Inclusão de pessoas com deficiência nas salas de aula ainda é desafio

Que metodologias e capacitações estão disponíveis para os professores trabalharem a inclusão de alunos com deficiência na sala de aula? Como sensibilizar as empresas que investem na aprendizagem a absorver esta mão de obra? Para os especialistas que palestraram na manhã desta terça-feira (02/10) na Escola do Legislativo, os desafios de cumprir a Lei Brasileira de Inclusão estão na falta de mecanismos que permitam aos professores recorrerem a ferramentas disponíveis que os ajudem a lidar com as múltiplas formas de aprendizagem e trocar experiências. "Temos que evoluir na implementação. Não temos ainda experimentos suficientes para dizer que é preciso rever a lei. E os desafios no dia a dia são grandes", avalia Patrícia Braun, professora adjunta do Instituto de Aplicação Fernando Rodrigues da Silveira (CAp-Uerj).

No evento promovido pela Câmara Setorial de Formação Profissional e Educação Tecnológica, quatro palestrantes ajudaram a compor um mosaico de desafios ao apresentarem publicações já disponíveis e utilizadas como base nas capacitações do Senai; os desafios da aprendizagem no Sest/Senat; metodologias que estão sendo aplicadas no CAp-Uerj no ensino básico e a importância da sensibilização das empresas para absorver estes jovens que, ao se capacitarem no programa Jovem Aprendiz, desenvolvem a capacidade de serem protagonistas de sua própria história. Segundo os palestrantes, é preciso pensar a inclusão de forma global, em todos os níveis de educação, além de ser necessária uma mudança de cultura escolar.

“A educação básica tem um papel fundamental de iniciar esse cidadão na sociedade para além do núcleo familiar. Então, um corpo docente de uma escola que tem esses processos de ensino e aprendizagem é a base para a formação desse indivíduo, que precisa de uma educação de qualidade para o seu desenvolvimento, explica Patrícia Braun. Para o coordenador de desenvolvimento do Sest/Senat, Edson Teixeira, trabalhar colocando o aluno no centro do processo gera uma verdadeira revolução na forma de capacitar os alunos e professores. "Temos percebido uma evolução enorme no aproveitamento dos alunos. Mas é uma mudança que leva tempo", ressalta.

Patrícia apresentou a metodologia do ensino colaborativo e a forma como ele é trabalhado no CAp-Uerj. “Não é o professor sozinho, nem a sala de recursos que vão prover a inclusão. A cultura escolar que nós temos traz a ideia de ter alguém para acompanhar esse estudante. Às vezes, a contratação desse alguém acaba excluindo em vez de incluir. Ao particularizar essa ação, ele acaba sendo tutelado. Já o ensino colaborativo prevê uma ação coletivo-didática de ensino, ressignificando quando necessário por conta da deficiência, mas de uma forma em que todos são beneficiados”, completa.

Durante a reunião, a analista de educação da Firjan/Senai Suzana Figueiredo abordou a metodologia aplicada pela instituição na formação e capacitação dos professores, e apresentou as publicações que registram esta metodologia: Desafios e Sugestões para Avaliação de Pessoas com Deficiência nos cursos de Educação Profissional do SENAI e Educação Profissional para Pessoas com Deficiência – um jeito novo de ser docente. "Esta segunda pesquisa foi muito interessante porque entrevistou alunos e professores de todo o Brasil para saber quais as suas expectativas. Enquanto os alunos com deficiência pediram paciência dos professores, os professores pediram capacitação", afirma Suzana.

No Brasil, o Senai é a instituição que mais capacita jovens com deficiência para o mercado de trabalho, sendo o Rio de Janeiro o segundo estado com maior número de inscritos, atrás somente de São Paulo.

“Não trabalhamos com alteração curricular para a formação de alunos com deficiência. O que há é uma adequação para transmitir o conhecimento. Queremos capacitar pessoas com deficiência para o mercado de trabalho com qualidade e não caridade. Então buscamos as potencialidades e competências de cada um. Trabalhamos a capacitação do profissional que vai conduzir as turmas de acordo com o perfil dos alunos e do curso escolhido, não temos uma formação dos instrutores que atuam em sala de aula pronta e fechada, porque são alunos diferentes, com históricos escolares diferentes. O que fazemos é conversar com o aluno e a família para entender principalmente quais são os seus interesses profissionais”, explica Suzana.

Para a coordenadora pedagógica da Rede Pró-Aprendiz Rio, Soraya Martins Carvalho, a maior mudança é quando as empresas que investiram na capacitação dos jovens, ao verem o resultado do processo, contratam além das cotas preestabelecidas. "O que percebemos com a nossa experiência é que mais do que formar jovens precisamos sensibilizar as empresas e mostrar que a diferença nos torna únicos em nossa trajetória. E a soma dessas trajetórias pode enriquecer o ambiente de trabalho", conclui.

Participaram do evento professores da secretaria municipal de Educação de Três Rios, do Cefet, da UERJ, da Faculdade Helio Alonso, da Universidade Estadual da Zona Oeste (Uezo), e do Senac. A próxima reunião da Câmara Setorial de Formação Profissional e Educação Tecnológica será no dia 27 de novembro. "Nesta data vamos consolidar nossos aprendizados acumulados ao longo deste ano, em que a Câmara se debruçou na questão da inclusão. E preparar um documento para que os deputados conheçam os desafios e as experiências destas instituições que estão fazendo acontecer", explica a subdiretora-geral do Fórum, Geiza Rocha.