pesquisa que queiram desenvolver soluções para a cidade utilizando o supercomputador.

Para saber mais, assista à reunião na íntegra no Canal do Fórum no YouTube
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