Articulação entre instituições de ensino pode contribuir para alavancar o desenvolvimento do estado

A desconexão entre a oferta de cursos de formação profissional e nível superior no estado e as demandas do setor produtivo é um grande desafio a ser solucionado em prol da retomada do desenvolvimento fluminense. A elaboração de políticas que promovam o alinhamento dessa oferta às vocações regionais deve ser perseguida pelos gestores públicos. Um dos caminhos para reverter esse quadro, está na articulação entre as instituições públicas estaduais e federais sediadas no estado. A constatação foi feita durante o painel “O Papel da Educação no Desenvolvimento Econômico do Estado” realizado nesta quarta (25/04), no Auditório Senador Nelson Carneiro, da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro. A reunião fez parte dos encontros da Câmara Setorial de Formação Profissional e Educação Tecnológica do Fórum de Desenvolvimento do Rio, em parceria com a Comissão de Educação da Alerj.

“Falta diálogo entre as unidades federais e estaduais baseadas no Rio de Janeiro para se desenhar uma política educacional que tenha como base os arranjos produtivos regionais. A articulação entre as diversas instituições pode se transformar num elemento catalizador para a elaboração de um planejamento mais consistente e também num campo de pressão para preservação da educação como fator crucial para o desenvolvimento do estado”, afirmou o deputado Comte Bittencourt (PPS), presidente da Comissão.

Durante o encontro a professora Renata La Rovere, do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, apresentou os resultados de uma pesquisa que mostrou que o estado não possui uma oferta equilibrada de cursos de formação profissional que atenda às necessidades dos setores metal mecânico, farmacêutico, metalurgia, construção naval, petróleo e gás e bebidas, suas principais vocações industriais. “As condições de capacitação da mão de obra e sua contribuição para a indústria no Estado do Rio de Janeiro", financiada pela Faperj, mapeou as ofertas de ensino que atendem às cadeias produtivas selecionadas como prioritárias de acordo com o Valor de Transformação Industrial (VTI) no desempenho da economia industrial. O estudo atestou que não há correspondência entre oferta e demanda de capacitação nesses setores, com exceção da indústria farmacêutica.

“A instalação de indústrias em diversas regiões do estado, desperta o interesse dos jovens nas áreas relacionadas, porém, como não há oferta de cursos onde moram, eles vêm para a cidade do Rio, mas não retornam para o local de origem, pelo grande poder de atração da capital. A adequação entre a oferta e a demanda também é importante para promover o desenvolvimento sustentável, reduzindo necessidade de deslocamento da população que queira se capacitar”, analisou a professora.

Dando continuidade ao estudo, o Instituto de Economia da UFRJ se debruça agora  na análise do setor de serviços intensivos em conhecimento, que exigem qualificação. A caracterização da oferta de capacitação por meio da contagem de formandos de nível superior, já está concluída, enquanto a de cursos técnicos está em andamento. Em relação a formação superior, foi verificada uma concentração de empregos na capital e na região metropolitana e ainda que regiões que demandam muitos serviços, como Baixadas Litorâneas e Norte Fluminense, têm pouca oferta de capacitação.

“É natural que a demanda seja maior na capital e na região metropolitana, dado o peso dessas áreas, mas existe uma demanda desses profissionais também em outras regiões do estado, principalmente na região norte fluminense e baixada litorânea onde estão situados os setores de óleo e gás”, afirmou Renata. Arquitetura, engenharia, tecnologia de informação e pesquisa e desenvolvimento estão entre as principais áreas com demanda em serviços nessas regiões segundo o estudo.

Na reunião, também foi apresentado um estudo que apontou a correlação existente entre escolaridade e renda da população no estado. O “Atlas das Condições de Vida na Região Metropolitana do Rio de Janeiro”, reúne 112 mapas temáticos elaborados a partir de dados recolhidos do Censo Demográfico de 2010 do IBGE entre outros. A pesquisa apontou que quanto mais perto da orla, maior a escolaridade e renda da população, que fica basicamente concentrada na Zona Sul, Barra e Tijuca, com pior desempenho quanto mais se desloca em direção à Região Metropolitana.

“Talento não escolhe berço. Você tem pessoas talentosas em todas as classes sociais. Daí a importância da escola pública de qualidade para desenvolver potenciais, o que também exige professores bem remunerados. Quanto mais você se dirige para o entorno metropolitano ou para periferia maior essa disparidade”, explicou o professor Cesar Romero Jacob, um dos autores do Atlas. Cesar ainda destacou a existência de escolas particulares apenas onde há uma classe média com condições de destinar uma parte da renda à escolaridade dos filhos. “Nada menos do que ¾ da população da região metropolitana do estado recebe até dois salários mínimos, não permitindo o pagamento de uma escola particular. O quadro é mais dramático ainda porque em muitos desses locais a escola particular sequer existe”, completou.

O próximo passo agora é consolidar as informações da reunião e preparar um documento orientador para os gestores de políticas públicas sobre a importância estratégica de se buscar esse alinhamento.

“O que foi possível perceber aqui é que os dados produzidos pela academia permitem que a gente tenha uma visão territorial da educação no estado. Agora precisamos pensar de forma articulada como um passo importantíssimo para adequar a oferta e a demanda de cursos e alavancar o desenvolvimento do estado. O papel do Fórum é reunir esses atores para traçar estratégias que contribuam para avançar nessa questão”, concluiu Geiza Rocha, secretária-geral do Fórum de Desenvolvimento do Rio.

 Confira aqui a apresentação completa da professora Renata La Rovere e aqui o Atlas das Condições de Vida na Região Metropolitana do Rio de Janeiro.