Publicação que reúne trajetória de debates sobre legado dos megaeventos é lançada pelo Fórum

Mostrar os esforços empreendidos até o momento para a garantia de um legado social e econômico a partir dos Jogos Olímpicos, e o que podemos esperar para o futuro. Este foi o objetivo do II Simpósio Pierre de Coubertin, organizado pelo comitê homônimo, a UERJ, a Sport University of Beijing e a Universidade Santa Úrsula, que sediou o evento, nos dias 8 e 11 de agosto. O encontro reuniu especialistas brasileiros e internacionais durante dois dias para refletir sobre o custo das Olimpíadas, os investimentos que são realizados e que consequências foram observadas em outros países sede, como forma de construir uma responsabilidade conjunta no dia seguinte dos Jogos bem como definir temas que podem ser pesquisados pelas universidades. "As Olimpíadas já aconteceram, mas ainda vamos por muito tempo sentir os seus reflexos, e é a partir da forma que vamos nos comportar agora que podemos transformá-la em uma boa ou má experiência", alertou o consultor do Comitê Olímpico Internacional (COI), professor Lamartine Da Costa, um dos organizadores do encontro.

Para a subdiretora-geral do Fórum de Desenvolvimento do Rio, Geiza Rocha, o Rio de Janeiro viveu uma década de ouro, com a realização de uma sequência inédita de grandes eventos que culminaram com as Olimpíadas. "Havia um sentimento por parte de vários atores no estado de que era necessário reposicionar o esporte como ferramenta para o desenvolvimento local e isso ficou evidente numa série de ações desenvolvidas com a participação do Fórum", explicou ela, que lançou na ocasião uma publicação que reúne todos as matérias, estudos e programas de TV produzidos pelo Fórum desde 2011, que tratam do tema legado dos megaeventos esportivos (acesse a publicação clicando aqui).

O presidente do Conselho Federal de Educação Física (Confef), Jorge Steihilber, que dividiu a mesa com Geiza Rocha, defendeu a importância do profissional de educação física para a construção de um verdadeiro legado de promoção de saúde e bem estar para os cidadãos. “Temos a oportunidade de fazer uma campanha de incentivo à atividade física. Estamos com uma epidemia de obesidade e nada tem se falado sobre isso. O maior legado é combater o sedentarismo trazendo uma maior qualidade de vida”, ressaltou.

Autor de diversos estudos sobre a importância da gestão integrada na administração dos Legados Olímpicos, o professor do Instituto de Altos Estudos em Administração Pública (IDHEAP) da Universidade de Lausanne, na Suíça, Jean-Loup Chapellet ressaltou o papel do poder público na administração da herança deixada pelos Jogos Olímpicos. “Cabe ao Comitê Organizador dos Jogos entregar o evento, mas todo patrimônio que fica em mobilidade urbana e equipamentos esportivos são de responsabilidade do poder público que precisa planejar e focar no longo prazo se quiser preservar a herança deixada pelos Jogos”. Segundo o professor, o impacto dos jogos acontece num período de 12 anos, sendo que nos oito anos a partir da definição da cidade-sede, o maior impacto é o econômico e o ambiental, visto que reúnem os maiores investimentos em infraestrutura para a realização dos Jogos. Já nos quatro anos que se seguem aos dois meses de evento, são os impactos sociopolíticos os mais relevantes. “Os impactos são inegáveis quando há um investimento de 10 bilhões de dólares investidos em uma região específica. O que temos que analisar é se o gasto valeu à pena". Chapellet citou o caso da Grécia, em que apesar da crise econômica que abateu o país após os Jogos, “uma pesquisa realizada 10 anos depois mostrou que os gregos ainda tem uma sensação de bem estar em relação aos Jogos, e acreditam que eles valeram a pena", ressaltou.

Para a pesquisadora em inovação no esporte, Maureen Flores, a integração entre os diversos atores envolvidos na gestão do legado é fundamental. “Economias não desenvolvidas tem esta característica de fragmentação. As instituições não se comunicam quando se trata de políticas públicas e por isso os resultados acabam aparecendo de forma pontual e não estruturada. As Olimpíadas são uma oportunidade de os poderes se falarem mais”, ressaltou. Já o professor da COOPE/UFRJ, Maurício Rodrigues, defendeu a maior participação da iniciativa privada na gestão do legado olímpico “A população tem enorme desconfiança do uso do dinheiro público nestas situações, e temos diversos empreendedores querendo desenvolver o que ficar, mas precisamos desburocratizar para que isso aconteça.”

O evento contou ainda com a participação da doutora em Esportes, Carla Rocha, e da professora Branca Terra, da UERJ.Segundo levantamento realizado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, de 2010 a 2014, o Brasil disponibilizou mais de um milhão de dólares de recursos para fomento à inovação no esporte, que financiaram 147 grupos. "Precisamos reconhecer esse legado na área da ciência, tecnologia e inovação e aprofundar ainda mais a relação entre a universidade e as empresas para desenvolver produtos esportivos. Na UERJ estamos trabalhando para isso", anunciou.

Lamartine encerrou o evento ressaltando a importância de construir compromissos para o futuro. "O trabalho das universidades e dos especialistas presentes à este evento está apenas começando. Precisamos promover novos encontros e analisar os desdobramentos dos Jogos e seus impactos", disse.