Rio com pipoca e guaraná: Film Comission quer atrair produções

O estado do Rio de Janeiro agora tem quem o defenda como um bom lugar para a realização de produções audiovisuais. A nova Rio Film Comission, presidida por Steve Solot, vai não só divulgar o Rio no exterior, mas também fazer todo o meio-de-campo entre os estúdios e os serviços públicos necessários para que sejam feitas as filmagens. Fique por dentro.

Depois que as gravações de Titanic terminaram, as autoridades da aldeia de Rosarito, no estado mexicano da Baja Califórnia, não sabiam o que fazer com o tanque gigantesco que foi construído para filmar a sequência do naufrágio. Durante as gravações, foram movimentados 300 mil dólares por mês só de despesas telefônicas. No final das contas, o que era cenário foi usado pela Fox e pela Paramount, produtoras do longa, para construir um parque temático na aldeia. O estado do Rio de Janeiro também tem tudo para atrair produções do tipo e colher os dividendos econômicos trazidos pelo setor audiovisual, mas não tinha uma ferramenta para promovê-lo internacionalmente e atrair empresas cinematográficas para cá - até agora. Fruto de uma parceria entre a RioFilme e a Secretaria Estadual de Cultura, a nova Rio Film Comission vai não só divulgar internacionalmente as vantagens de usar o estado como locação, mas também fazer a mediação entre os grandes estúdios e os serviços públicos que costumam ser acionados durante as filmagens. "Se uma produção precisar, por exemplo, fechar a Avenida Rio Branco para filmar uma sequência, a Film Comission faz o meio-de-campo entre o estúdio e o Detran", explica o presidente da entidade, Steve Solot.

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Uma entidade do tipo é importante porque não é de hoje que o Rio atrai os olhares do cinema mundial, especialmente do cinema americano. A época mais representativa deste interesse é a década de 1930, quando o presidente americano Franklin Delano Roosevelt buscava uma relação mais amistosa com os países latino-americanos por meio da chamada "política da boa vizinhança", que incluía a integração cultural como um dos seus pilares. É dessa época o filme Uma Noite no Rio, estrelado por Carmem Miranda, responsável por vender no exterior uma imagem do Rio - e do Brasil, portanto - associada à alegria.

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Só que esse interesse apenas não é suficiente para um estúdio vir filmar aqui. As grandes produções cinematográficas são, antes de tudo, um negócio e fazem parte da chamada indústria criativa. Segundo levantamento feito pela Firjan, essa indústria é responsável por quase um quarto dos empregos formais no estado (23,1%). Por isso, é preciso que o Rio de Janeiro  ofereça vantagens comparativas em relação a outros lugares. "Hoje, por questões cambiais é mais barato filmar na Argentina, mas, como o câmbio não é controlado por nós, podemos oferecer outros tipos de vantagens", defende Solot. Uma dessas vantagens é que a Film Comission fluminense é um balcão único, o que diminui a burocracia, enquanto Buenos Aires tem a film comission municipal, a estadual e a nacional. "Isso dificulta as coisas para o estúdio, que não sabe quem procurar", explica Solot. Entre outras vantagens oferecidas, ele destaca uma bonificação de 5% sobre o valor do orçamento do filme e o fundo Rio Global, que vai oferecer três milhões de reais para produções que mostrarem uma imagem positiva do estado. Para ele, o Rio Global é uma solução interessante, porque promove o uso dos filmes para divulgar o estado sem censurar roteiros, ajudando a combater os estereótipos recorrentes relativos ao Brasil. "Não vamos censurar quem quiser abordar temas como pobreza ou narcotráfico, mas oferecemos esse benefício para quem promover uma imagem positiva do estado", argumenta o presidente da entidade. Além disso, Steve Solot traz a experiência executiva e administrativa de quem foi vice-presidente para a América Latina da Motion Pictures Association (MPA): "Vamos implantar melhorias no atendimento. Para isso, contamos com uma equipe pequena, mas eficiente, fluente em inglês".

A primeira podução a contar com apoio da Rio Film Comission é "Rio, eu Te Amo", da franquia Cities of Love, que deve estrear em 2011.A franquia já foi rodada em Paris e Nova York e será filmada ainda em Jerusalém. O próximo alvo é o diretor nova-iorquino Woody Allen, que graças a incentivos locais já rodou três filmes em Londres e um em Barcelona, cuja prefeitura ofereceu patrocínio. A atitude do cineasta rendeu acusações do blogueiro de cinema do jornalão britânico The Guardian, Stuart Heritage, de que Allen filma onde quer que paguem seu preço. Apesar da polêmica, não resta dúvidas dos benefícios em termos de imagem que o filme de um grande diretor rodado aqui pode trazer. "Nada está confirmado, mas o produtor dele já veio ao Rio colher informações e se encontrar com o prefeito e o governador", afirma Solot.