Consumo consciente

Nos últimos 40 anos a sorveteria americana Ben & Jerry´s fez muito mais do que apenas copinhos, bolos e picolés. Ela defendeu direitos LGBT, o casamento gay e o movimento negro Black Lives Matter, além de lutar contra a possível destruição de uma barreira de recifes na Austrália e se envolver nas discussões sobre a rotulagem de alimentos geneticamente modificados. "Com o surgimento dos millennials e a ascensão dos canais digitais e das mídias sociais, tomar uma posição tornou-se algo ainda mais importante. É o que trará lealdade à sua marca", defendeu certa vez Chris Miller, gerente de missão social e ativismo da sorveteria Ben & Jerry's. A próxima edição do programa Rio em Foco, que vai ao ar nesta segunda-feira, às 22h, na TV Alerj (Canal 12 da Net) comenta o caso da Ben & Jerry's e de outras empresas que estão se alinhando ao movimento global Sistema B: uma iniciativa que apoia e certifica negócios que podem ajudar a solucionar problemas sociais e ambientais.

No mundo todo existem hoje cerca de 2.800 empresas em 64 países certificadas como participantes do Sistema B. No Brasil são cerca de 140 empresas nacionais, sendo que 45 delas estão no Rio de Janeiro, estado que concentra o maior número de empresas participantes do movimento no país.  “Ser B é, literalmente, servir. Não é só gerar impactos positivos para a sociedade, que é papel do terceiro setor. Também não é só capitalismo. É você conseguir trazer o lucro, junto com o impacto positivo”, diz Carolina Aragão, CEO da Agência Somar, que tem o “Selo B” e trabalha o posicionamento de outras marcas que pretendem se tornar sustentáveis. Carolina foi uma das entrevistadas do programa, assim como o conselheiro do Sistema B Brasil e cofundador do Cidades Mais B, Tomás de Lara, e o gestor da comunidade B Rio, Pedro Teles.

Para se habilitar a ganhar o Selo B a empresa deve ir à página do Rio Mais B preencher a Avaliação de Impacto, um questionário sigiloso, gratuito e online, resultado da soma da ferramenta Quick Impact Assessment e dos Indicadores de Circularidade da Ellen Macarthur Foundation. “Após este diagnóstico das boas práticas ambientais e das que precisam ser melhoradas, as empresas passam para o laboratório, onde acontece uma colaboração multi-setorial entre governo, empresas, universidades e sociedade civil para desenvolver soluções em conjunto”, explica Tomás de Lara. O questionário serve também como uma espécie de ferramenta de gestão de desenvolvimento econômico sustentável, explicando quais passos as empresas precisam dar em áreas como Governança Corporativa, Meio Ambiente e Relações com a Comunidade, entre outras.

Tomáz de Lara explica que a certificação tem uma importância fundamental, que é confirmar para o consumidor que aquela empresa tem boas práticas sociais e ambientais. “De certa forma, é um chamado para que o consumidor saiba qual é o seu poder”, diz ele. “O dinheiro passa a valer como um voto, Daí eu voto com meu dinheiro que tal empresa continue na sociedade porque ela desenvolve valor integrado: social, ambiental ou de produto/serviço. Nós como consumidores e cidadãos temos um poder enorme de mudar nossa sociedade com compras mais eficientes”.

O movimento Sistema B abrange desde pequenas empresas como a Juçaí, que há cerca de quatro anos produz açaí orgânico na Serrinha do Alambari, em Resende, até a Unilever, um dos maiores grupos mundiais de bens de consumo. A Unilever tem buscado em sua estratégia de expansão comprar empresas B, que já nascem com o DNA do impacto social. Foi assim quando a empresa adquiriu o controle da Mãe Terra, empresa fundada em 1979 como um restaurante natural que vendia grãos e cereais integrais e hoje é a líder brasileira no setor de alimentos naturais e orgânicos.

O Rio mais B foi inspirado por um projeto de Nova York chamado “Best for New York City”. “A gente trouxe basicamente essa ideia de juntar todos os atores mais importantes da cidade para colaborar pelo desenvolvimento sustentável através das empresas”, diz Pedro Teles. O movimento carioca já inspirou pelo menos duas cidades da América Latina: o Santiago Mais B, no Chile, e o Mendoza Mais B, estado argentino que criou um inovador sistema que usa as compras públicas como instrumento impulsionador da sustentabilidade. A ideia argentina já está sendo adaptada para o Rio de Janeiro.  “A secretaria municipal de Planejamento está conversando conosco, participando da construção do projeto”, explica Pedro. “As licitações sempre foram feitas apenas por preço, e a ideia é que os gastos do governo têm de considerar as externalidades que eles geram. Daí existe este projeto que bebe da fonte de Mendoza, mas trazendo isso para a realidade do Rio”.

A partir de terça-feira, o programa estará disponível no canal do Fórum de Desenvolvimento do Rio no YouTube. Na TV Alerj, as reprises serão exibidas no sábado, às 17h, e domingo, às 20h.